Brave new world


"Os deuses são justos. Sem dúvida. Mas o seu código de leis é ditado, em última instância, pelas pessoas que organizam a sociedade. A providência recebe a palavra de ordem dos homens". Rezava assim um dos últimos diálogos no "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley. Num futuro dominado pela tecnologia e pela racionalização de toda a vida social, económica, cultural e sexual, fazia sentido que Jesus Cristo fosse substituído por Henry Ford, como referência transcendental e fundadora (no livro, o ano zero passou a ser considerado o ano em que foi criado o famoso modelo T da fábrica de automóveis Ford, o tal que inaugurou a primeira linha de montagem da história da indústria). Tendo sido escrito nos anos 30 como um vigoroso alerta contra os perigos dos totalitarismos que viriam a mudar a face do planeta pouco tempo depois, a obra não perdeu qualquer pertinência neste ano de 2006 D.C., incluindo nessa mesma reflexão sobre o divino como manifestação do pensamento humano e da sua contemporaneidade. O divino somos nós, na nossa sordidez, mas também na nossa magnificência (que melhor exemplo do que o concerto que Jordi Savall e os seus Hespèrion XXI ofereceram na Casa da Música no passado Sábado?).

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