Bons ventos e bons casamentos
















E pronto, finalmente lá foi aprovado o tão polémico projecto-lei que permitirá daqui a 15 dias que todos os espanhóis se possam casar! Depois de tanto alvoroço por parte dos meios eclesiásticos católicos e das pessoas mais conservadoras, lá foi aprovada a lei que tantas alegrias vão proporcionar a muitos "chicos" e "chicas" espanhóis. Até eu fiquei com uma enorme vontade de me casar! :) Vamos todos a Madrid celebrar??

The yoga experience


Benvindos à casa do yoga. Aqui pode-se fazer tudo menos falar do que se passa lá fora. Deixem as preocupações num cabide à entrada, e tentem concentrar-se naquela tomada de electricidade que está ali ao canto, pensando apenas na sua forma e cor. Abstraiam-se. Depois façam do corpo um pedaço de plasticina e moldem-no consoante as indicações. Abstraiam-se ainda mais. E respirem como nunca tinham respirado na vossa vida. Evitem olhar para o pão do monitor, mesmo que ele esteja a olhar-te nos olhos fixamente a três centímetros de distância, para te explicar os princípios do yoga, quando se aperceber que és um novato, e mesmo que te ofereça um sorriso doce e luminoso de cinco em cinco minutos. Saiam devagarinho e tentem reter a sensação, pelo menos até pegar no carro e mergulhar novamente no rebuliço da cidade e dos pensamentos. Benvindos à casa do yoga. Voltem sempre.

"Que é meu irmão, que é que tens?"

Ainda influenciado pela semana solitária, e pela excitação da marcha, sucumbi a um mood melancólico. Claro que ajudou a chuva que cai desde ontem à noite por estas bandas. Ponho-me a pensar e é no que dá: balanços de vida e projecções de futuro. Fico a pensar sobretudo em quem será mais verdadeiro: este eu mais sisudo e perplexo ou o outro do dia-a-dia, que mal para para agarrar o pensamento. Sei que sou uma combinação dos dois, mas sei sobretudo que devo tentar ler as minhas inquietações, sobretudo as que me fazem colocar em causa o meu percurso profissional e as minhas opções de vida. Tenho um medo terrífico da acomodação, de me esquecer de procurar desafios que me façam superar a mim próprio. Enfim, é aquele medo até de ter medo, de que fala o Sérgio Godinho. Talvez esteja apenas a precisar de férias...
Logo, pelo menos, consolo-me, com o jantar de aniversário de uma das pessoas mais mágicas (vocábulo adquirido recentemente por vias vimaranenses...) que tive o previlégio de conhecer nos últimos anos: yep, a minha sogra.

Um quase pop quiz


Simpaticamente desafiado pelo Nuno, o derradeiro Resistente Existencial, cá vai a resposta a um pequeno inquérito musical que tem andado a circular na blogolândia:

1. Tamanho total dos arquivos do meu computador
Beats me. Confesso a minha incapacidade para fazer downloads musicais (o que conto resolver brevemente).

2. Último disco que comprei

"From the Lion's Mouth" - The Sound

3. Canção que estou a escutar agora

"Sparring partner" - Paolo Comte (mentalmente)

4. Cinco discos que ouço frequentemente ou que têm algum significado para mim

"The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars" - David Bowie
O primeiro e inesquecível encontro com as guitarras de Marte e sobretudo o encantamento com o Sr. Moonlight.

"Les Creatures" - Katerine
Uma pop estranha e inteligente, com um pé no jazz e outro na desconstrução da chanson française.

"My life in the bush of ghosts" - David Byrne e Brian Eno
A electrónica na sua essência. E no seu melhor.

"Saporo" - Keith Jarret
O único som melhor do que o silêncio é o deste piano. E vem do Japão.

"Tender Pervert" - Momus
Melodias e produção escandalosamente simples e caseira, para o conjunto de letras mais sexualmente explícitas de toda a história da pop.

