Cartas de Iwo Jimo


No cinema, cada vez vou mais pelos valores seguros. E também porque algo feito por um homem com tanta história na sua pele como Clint Eastwood, a quem chamam o último dos clássicos (com tudo o de vago e ideológico que isso acarreta; afinal, quem vão ser os clássicos em 2050?). Ou seja, alguém cuja vida na verdade se confunde com a evolução do cinema norte-americano (e não só, foi dirigido por grandes do cinema italiano como Sergio Leone mas também Vittorio De Sica)nos últimos 50 anos, tendo-se tornado um repositório (inclusivamente físico) desse legado. Em "Cartas de Iwo Jimo", vê-se que aprendeu bem a lição e que se tornou ele próprio um mestre (como já em Bird, Caçador Branco, coração preto, Um mundo perfeito , As pontes de Madison County ou mesmo Million Dollar Baby). É um filme negro e violento, como uma ferida exposta cauterizada a fogo. A ferida é a própria herança ideológica da vitória sangrenta dos EUA sobre o Japão no final da II Grande Guerra. O cenário é abstracto como a própria guerra, a loucura pontuada por visões de areias negras e grutas intermináveis onde os japoneses resistiram mais de 40 dias à infinita superioridade bélica do adversário. O paroxismo é acentuado por uma ausência de enquadramento explicativo. As vítimas estão de um lado e do outro das trincheiras, e, como em todas as guerras, o inimigo são as ordens de superiores sempre ausentes, o que faz deste filme uma bela e singular balada pela paz.

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