Orgulho em Madrid
Domingo de manhã em Madrid. Deixei o hotel para encontrar uma cidade fantasma e semi-embriagada. No dia anterior, a convocatória para o Europride chamara às ruas um milhão e meio de pessoas. Muita pluma e convicção, política e alegria de mãos dadas, uma grande nação LGBT. "Então que fazes na vida?", ouvi um homem dizer a outro, ambos abraçados a caminhar pela avenida da grande urbe. Ainda se ouviam tambores e já chegara a hora dos respigadores que Agnés Varda tão bem retratara, a recolher beatas e restos de álcool em garrafas abandonadas. Desci para o Metro e fechei os olhos para rever a imagem de dois outros homens na marcha, com uma criança que passava do colo aos ombros, mimada com cremes solares, iogurtes, bolachas e carícias no cabelo. Revi outros beijos e gritos de revolta, nesse grande rio de gente que desaguou na Plaza de España. O avião devolveu-me melancólico ao Porto e ao reinício dos trabalhos.