Janela indiscreta
James Stewart imortalizou o voyeurismo de vizinhança. Pelo caminho seduzia uma Grace Kelly pré-aristocrata e desvendava um crime. Na altura em que eu próprio praticava esta actividade, admito que dava jeito ser fumador. Enquanto o cigarro desaparecia em suaves baforadas, observava toda a agitação que se desenrolava como uma montra humana nas traseiras dos prédios: pessoas a dormir, a ver televisão, a espreitar o frigorífico, a escolher a roupa. O mais interessante, claro, era a penumbra de onde saiam ou onde mergulhavam, onde adivinhava cenas de maior recato e intimidade. A noite pertencia aos pensamentos, e eles eram mais fortes que nós.
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Eu quando espreito os vizinhos assusto-me com as vidas que vejo e pergunto se gostaria da minha.
Rita, comentadora