O mundo do caimão
Um amigo residente há quinze anos em Itália preveniu-me que o mais provável era o novo filme do Nani Moretti não ter grande aceitação no nosso país, em parte por conter uma abordagem política radical mas sobretudo porque lidava com uma realidade e acontecimentos especificamente italianos (o caso Berlusconi). Não poderia estar mais longe da verdade. O 'Caimão' é de uma pertinência universal, e qualquer pessoa deste país poderá estabelecer links de leitura com nosso próprio contexto: a mediatização da realidade, a mercantilização dos serviços públicos, a corrupção, o vedetismo político, e, talvez mais do que tudo, a desagregação do pensamento crítico e a letargia da esquerda, mais empenhada em conservar do que em empenhar-se numa transformação que inclua novas causas (talvez não seja por acaso que o filme inclui um casal de lésbicas). Um mundo novo precisa de um novo olhar, e o cinema de Moretti tacteia por aí, de forma inteligente, num registo muito sui generis - diria cómico-agressivo, mas o registo dramático-pessimista também está lá - que sempre foi o seu. Um arejo cerebral.
1 Comentário:
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- Rita Oliveira Dias disse...
4:46 da tardeAinda não fui ver, já "Abril" me vingou algumas angustias, como se aquele desabafo fosse tambem meu, "-D'Allema reage..diz qualquer coisa de esquerda...".Onde está a esquerda que somos?