La petite mort


Um ex-marinheiro falou-me dos seus anos no mar, de como era bom navegar na costa da Guiné e olhar as estrelas ou fundear na costa dos Açores (enquanto soldados americanos das Lajes abarcavam para engatar os seus grumetes?). Parece que em alturas de tempestade no alto-mar, os barcos da marinha, concebidos para por ali andar mesmo com tanta água de mau presságio a inundar o convés e o pensamento, são incapazes de ir ao fundo. Por mais cambalhotas que dê, o casco volta sempre a ficar para a baixo e a torre de controlo para cima. Depois de uma grande vaga (que pode ultrapassar os doze metros de altura), a proa ascende em direcção ao céu, e depois dobra a onda, iniciando uma descida provocada pelo seu próprio peso. Nesses segundos seguintes, a única coisa que se vê é o mar. Por todo o lado, não se vislumbra outro espaço que não seja o oceano e a sua promessa de abismo.
O orgasmo dos homens é para os franceses 'la petite mort'. Poderá ser isto o seu equivalente naval?

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