Sorry, não vou lançar o repto a outros bloggers, primeiro porque me parece que corria o risco de já terem respondido, e segundo porque eu próprio tive alguma resistência a responder a este (podiam ser não sei quantas outras as escolhas, obviamente...).

Mar, sol e muito descanso...


Fez ontem uma semana que eu e a minha amiga Teresa embarcamos na aventura de passar uma semana por terras italianas. Destino: cidade de Alghero, na Sardenha.
Tudo começou com uma pesquisa feita no site da Ryanair. O objectivo era encontrar um lugar onde pudessemos visitar sítios bonitos e celebrarmos o começo do verão, tudo isto a preços modestos. E de facto encontramos isso em Alghero; um clima fantástico, água do mar transparente e tépida, um agradável centro histórico e alojamento a preços modestos. Ficámos alojados numa caravana (roulotte) do camping La Mariposa, bem juntinho das praias de S. Giovanni e Maria Pia, e a quase dois quilómetros do emaranhado de ruas bem antigas do centro da cidade. Recomendo a caravana nº. 6, um modelito azul que até ganhou um prémio de melhor caravana no ano de 1978! :)
Ficarão para sempre gravados na minha memória os banhos de mar nas praias de Alghero e, sobretudo, na Spiaggia de La Pelosa, em Stintino! Também tragos boas recordações do passeio de barco até à Grotte di Nettuno, do passeio até ao fundo do mar da Riviera del Corallo, dos pôr-do-sol na praia, das nossas conversas e risos, dos gelados artesanais, das noites de lua cheia, dos peixes e outros animais marinhos...
Ainda deu para fantasiar uma "paixonite" de verão por um belo ragazzo italiano, de seu nome Dário (?), que dormia com o seu namorado na tenda que estava ao nosso lado.
Nos tempos mais próximos acho que não vou conseguir comer massa!!
Amanhã é que vão ser elas... Como vou conseguir trabalhar? Parece que já me esqueci de como se trabalha! Isso já faz parte de um passado longínquo... Preciso de me concentrar nas férias de Setembro! Quinze dias que prometem ser fantásticos! Será que este desejo desmedido por férias significa insatisfação e desejo de mudança? Já o Variações dizia "Muda de vida se tu não estás satisfeito...". Ou talvez não passe mesmo de um delírio resultante do calor que apanhei nestes dias. :)

Marcha LGBT: não finja que não vê!


FOnte: Portugal Gay.PT

Sem fotos, fiquei 'apenas' com as imagens e impressões que consegui captar na minha cabeça. Foram duas horas intensas e inesquecíveis. Fiquei orgulhoso de pertencer a este movimento, e senti-me parte integrante de uma grande, brilhante e ruidosa lição de democracia, descendo na avenida baptizada de Liberdade. Segurei a bela faixa do GRIP, gritei palavras de ordem, cantei, fiquei sem voz e recuperei-a. Encantei-me com o vigor guerreiro das Panteras Rosa e as suas magníficas caudas, e com a pujança sedutora das drags.
Num cruzamento mágico, veio ao meu encontro uma voz familiar, que acompanhei durante metade do percurso, com previlégio a conhecer finalmente e transportar uma das estrelas do evento: a fantástica Francisca ;-) (o piscar de olhos é para ti, patusca). Bem, seguramente será fácil encontrar elaborações mais ou menos pessoais do evento um pouco por todo o lado. A verdade é que nestas coisas, por estranho que pareça, é difícil ter uma ideia do conjunto, do impacto exterior, mas a receptividade dos transeuntes pareceu-me, regra geral, bastante acolhedora.
À noite, ainda um saltinho para espreitar o Arraial no Parque do Calhau, após uma verdadeira odisseia kafkiana às voltas com o caminho, que me fez ficar piúrso por me ter feito faltar a um compromisso associativo! A visão da multidão, inacreditavelmente maior do que a presente na marcha, impressionou-me de imediato. Mas fiquei apenas com esse primeiro impacto, eram horas de recolher os passageiros e abalar de volta para casa, desperto com o som doce das conversas entre amigos.

