AI
(obrigado Esteva)
Etiquetas: cidadania
Publicado por Major Tom - quarta-feira, julho 04, 2007 à(s) 09:07 1 comentáriosOrgulho em Madrid
Domingo de manhã em Madrid. Deixei o hotel para encontrar uma cidade fantasma e semi-embriagada. No dia anterior, a convocatória para o Europride chamara às ruas um milhão e meio de pessoas. Muita pluma e convicção, política e alegria de mãos dadas, uma grande nação LGBT. "Então que fazes na vida?", ouvi um homem dizer a outro, ambos abraçados a caminhar pela avenida da grande urbe. Ainda se ouviam tambores e já chegara a hora dos respigadores que Agnés Varda tão bem retratara, a recolher beatas e restos de álcool em garrafas abandonadas. Desci para o Metro e fechei os olhos para rever a imagem de dois outros homens na marcha, com uma criança que passava do colo aos ombros, mimada com cremes solares, iogurtes, bolachas e carícias no cabelo. Revi outros beijos e gritos de revolta, nesse grande rio de gente que desaguou na Plaza de España. O avião devolveu-me melancólico ao Porto e ao reinício dos trabalhos.
Na casa dos sorrisos
"- Já agora, queres ver o resto do sítio?"
O sítio era uma casa de acolhimento para vítimas de violência doméstica. No final de uma rua sem saída, batido pelo primeiro Sol de Verão, fica este casarão recuperado e ampliado com um átrio de onde se ouve a petizada numa pequena arena com saibro e os vestígios de uma relva que alguém começou. Conheci a lavandaria comum, salas de estar e corredores com uma luz arquitectónica, e depois a pequena cantina, onde ainda almoçavam algumas retardatárias com sorriso generoso. Uma delas agarra-se à minha cicerone com um abraço demorado e infantil e oferece-lhe uma maçã. Conheci também a cozinheira e o periquito (outro náufrago, entrou por uma janela e por ali ficou). Há uma pequena sala com cadeiras e um quadro, para reuniões ou sessões variadas. Contra a minha relutância, fui encaminhado para os quartos. Vivem ali 12 mulheres e 13 crianças, cuja presença justifica um pequeno exército de assistentes sociais, psicólogos e auxiliares, que amparam, encaminham e monitorizam. A reduzida lotação está preenchida. As outras, que conseguiram reunir força para chegar ali, terão que esperar que a vida lhes arranje outra forma de tomar rédea ao destino. São as refugiadas da macho-latinidade, e nos olhos sinto que estudam a minha presença. Ali já se forjaram amizades e as crianças percorrem os colos disponíveis. Prometo a uma delas, de caracóis ensarilhados, um postal que substitua a curiosidade devotada aos meus papeis. Mas já é o mundo lá fora, aquele que um dia ela vai ter que enfrentar, que me chama para outros afazeres.
Etiquetas: cidadania
Publicado por Major Tom - quinta-feira, abril 26, 2007 à(s) 22:08 0 comentáriosRancière e o contemporâneo
"As desventuras contemporâneas do pensamento crítico", segunda parte do ciclo de conferências de Serralves, começou com um atraso que evocava já algumas desventuras da contemporaneidade (a greve nos aeroportos franceses impediu o ilustre orador de chegar atempadamente). Refiro-me à nossa dependência do que Giddens bem designou de sistemas periciais (essas estruturas que nos permitem voar a sete mil pés de altitude ou falar com um desconhecido em Tóquio com uma webcam, mesmo sem fazer a mínima ideia de como tal é possível).
Com Jacques Rancière, fomos introduzidos na tentativa de demonstração da possibilidade de um pensamento crítico nos dias que correm, ainda que contra os vaticínios trágicos e contra-producentes de uma esquerda melancólica, nostálgica das suas conquistas. Se os eventos que se sucederam a 1989, com o colapso da União Soviética, se traduziram no final de uma oposição entre democracia e totalitarismo, podemos agora sustentar que o ‘inimigo’ (se o entendermos como o alvo do pensamento crítico) reside no âmago das democracias liberais, que parecem querer confirmar o triunfo do capitalismo. O entendimento do que é igualdade deve lido a esta luz: trata-se aqui de uma igualdade de acesso ao consumo, e não já como a atribuição de direitos de cidadania.
O pensamento crítico pode regressar assim às suas interpretações iniciais, que lidavam com a tensão entre ideias de emancipação, tal como evocadas nas clássicas tertúlias platónicas.
Para Rancière, a democracia deve ser o exercício político dos que não tem lugar (os n’importe qui), ou seja, os que ficaram sempre de fora de uma estratificação criada pela detenção de conhecimentos, títulos ou capital no acesso à pollis.
