As minhas cidades - Bologna

Em Bolonha havia uma janela da cantina universitária de onde se podia observar uma praça forrada a grafitis e palimpsestos de posters, na qual se mobilizava pelo menos uma concentração diária contra ou a favor de qualquer coisa (geralmente contra). A cidade era um concentrado de arcadas que se percorriam facilmente de lés-a-lés numa bicicleta emprestada. Dois outros sítios funcionavam contudo como pólos de atracção das minhas deambulações: o jardim Margherita, com os seus relvados que convidavam à leitura e à divagação filosófica (tinha 22 anos, apesar de tudo) e a inevitável Piazza Maggiore com o também inevitável e peculiar Duomo (o revestimento superior da catedral nunca chegou a ser concluído, dando-lhe assim um aspecto imponente mas frágil). Ao fundo, a pequena Piazza Neptuno, com a sua famosa representação da divindade marítima, lutando contra serpentes gigantes. Se as cidades têm uma cor, a de Bolonha é decididamente o vermelho das cortinas, do tijolo burro, das bandeiras e do entardecer toscano das colinas ali ao lado. Algumas torres decepadas lembravam às novas gerações o preço da ambição (no tempo dos doges, as torres simbolizavam o estatuto das famílias rivais).



Hoje, a cidade é mais um exemplo da vaidade num país que não existe, com a sua vida fora de portas nas praças, nos mercados de rua e nas cooperativas, com os seus habitantes de porte altivo e vestes impecáveis e as suas várias tradições históricas (a mais recente talvez a da esquerda racical, após os ataques das brigate rosse). Como estrangeiro, Bolonha foi também a minha primeira cidade interior, e tenho regressado com frequência aos seus cenários.

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