A febre dos irmãos Veloso


Pois é. Noite de São João e eu em casa com a cabeça a ser cozinhada por quase 39 graus de febre. Logo hoje que eu pensava poder matar saudades da noite tripeira... chuif. Bem, enquanto todos vocês se divertem, tencionava falar para o ecrã sobre a minha paixão pelos manos Veloso. Mas de repente perdi toda a vontade, e só me apetece que regresse o meu Venus. Sim, ainda por cima dei folga ao enfermeiro esta semana! Se ele voltasse, então sim, falaria do impacto daquele outro corpo brasileiro, franzino e moreno, daquela voz que me arrepiou com a frase "Ele me deu um beijo na boca", no primeiro álbum que saquei (não da net, na altura a fonte eram as prateleiras dos pais dos amigos) com o mano Caetano na capa. Também diria que na altura levava a sério todas as suas palavras, mesmo as que mais tarde reconheci serem irónicas ou mordazes e bem humoradas. Se tivesse vontade, iria descrever também a forma mágica como descobri a voz da Maria Bethânia nuns auscultadores emprestados, em plena Serra do Gerês e em pleno momento de enamoramento platónico pelo meu melhor amigo, e também da forma como se entregava aos registos ao vivo, com a diva, magra, cabeluda e moreníssima, a encenar toda e cada uma das frases que cantava, frequentemente fora do tom (but who cares!) e intercalando as músicas com textos do Fernando Pessoa. Também sublinharia que nos dois o que mais gosto é a fusão da cultura popular brasileira, a intervenção política, e a noção livre da sexualidade, que reconheço não estar presente em toda a sua produção. Mas enfim, sobre os manos Veloso ainda surgirá oportunidade um dia para discorrer.

"Do the Chameleon!"


Costumava identificar-me bastante, só cá para mim, com a figura do camaleão. Era um pouco aquela ideia que o Woody Allen explorou no hilariante Zelig: um homem com um carácter tão inseguro e de personalidade tão volátil que logrou desenvolver a capacidade de se transformar nos personagens dos quais se aproximava, mesmo fisicamente: junto de uma comunidade de judeus ortodoxos, crescia-lhe automaticamente uma barba, junto de muçulmanos, surgia vestido de túnica e a recitar de cor o Corão, aproximando-se de pessoas obesas, começava imediatamente a inchar como um balão, com índios, desenvolvia uma tonalidade de pele avermelhada e era vê-lo a fumar alegremente uma cachimbada. Enfim, penso que perceberam a ideia. A particularidade do filme reside no seu embuste: trata-se um documentário totalmente ficionado, cuja acção de desenrola nos anos 20, tendo sido utilizados inúmeros truques que permitiam revestir as imagens de verosimilhança (alternância de imagens reais de época, envelhecimento propositado da película, etc.).
Quanto a mim, ficava-me pela mimetização de tiques e expressões, como um riso ou uma frase recorrente de alguém, ou mesmo pela imitação de um gesto (já para não falar das roupagens com que me ornamentava...) ou a conversão aos gostos de outrém. Era um processo subreptício (ou reptilíneo?) que rapidamente me colocava numa situação garantida de afinidade. Achava eu.
Qual o meu espanto quando o malvado réptil ressurge na minha vida, em plena dinâmica de grupo numa aula, como símbolo da minha preocupação educativa central. Nos tempos que correm, contudo, atribuí-lhe um significado bastante diferente. A ideia era recorrer a processos simbólicos e plásticos para traduzir a nossa principal preocupação educativa. Pensei de imediato na ideia de que a identidade de alguém se transforma necessariamente consoante os contextos, sem deixar de se manter ela própria, não obstante. O desafio seria, como tal, criar condições para que essa diversidade se pudesse exprimir de forma livre ou agenciada. O camaleão é-o pela sua capacidade de mutação constante, é aí que reside o seu perfil identitário. Então sou reservado e introspectivo num sítio, alegre e expansivo noutro, sério e autoritário uns dias, incapaz de organizar um simples dia de trabalho, noutro, cheio de pluma num bar e macho man num colóquio internacional.
Sim, e depois?