A visão de uma contemporaneidade em que todos os conceitos duros ou ideologias se dissolveram, correspondendo a uma imagem de modernidade líquida (impermanente), retoma de certa forma o pensamento marxiano (“tudo o que é sólido se desfaz no ar”). Neste cenário, o pensamento crítico, que outrora estava ao serviço da emancipação e capacitação dos desapossados, parece agora servir apenas o empowerment de uma elite intelectual (Rancière numa tirada repleta de sentido de auto-irrisão).
Contudo, o "ódio à democracia", ou seja, o cerco montado de ataques ao conceito de democracia que questiona permanentemente a sua validade no quadro de pensamento contemporâneo, pode ser firmemente contradito por uma pressuposição básica: a da igualdade intelectual potencial das pessoas, essa capacidade de pensamento que se tem traduzido em manifestações de combate crítico (manifestações, movimentos de mobilização, etc), que são respostas cabazes aos que percepcionam o indivíduo como um receptor passivo e estupidificado pela avalanche de mensagens e estímulos visuais do mundo contemporâneo.
Etiquetas: cidadania, investigação
Publicado por Major Tom - sexta-feira, abril 13, 2007 à(s) 13:43 0 comentáriosTrans-power!
Uma bela foto de Carla Antonelli, transexual activista que há 30 anos tem batalhado aqui no país vizinho pelos direitos da população 't', aqui retratada como leoa das Cortes para a capa da edição de Março da revista Zero. Este ano bem pode ter razões para estar contente, com a aprovação em Espanha da lei de identidade de género, documento que possibilita doravante que qualquer cidadão possa aceder sem obstáculos à alteração da sua identidade de género em termos formais. No nosso país, a realidade da população transexual é ainda bastante desconhecida e alvo de múltiplas descriminações e incompreensões (incluindo da parte do próprio movimento LGBT). Não existe um enquadramento legal do processo de transição identitária, pelo que o indivíduo que pretenda fazê-lo se depara com um conjunto de obrigações de procedimentos que fariam as tarefas de Hércules parecerem um simples campeonato de caricas. A ILGA publicou no início deste ano um documento que sintetiza de forma bastante clara o diagnóstico e reivindicações fundamentais para que também estes cidadãos possam ver reconhecidos os seus direitos como pessoas plenas, e desta forma combater na realidade a profunda e inadmissível discriminação de que são alvo, a prova mais irrefutável de que o regime de género (e sexualidade) dominante é uma das formas mais brutais de dominação. A hora 'h' já começou. Agora está na hora 't'!
Marramao e o contemporâneo
Impelido pela curiosidade de ouvir um filósofo de primeira linha ao vivo e a cores, e no meu dialecto preferido, fui assistir à primeira conferência do ciclo "Crítica do Contemporâneo" da Fundação de Serralves. Giacomo Marramao, o ilustre orador, veio-nos falar sobre a necessidade de repensar a modernidade, esse grande chapéu da filosofia política actual. Começou por coleccionar argumentos contra o previlégio do pensamento ocidental, construído a partir da matriz grega até à actual hegemonia norte-americana, uma ocidentalização, tão técnica como espiritual, que não deve ser confundida com a modernização (esta caracteriza-se antes pelo processo de secularização).
Para pensar a política actualmente, é preciso perceber a emergência de uma 'política universalista da diferença', sendo esta 'diferença' (no singular) uma questão de ângulo, de olhar sobre a realidade.
Avançou então com várias teses, observações e interrogações:
- a falácia da pós-modernidade ou globalização enquanto etapa oposta à anterior, quando na verdade assistimos também a continuidades e a ruptura reside essencialmente na tensão entre uniformização e diferenciação;
- o 'curto circuito do glocal': o anel intermédio entre o local e o global - o Estado-nação - encontra-se em crise (em termos qualitativos, uma vez que em termos quantitativos se assiste ainda um 'boom' de novos Estados), crise que reside no facto de esse mesmo Estado se revelar demasiado pequeno face às dinâmicas do mercado global e, por outro lado, demasiado grande face à multiplicação dos apelos e à diversidade do local; a glocalização funciona assim como uma 'tenaz' sobre os próprios Estados;
- assistimos à consolidação de um duplo modelo: o cosmopolitismo dos pobres e o simultâneo localismo dos ricos (podemos localizar no mapa-mundo as regiões mais ricas);
- os conflitos mundiais possuem uma dimensão materialista, indubitavelmente, mas eles são cada vez mais também conflitos identitários (vindo as religiões, por hipótese, ocupar o lugar deixado livre pela hegemonia do pensamento ocidental);
- incomensurabilidade e comparabilidade das culturas: sendo o relativismo cultural uma forma de olhar as culturas (e não um modelo ético), o facto de não podermos considerar um único critério de leitura da(s) realidade(s) deve impedir a sua comparação e confronto?
