O olhar de Guacira - II


Achei interessante também a forma como Guacira sublinhou a importância da sexualidade na definição da masculinidade (repare-se nas representações sobre a impotência: "eu já não sou homem!"), agregada à homofobia e à misogenia. No caso das mulheres a centralidade na definição do ser feminino parece passar mais pela maternidade. Ocorreu-me que tal parecia ser confirmado pelas reacções sociais diferenciadas à 'saída do armário': enquanto que os homens se interrogam sobre o tipo de possibilidades no acto sexual ("mas como é que funciona na cama?"), as mulheres tendem a lamentar as presumidas implicações na fertilidade ("e eu que pensava que ia ter netos...").
Interessante também a reflexão sobre a apresentação dos argumentos essencialistas e construtivistas em relação ao género e à sexualidade. É verdade que os primeiros são normalmente associados a correntes mais conservadoras, mas eles têm sido 'repescados' para as políticas de identidade, tornando-se desta forma progressistas. Por outro lado, dizer que determinado conceito (por exemplo, a homossexualidade) é uma construção pode conduzir a um discurso do tipo corrector e 'retrógada'("se conheço a causa, posso tentar eliminá-la").
Enquanto divagava sobre o carácter compulsório da heterossexualidade e as suas implicações, fui registando as reacções da pequena plateia, um grupo de mulheres aparentemente pouco habituadas a estas 'sacudidelas' do espírito, mas que se entregaram não sem alguma perplexidade ao jogo da desconstrução que terminou numa breve apreciação sobre a teoria queer. Parece ser este um bom exemplo do olhar pós-estruturalista: não importa saber qual é a verdade, antes apurar as causas que permitiram que esta seja lida como tal.
Foucault passou por ali.
Imagem: Pierre et Gilles

3 Comentários:

  1. tiquitas disse...
    Afinal sempre és tu!

    Então, a Guacira desafio-te a continuar o teu projecto de investigação.... apesar de teres descoberto que talvez uma tipa já o tenha feito?! (eu?)Depois da defesa, eu possibilito-te o texto.

    Espero que sim!
    Há cerca de cinco anos, atrás... numa sessão parecida com aquelas que assistimos, "apaixonei-me" pela Guacira e pela Teoria queer... Relativamente a esta última foi amor à primeira vista... amor pelo desconhecido... e acredita que nessa altura, podia fazer parte "da pequena plateia, um grupo de mulheres aparentemente pouco habituadas a estas 'sacudidelas' do espírito"
    No entanto... foi essa sessão que me desafiou para a inquietude... que me desafiou olhar a realidade como uma composição de realidades, alinhavadas em redes de poder, onde emergem uma pluralidade de subjectividades que compõem a tela colorida que é composta a sociedade!
    ... e nessa altura, pouco me destinguia do grupo que apresentas! No entanto, tenho que te desmentir... o grupo não era composto por mulheres... pois também lá estavas tu e outro elemento aparentemente do género masculino... e nem todas as mulheres podem ser «encaixadas» no grupo pouco habituado a «sacudidelas»... estavam lá algumas grandes mulheres que têm vindo a sacudir espiritos: Helena Araújo, Conceição Nogueira, Laura Fonseca, Maria José Magalhães, Isabel Meneses... e outras (humildemente) que já iniciaram o processo das sacudidelas há algum tempo...

    Mas uma coisa é certa.... quem me dera que estas discussões fossem mais frequentes (pois são sempre muito positivas), e apanhassem gente pouco habituada a sacudidelas.... de forma a sacudi-las!!!

    Um abraço
    Anónimo disse...
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