Rosiska


Intrigado com o seu impressionante currículo, lá me dispus a assistir à conferência de Rosiska Darcy de Oliveira, promovida pelo Instituto Paulo Freire na FPCEUP. Penso que ninguém poderá dizer que foi tempo mal empregue (e esse foi um dos temas mais prementes da comunicação: o uso do tempo nas sociedades contemporâneas). A ilustre e eloquente oradora tentou sensibilizar a plateia para o que considera ser as novas incertezas da educação: o corpo, a família (ou as famílias, com esse 's' que tão radicalmente altera o discurso), o trabalho e o conhecimento.
É necessário instituir uma história do corpo, agora que ele definitavamente saiu da natureza e se instalou na cultura (é mentira senhor Freud: o corpo não é uma fatalidade!): vejam-se as questões da descoincidência sexo/sexualidade; a reivindicação de novas identidades e de 'novos' desejos; a impotência do corpo envelhecido posta em causa; a manipulação genética e a tentação eugénica.
Será que estamos a preparar a juventude para as novas questões? O que estamos a colocar no lugar deixado vazio pelas convicções? A equação produção/consumo=consumo? Essa já provou ser o grande malogro das últimas décadas. Estudos provam que os jovens dão prioridade ao uso do tempo privado em deterimento de um bom salário.
Por outro lado, a tecnologia, esse processo imparável, deveria ser vista como algo de bom, que nos restituísse o tempo para uma vida plena. Se tal não acontece, a culpa estará na tecnologia ou na redistribuição? As enormes desigualdades sociais actuais são corrosivas da cidadania planetária, estão a levar-nos à barbárie. O conhecimento está em combustão permanente, como tal, a escola deve ser o espaço onde se aprende a aprender.
O indivíduo sozinho é um monstro. Na verdade somos todos um feixe de vínculos ("Je est un outre", já o disse Rimabaud). A educação deve ser também a prática da liberdade, através da promoção da responsabilização e do pertencimento. É preciso formar para a convivência com o Outro, lutar pela igualdade reconhecendo a diferença, ou seja, instituir uma relação equivalente. Só assim poderemos responder ao momento que vivemos: a fundação do mundo.
Rosiska nalgumas das suas palavras. Não nega a centralidade do passado e do património cultural. Mas o que a inquieta são estas incertezas, e a certeza única de que a educação tem um papel importante a desempenhar.

0 Comentários:

Deixe um comentário







Recomenda-se


Outras paragens



anodaorquidea[at]gmail.com
 

© O Ano da Orquídea 2004-2007