- a própria visão do ocidente e oriente como realidades homogéneas e opostas entre si é parte integrante de um olhar ocidental sobre o mundo (olhar que não existe no oriente), e que tenta estabelecer uma outra polarização fundamental: entre a primazia do indivíduo e a primazia da comunidade enquanto princípios de organização social.
Curiosamente, para Marramao, a filosofia volta a lidar com as mesmas interrogações da sua própria origem. Simplesmente a esfera pública já não é a dos cidadãos da pólis, mas é a dos nómadas e dos migrantes, e o espaço da política reside entre o Estado e os indivíduos. Não vivemos uma crise mas sim uma pluralização de valores, valores que cada indivíduos transporta consigo como se de múltiplas vozes se tratassem: não no sentido esquizóide, como na personagem d'"0 Exorcista", mas antes como resultado dos múltiplos encontros de culturas, definindo a singularidade individual que demarca o primeiro patamar da diferença. Para este italiano, devemos pensar numa 'ontologia da contingência', como resultado frágil mas nobre das nossas vivências (é de mim ou tudo isto é um pouco queer?).
Um debate deste género, como sublinhou, pode ser mais um exemplo do ambiente de experimentação que já fervilha nas cidades europeias, onde já se pode vislumbrar uma lógica de horizontalidade (do diálogo), que as instituições europeias (verticalizantes) não conseguem reproduzir.
Que outras conversas se sigam.
Etiquetas: cidadania, educação, investigação
Publicado por Major Tom - sexta-feira, março 30, 2007 à(s) 00:46 3 comentáriosCidadania Global
Podemos começar por assinar aqui.
Etiquetas: cidadania
Publicado por Major Tom - quinta-feira, março 08, 2007 à(s) 21:50 0 comentáriosDizem eles. dizemos nós
"Diferente entre diferentes: orientação sexual e deficiência". Ou como se sobrepõem exclusões, num debate promovido pelo GRIP.
Dia 3 de Março, às 15h.
Etiquetas: cidadania, desenhos, LGBT
Publicado por Major Tom - sexta-feira, março 02, 2007 à(s) 23:37 1 comentáriosSIM!!!
Cancelem as vossas viagens para fora do país! Parem de enviar currículos para o estrangeiro! A democracia ganhou! A verdade ganhou! As mulheres ganharam! Vale a pena ir para as ruas! Vale a pena recolher assinaturas, debater, insistir, informar, reclamar! Vale a pena acreditar num futuro diferente, na justiça e na diversidade! Agora sim, vamos às leis, vamos às escolas! Mãos à obra, que neste país ainda há esperança!
Etiquetas: cidadania, desenhos
Publicado por Major Tom - domingo, fevereiro 11, 2007 à(s) 21:16 4 comentáriosPela dignidade das mulheres, vota SIM
Etiquetas: cidadania
Publicado por Major Tom - sexta-feira, fevereiro 09, 2007 à(s) 14:09 0 comentáriosOu SIM ou sopas!
Hoje ao entrar no carro para regressar a casa depois do trabalho reparei num papel colocado entre o vidro e o limpa-brisas. Abri o papel e li o recado: começava com um elegante "És um aborto!", seguido de considerações sobre o modo como eu tinha estacionado. Decidi só tomar em consideração a primeira parte uma vez que desde que me lembro sempre coloquei o automóvel no mesmo sítio e nunca houve considerandos de qualquer espécie. Presumi que o/a autor/a do recado estava, isso sim, incomodado/a com o postal do 'Sim' que eu tinha colocado no vidro traseiro ou, possivelmente, por me reconhecer, a mim e às minhas posições, do local onde trabalho, que é um espaço público (esqueci-me de falar no autocolante na lapela?). Achei que o momento ilustrava bem o que se tem passado nas últimas semanas, mas também um certo tipo de confronto de mentalidades que vem de longe. De um lado, os movimentos organizados a partir da sociedade civil pela despenalização, pela liberdade de escolha, pela informação esclarecida, pela igualdade de direitos e deveres perante o Estado; do outro, as forças conservadoras, a estrebuchar para manter os seus mecanismos de dominação simbólica, usando como estratégias a intimidação, a desinformação, a hábil manipulação da ignorância e a apropriação ideológica de valores que na verdade nunca foram seus (nunca vos atiraram à cara que eram anti-democráticos por defender o 'sim' e rebater o 'não'?). De um lado o respeito pela mulher e uma concepção informada do contrato social; do outro, a mentira covarde (querem mais exemplos do que as fotografias de fetos retalhados que me têm chegado à caixa de correio ou esses cartazes escandalosos com bebés e mães enternecidas?), a arrogância e a prepotência de quem conhece bem a sua influência e quais as estratégias para a manter.