Amor Combate


O nome de um poema do Joaquim Pessoa. Expressão perfeita na sua síntese. É o que vamos ver Sábado em Lisboa e nestes dias um pouco por todo o mundo com as marchas LGBT. A fusão da pedagogia dos afectos e da contestação, a reivindicação mais pura, desinteressada e necessária que todos devíamos ter em mãos nos tempos que correm.

A incompletude dos patos


Incompletude: a expressão é usada pelo 'Papa' Boaventura de Sousa Santos para traduzir a necessária complementaridade de que se revestem as relações sociais. É uma palavra bonita e eu também penso nela quando me apercebo de como a minha vida está estruturada em função de uma relação a dois. Nestes dias em que não estás, tenho dificuldade em organizar-me, em reverter em actos os pensamentos. Faz-me pensar no caos que se segue aos fins dos casais, como se repente o mundo fugisse debaixo dos pés. Numa fuga ao torpor domingueiro em que tinha mergulhado, liguei a uma amiga e em tempo recorde (já estava em cima da hora) pus-me à porta do cinema. Vimos a Temporada dos Patos, de Fernando Eimbecke. Um filme com uma poética singular e que faz uso da divisa 'menos é mais'. Poucos personagens, economia narrativa e de espaço (tudo se passa dentro de um apartamento e apenas em 3 espaços, cuja divisão se revela fulcral em termos da acção: a sala, a cozinha e a casa de banho. Uma pequena lição de cinema e de vida, sobre o crescimento e sobre o 'toque' humano, que conta com duas metáforas fundamentais: a dos cartuchos numa cartucheira (são como as oportunidades, não as podemos desperdiçar); e a dos patos em migração: o voo em V significa que os patos que vêm atrás beneficiam do voo dos que vão à frente, porque estes rasgam o ar. Quando um pato da dianteira se sente cansado, recua para a traseira do grupo, e logo é substituído. Quando está exausto, é escoltado por dois patos, que o acompanham até se recuperar... ou morrer.

Pequenas resoluções num mês de Junho


- hei-de experimentar finalmente uma sessão de Yoga com o planeta Ju;
- hei-se comprar a já muito adiada compra de uns óculos subaquáticos com tubo de respiração e umas barbatanas, para me mudar de vez para o fundo do mar;
- hei-de participar pela primeira vez, ao fim destes anos todos, na marcha LGBT de Lisboa;
- hei-de deixar de olhar fixamente para o catálogo de Verão da Calzedonia;
- hei-de conhecer a Francisca;
- hei-de comer de novo sardinhas na noite de São João, para celebrar o início oficial do namoro, há seis anos atrás (vou sentir a tua falta, cachucho...);
- hei-de voltar a dançar uma noite inteira seguida ao som mais quente que conseguir encontrar;
- hei-de passar a ser sempre fiel à autoria das imagens que publico que não são minhas (esta por exemplo vem daqui);
- hei-de arranjar aqueles fantásticos marcadores e voltar a desenhar;
- hei-de deixar de adiar o já demasiado protelado prazo de entrega do trabalho de Socioantropologia da Educação;
- hei-de ler pelo menos metade da Teoría Torcida, do Ricardo Llamas, e pegar finalmente num romance;
- hei-de gravar por fim uma selecção de 16 horas de música para ouvir no leitor de MP3, se conseguir aprender como é que isso se faz;
- hei-de morrer de saudades;
- hei-de voltar...

Da boca do leão


Não, não vou começar uma nova rúbrica dedicada aos álbuns da minha vida. Mas SE começasse, este trabalho dos The Sound não ia faltar, e está bem presente porque o apanhei numa belíssima reedição num cantinho da Fnac (meu deus, que saudades da Tubitek...). Não me importa que me chamem revivalista e que me achem agarrado ao passado. From the Lions Mouth é de 1981, não o ouvi quando saiu, naturalmente, mas parece ter sido feito de propósito para mim, que o encontrei quase 10 anos depois. A banda aparentemente nunca teve grande sorte nos seus intentos, o que a torna ainda mais especial e ´minha´. O vocalista, Adrien Borland, decidiu por fim à sua vida, atirando-se de um comboio em 1999. A sua esquizofrenia era totalmente verdadeira em dois pontos: eram realmente negros os tempos que se avizinhavam ("New Dark Age", a faixa que fecha o álbum, era inteiramente 'inspirada' na subida ao poder de Thatcher); em segundo lugar, o que ele fazia era brilhante e foi mesmo ignorado.

