Falkenau, o impossível


Não viram nada, não ouviram nada, não sentiram nenhum cheiro. Eras estas as palavras dos habitantes de Falkenau, uma pequena aldeia checoslovaca, que viveram durante anos a escassos 15 metros de um dos inúmeros campos de concentração ('campos de trabalho' era a verdadeira designação) onde centenas de pessoas eram torturadas e entregues à fome até à morte. Samuel Fuller, então militar num dos poletões americanos nesse tão próximo Maio de 1965, tinha acabado de receber por correio a encomenda tanto tempo aguardada e enviada pela mãe: uma câmara de filmar de 6mm. O capitão pediu-lhe que registasse a lição que planeara para os aldeões. Sob um clima de 'tensão insuportável', obrigou-os a assistir ao ritual de exposição dos cadáveres definhados, que foram então vestidos, de forma a poderem reaver um pouco da dignidade perdida. Lentamente, a caravana fúnebre pô-se em marcha e atravessou toda a aldeia em direcção ao cemitério, onde os corpos foram enterrados pelos próprios homens que nada sabiam, que nada haviam visto.
A preservação da memória abriga estes momentos, e nada poderá justificar a mentira que é afirmar que nada disto existiu.

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