É um dever de cidadania não ceder, votar e assumir uma posição pública pelo sim.
PS: alguém me arranja mais uns cartazes para eu colar no carro?
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Publicado por Major Tom - quinta-feira, fevereiro 08, 2007 à(s) 13:15 4 comentáriosDiversidade não é para todos
Quando o tema diversidade vem à baila, mesmo em contextos académicos, é inevitável surgir uma associação imediata à questão da imigração. Raramente o discurso ultrapassa essa fronteira simbólica definida pelo Estado-nação, o que parece resultar de dois pressupostos implícitos:
- primeiro, a identidade, por via da cidadania, é definida de forma determinante pela pertença nacional;
- segundo, a nacionalidade, a nossa e a dos que decidem imigrar, é una e como tal monocultural.
Sinto sempre que não apenas a ficção da identidade nacional sai reforçada nesses momentos, reproduzindo estereótipos sob a capa da tolerância e da generosidade, mas sobretudo não se colocam outras cartas na mesa, que impliquem no mesmo patamar de leitura outras formas de exclusão como as que se baseiam, por exemplo no género ou na orientação sexual. Para evitar à partida este enviesamento ideológico, a ideia de nacionalidade terá que começar a ser lida como o resultado da diversidade, e não como o seu alvo indefeso. Estaremos preparados para tal revolução coperniciana?
Sinais de tensão
Um dia recebo um folheto indescritível na caixa do correio, com imagens de fetos retalhados e discursos obscuros e contraditórios sobre a importância de votar não (sei que não vai ser o último, já me estou a preparar para este tipo de mimos); decido colocar um autocolante pelo sim na lapela e circular com ele no meu local de trabalho, dispondo-me aos olhares inquisitórios dos ´meus adultos`; no final do dia consulto o e-mail, ligo o messenger e comento o meu mal estar. O meu interlocutor confessa-se indeciso e eu desespero. Se até este não está convencido, penso, é sinal que estamos longe de poder estar seguros. Tento-me conter e empenho-me num esforço de desconstrução. Apercebo-me que a informação existe e circula, mas esbarra numa postura de avestruz: se esconder a cabeça, não vejo o que se passa e portanto o que se passa é nada. Do lado do 'não' já perceberam há muito o alcance político do referendo e como ele ultrapassa o campo estrito da IVG, balizando as decisões futuras sobre a condição das mulheres e da população LGBT. Eles já mobilizaram o seu armamento e a campanha nas igrejas foi reforçada (na verdade nunca foi interrompida). Vou pensando sobre o perigoso que é deixar que matérias como esta sejam referendáveis, mas sobretudo interrogo-me sobre o que fazer com um país que vota contra a dignidade dos seus próprios cidadãos.
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Publicado por Major Tom - quarta-feira, janeiro 17, 2007 à(s) 05:43 1 comentáriosEntre invicta e augusta II
Voltei a Braga para um colóquio sobre sociologia da educação. Os minhotos parecem apostados em levar lá toda a gente que lhes permita aprender algo de novo. Desta vez, um peso pesado: o argentino Carlos Alberto Torres. Infelizmente cheguei tarde, apenas a tempo de o ouvir falar da importância de questionar o conceito corrente de cidadania, presente no título do encontro, e da necessidade de 'ouvir' os novos movimentos sociais, os mensageiros de um novo modelo ético e moral, assim como de interligar teoria e experiência no percurso do conhecimento. Tudo para, como disse citando Paulo Freire, ajudar a criar um mundo onde seja mais fácil amar (nada mais cativante para ouvir no início de uma manhã chuvosa). Depois ainda ouvi a Luiza Cortesão, que amadrinhou algumas sessões interessantes no meu mestrado, a reafirmar que devemos caminhar para encontrar uma justiça cognitiva, pré-requisito essencial se quisermos pensar a sério em qualquer ideia de justiça social. Para ela, isto implica pensar a educação com olhos diferentes, alertas ao daltonismo cultural que tem atravessado as nossas salas de aula, ou seja fornecer uma cultura operacional, sem esmagar as raízes culturais e conhecer a realidade através de uma prática, ainda que tacteante, de investigação-acção.