Não canto porque sonho



Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
teu sorriso puro,
a tua graça animal.

Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho.

Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
ao vê-los nus e suados.


Eugénio de Andrade (musicado pelo Fausto)

A morte e o ego

Como diz uma amiga especial, as mortes são sempre aos pares. Já quando morreu o Arafat, faleceu no mesmo dia a Dona Miquinhas. Agora, o Álvaro Cunhal e o Eugénio de Andrade. Tinham levado a sua vida em pleno, e deixaram a sua marca indelével. Faz-me pensar na minha própria passagem neste planeta. Para me recordarem tenho, no mínimo, que fundar um partido político fundamental ou revolucionar a poesia contemporânea do nosso país. Admitamos que não é tarefa nada fácil. A propósito disso, confesso que tenho constantemente a sensação de criar nas pessoas expectativas excessivas em relação a mim próprio. Não consigo perceber de onde vem o equívoco, mas tenho a forte suspeita de que a culpa é toda minha. Lamento desiludir todos os que cairam no logro, que foi inconsciente, but I'm just a simple guy a tentar levar a sua vida o melhor que pode.

PS: os afagos no ego continuam a ser benvindos.

Anne Bancroft. RIP


Do rosto à voz, do corpo à alma da interpretação, entre as grandes estava entre as maiores no meu olimpo pessoal. Anne Brancoft. Imaginava-a para além dos seus filmes, como se pensasse, sempre que via alguma personagem forte interpretada por outra actriz, cómica ou trágica: ela seria capaz de o fazer muito melhor, ela tornar-se-ia aquela personagem. Dizem que no teatro não ficava atrás. Para recordar: os papeis em A Primeira Noite, O milagre de Anne Sullivan ou a mãe torturada de Corações de Papel, a tentar compreender o mundo pelos olhos do filho gay. Desapareceu, e ficamos um bocadinho mais orfãos.

O corpo transcendente


É engraçado este coisa do nosso corpo e das nossas relações com ele (digo no plural porque nem nós somos sempre os mesmos nem o corpo é uma realidade estática). Há uns anos atrás, por exemplo, nunca me teria imaginado a fazer nudismo no meio de uma multidão. Era uma daquelas coisas que ficam cá entrenhadas: praia nudista é coisa misteriosa e obscena. Também me recordo perfeitamente das minhas primeiras aversões ao toque, com uma tia que insistia em me massajar de cima a baixo. Acho que percebi aí a fronteira entre o "sim, sim, sim" e o "não, não, não" que devemos ouvir do nosso interior quando estamos numa situação destas, para aprender a distinguir um abuso, como vi num pequeno e simpático filme de animação na Associação do Pleaneamento da Família. Só bastante mais tarde consegui perder alguma reactividade instintiva ao toque, e deixei de parecer um coelho acossado sempre que alguém se aproximava ou me fazia uma simples carícia no cabelo. Sei que ainda hoje preciso de trabalhar este pudor se me quiser entregar de forma mais aberta a uma amizade mais corporal (não estou com isto a dizer que não tenhamos as nossas legítimas fronteiras de intimidade), mas estou grato a todos aqueles que me ensinaram que o corpo faz parte de mim, e como tal também o devo pôr em comunicação com o mundo (por muito estranho que isto agora de repente me soe...).
(claro que este post é um pretexto óptimo para fazer regressar um corpo bonito ao blog, que tem andado com um aspecto um pouco sisudo. a cortesia veio daqui)

