Sinais de tensão

Um dia recebo um folheto indescritível na caixa do correio, com imagens de fetos retalhados e discursos obscuros e contraditórios sobre a importância de votar não (sei que não vai ser o último, já me estou a preparar para este tipo de mimos); decido colocar um autocolante pelo sim na lapela e circular com ele no meu local de trabalho, dispondo-me aos olhares inquisitórios dos ´meus adultos`; no final do dia consulto o e-mail, ligo o messenger e comento o meu mal estar. O meu interlocutor confessa-se indeciso e eu desespero. Se até este não está convencido, penso, é sinal que estamos longe de poder estar seguros. Tento-me conter e empenho-me num esforço de desconstrução. Apercebo-me que a informação existe e circula, mas esbarra numa postura de avestruz: se esconder a cabeça, não vejo o que se passa e portanto o que se passa é nada. Do lado do 'não' já perceberam há muito o alcance político do referendo e como ele ultrapassa o campo estrito da IVG, balizando as decisões futuras sobre a condição das mulheres e da população LGBT. Eles já mobilizaram o seu armamento e a campanha nas igrejas foi reforçada (na verdade nunca foi interrompida). Vou pensando sobre o perigoso que é deixar que matérias como esta sejam referendáveis, mas sobretudo interrogo-me sobre o que fazer com um país que vota contra a dignidade dos seus próprios cidadãos.

1 Comentário:

  1. Anónimo disse...
    É preciso saber que a “Carta à minha Mãe” que andou a ser distribuído nos infantários do Centro Paroquial da Anunciada em Setúbal é um atentado à inteligência e tem país pois é da responsabilidade da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, da Associação Católica dos Enfermeiros e Profissionais de Saúde, dos Centros de Preparação para o Património – CPM Portugal e das Equipas de Nossa Senhora, conforme se lê no folheto.

    E entretanto sabe-se que estas organizações católicas são coordenadas ao mais alto nível pelo patriarcado, conforme está seu próprio site:

    http://www.patriarcado-lisboa.pt/vidacatolica/vcnum20/3_13_DocVigGer_distrib_trab_%20Bispos_e_Vig_gerais.doc

    Vê-se que é o próprio Cardeal Patriarca que coordena as Associações dos Médicos e dos Enfermeiros e que é o D. Tomaz da Silva Nunes que tem a responsabilidade dos Centros de Preparação para o Matrimónio e das Equipas de Nª Senhora.

    E lembro que pertence à Associação dos Médicos o tal dr. João Paulo Malva e aos Cursos de Nª Srª o Fernando Santos, duas das estrelas da Plataforma do Não, e aí companheiros entre muitos outros do Alexandre Relvas, António Bagão Félix; António Gentil Martins; António Lobo Xavier; Luis Nobre Guedes; Maria José Nogueira Pinto;
    Nuno Morais Sarmento; Nuno Rogeiro; Teresa Venda; e da Zita Seabra!

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