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Publicado por Major Tom - quinta-feira, dezembro 07, 2006 à(s) 21:30 0 comentáriosArmem por favor as armas do amor*
Perfeito para quem se desculpa com o tempo que demora. Disponível para já na África do Sul, aceitam-se sugestões para uma versão nacional: Tá a andar, Semp'a abrir, Bora lá, Já está, E mai nada...
* Sérgio Godinho
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Publicado por Major Tom - sexta-feira, dezembro 01, 2006 à(s) 11:25 2 comentáriosIr dizendo
Da indizibilidade do ser até à vontade de dizer algo vai às vezes uma pequena mas eloquente distância. Nestes dias de interregno, aconteceu-me a fase final da malfadada formação para renovação do CAP (essas extraordinárias inutilidades burocráticas que obrigam meia dúzia de tipos a aturarem-se uns aos outros durante 60 horas e no final irem jantar juntos para simular uma cumplicidade inexistente).
Também aconteceram duas belíssimas sessões do Cinanima, esse injustamente olvidado festival de cinema de animação que acontece anualmente na cidade de Espinho, onde se percebe que o cinema precisa urgentemente de novas linguagens, com a furiosa inteligência criativa destas pequenas obras-primas.
Começou a circular um abaixo-assinado para a criação de um movimento pelo sim no referendo sobre o aborto, onde surpreendido encontrei o nome da Agustina Bessa Luís como signatária. Faço correr o dito e abro discussões onde pousa a folha.
O Ministério da Educação decide tornar público e oficial o alargamento do processo de reconhecimento e validação de competências ao secundário. Apreensivo, estudo os documentos e interrogo-me sobre a capacidade dos próprios certificadores mediante os critérios apresentados.
A terminar a semana, uma visita por convite a um dos novos espaços de 'realidade paralela' urbana do século XXI: os grandes ginásios urbanos. Entrei, experimentei uma ou duas dessas modalidades com nomes ingleses, pacotes de exercícios repetidos resultantes do mix de várias modalidades já existentes, patenteados e franchisados às novas catedrais onde se presta culto a corpos já suficientemente tonificados. O espaço é agressivamente concentracionário; todos os movimentos são controlados por cartões, fechaduras, códigos, inscrições em modalidades; somos conduzidos por setas, instruções, circuitos e uma música enjoativa e omnipresente. Nas sessões grupais, um tom de uníssino que me põe desconfortável.
Respiro fundo. Porque hoje é sábado.
Bota feriado
Enquanto forma de celebração ou mecanismo de manutenção da memória de um colectivo social, os feriados nacionais valem o que valem. No nosso país, o peso atribuído às efemérides católicas diz bastante da violência monocultural que continua a vigorar num Estado supostamente laico.
Proposta pessoal para nova agenda de feriados:
A manter:
- o 25 de Abril
- o 1º de Maio
A eliminar:
- todos os outros em vigor
A acrescentar:
- 1 de Janeiro (novo ano, novas resoluções): dia do ambiente
- data a definir: dia da luta contra a pobreza e a exclusão social (uma temática específica designada anualmente)
- oito de Março: dia das mulheres
- 1 de Dezembro (a escolha da data evocaria simbolicamente a refundação do país segundo uma nova premissa): dia da mestiçagem cultural
- 28 de Junho: dia do cidadão gay, lésbico, bissexual e transgénero
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Publicado por Major Tom - quarta-feira, outubro 04, 2006 à(s) 14:01 11 comentáriosEnergia de activação, pró bem da nação
Sempre me pareceu coerente perspectivar a acção humana como o resultado da capacidade do sujeito agir, condicionado por estruturas que balizam e condicionam essa acção. Os cientistas sociais não são consensuais nesta matéria. Para uns as estruturas são determinantes, para outros, pelo contrário, tudo é construído pela interacção dos sujeitos. Na sua permanente procura de sínteses, Giddens concebeu uma dualidade da estrutura, em que esta de certa forma constrói a acção do sujeito, mas por seu turno é transformada pelo próprio sujeito dotado de agência (nem tudo é negrume no reino da Sociologia). Mas que pensar de situações em que todas as condições parecem estar reunidas para que algo aconteça, mas não acontece? O sujeito é cego? Ou carece daquela energia de activação de que me falava um amigo, explicando-me o porquê de não praticar desporto? É o mesmo que explica que um mestrado não ate nem desate ou que um país não ponha em prática a liberdade que conquistou?
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Publicado por Major Tom - terça-feira, setembro 05, 2006 à(s) 09:24 0 comentários