Memórias de celulóide: Profundo Vermelho


Profondo Rosso, de Dario Argento. Totalmente ambientado em Turim, uma das cidades mais místicas do planeta, a acreditar na quantidade de referências dos que alinham no ocultismo, a história penetra neste cenário de uma forma simbiótica. A cidade esconde algo, um terrível segredo que todos parecem partilhar menos o protagonista. É um gosto de eleição pessoal, mas partilhado por muito boa gente que lhe ergue o culto, incluindo Quentin Tarantino, que no seu último filme roda uma sequência inteira alla Argento (a sequência no hospital em que a personagem Elle Driver está prestes a assassinar uma Noiva ainda insconsciente). As soluções visuais e sonoras são quase sempre diferentes de tudo o que circula no cinema internacional (e não me refiro apenas ao cinema de terror, que lhe deve imenso), excessivas, operáticas e barrocas. Tenebroso e macabro, com este senhor, passaram a ser elogios.

Maninha


Nutro uma paixão enorme e por vezes angustiante pela minha irmã, não pelo facto de ser irmã, mas por ter querido crescer comigo, e por se esforçar constantemente por me entender. Eu sei que a paixão é sempre este acto egoísta que nos leva a depender de quem gosta de nós. É uma espécie de precisão mútua. Sempre achei que ela convivia com as pessoas erradas para a sua sensibilidade, demorei a compreender o seu fascínio pelo desporto. Uma das coisas que mais nos ligou (e liga ainda hoje) foi a leitura daqueles livros que eu, presunçoso, lhe fui oferecendo, emprestando ou recomendando ao longo destes anos, aquilo que eu pressentia ser o alimento para saciar um espírito curioso e sensível que não se sabia assim. Penso sinceramente que os livros a ajudaram a perceber que o mundo não era só aquela paisagem baça e conformada em que ela sempre escolheu viver, no olhar arrogante e confortável de onde me coloco, direccionado para esta mulher balzaquiana, professora, mãe de duas crianças, de um marido e de um lar que lhe bebem todas as energias.
Maninha, o nosso amor não está naquelas páginas do Somerset Maugham?

Destino... paraíso!





Ai que estes três meses vão custar a passar! A ansiedade é tanta!! Vamos entrar em contagem decrescente até 3 de Setembro... :)

Ciência do lixo


A propósito disto de investigar e de brincar às ciências sociais, tivemos hoje uma aula sobre análise de conteúdo. Como de costume, iam-me surgindo metáforas visuais para os tópicos abordados (é um vício de que não me consigo desligar). Lembrei-me, a propósito de fazer o texto falar, ou seja, da necessidade de construir categorias a priori para analisar os objectos, daquela cena n' O Nome da Rosa, em que uma folha de papel aparentemente inócua escondia, escrita a tinta feita à base de sumo de limão (se não me falha a memória), um texto verdadeiramente importante para o desenrolar da intriga. As palavras ocultas apenas emergiram, contudo, aproximando da folha um pouco de lume, tal como o investigador 'ilumina' o texto com as suas categorias de análise. A segunda comparação visual foi mais curriqueira. Ocorreu-me, a propósito ainda da ideia das categorias que se constroem previamente e onde vamos encaixando as unidades de análise, a imagem de um aterro que visitei. A ideia de conhecimento como reciclagem de outros conhecimentos e criação de algo novo também se parecia encaixar como uma luva. Dizia eu, no aterro, num pavilhão gigantesco, uma equipa de mulheres com ar muito concentrado separava o lixo proveniente de descarregamentos de eco-pontos no topo de um tapete rolante sob o qual se alinhavam vários contentores de vários metros de altura, cada um destinado a um tipo de lixo distinto: os papeis, os garrafões de plástico, as latas, as sacas, e por aí fora. Ocorreu-me também que, tal como o investigador, também aquelas senhoras se terão deparado muitas vezes com um tipo de lixo diferente e pensaram: 'hmm, aqui já marchava era outro contentor!'

Marcha LGBT


Só faltam 3 semanitas, e como é depois do feriado de São João, o melhor é marcar já na agenda!





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