O amor científico


A ciência nunca teve (e não o tem seguramente agora) pejo de entrar no corpo pela sua orgânica, e aí não nos poupou à descrição minuciosa dos fluídos, dos órgãos, das células, ou, mais recentemente, dos códigos genéticos. Mas quando se retoma o corpo como veículo da alma e das suas emoções, aquilo que nos transporta de um a outro é matéria na qual a ciência tem, prosaicamente discursando, atolado. Se retirarmos algumas esforçadas tentativas de esmiuçar o dilema (como a de Descartes no célebre Tratado das Paixões da Alma), o que temos é um reinado onde, entre outras, as coisas do amor não entram, ou, se quisermos, entram pela porta das normas e dos regulamentos sociais, neles se deixando banhar, provocando a submersão do corpo como objecto de desejo, e a sua emersão como mero objecto de estudo e controle anatómico, psicológico ou social. É este ainda o ponto da situação, em pleno início de milénio, e nele derraparemos até que corpo e ciência ganhem coragem para se olhar nos olhos e confiar no futuro, com paixão na razão e razão na paixão, misturando e dissolvendo, entre outras coisas, as barreiras que as têm separado.

1 Comentário:

  1. Randomsailor disse...
    As mentes continuam demasiado pequeninas, Major Tom...

    (mas as coisas também já foram piores) :)


    Fica bem!

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