O olhar de Guacira


Penetrei silenciosamente numa palestra de outro mestrado. A oradora convidada, Guacira Lopes Louro, brasileira, era autora de um pequeno livro que eu lera com atenção: "Currículo, Género e Sexualidade" (Porto Editora),ensaio sobre as imbricações entre estas dimensões no campo educativo. Tacteando caminho, começou por apresentar alguns retratos de feminilidades, para ajudar a desmontar o seu carácter de construção social. Os exemplos escolhidos eram propositadamente transgressores, tais como o caso da mulher que vivia no sertão brasileiro uma relação amorosa com três homens (caso adaptado ao cinema no filme de grande sucesso comercial "Eu, tu, eles") ou o relato de um homem que explicava como trazia na carteira 'a sua mulher', isto é, os apetrechos necessários para se transformar como tal (as metáforas utilizadas são óptimas para acentuar o carácter construído do género: "eu me monto e a drag baixa"). Referiu ainda um estudo sobre sociabilidades lésbicas, em que se expressa uma dualidade de representações sobre si próprias: por um lado, as 'piruas' (espécie de barbie elaborada) e por outro as 'camionistas'. O que parece curioso segundo a palestrante é como estas representações se apresentam sem contudo transgredirem totalmente as fronteiras de género, com a excepção talvez da figura da drag, que se apropria e subverte, parodiando-a, a ideia de essência feminina.
Imagem: Pierre et Gilles

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