O horror! O horror!


São as últimas palavras numa narrativa de viagens, “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, que acabei de ler. É um texto do início do século passado, mais tarde reabilitado pela adaptação (bastante livre e re-situada na guerra contra o Vietname) de Francis Ford Coppola no épico “Apocalipse Now”. É impossível, portanto, não imaginar a figura portentosa e decadente de Marlon Brando no seu último papel digno, o sinistro e misterioso coronel Kurtz. Trata-se de uma história sobre as trevas obscuras da perfídia e ambição humana, que conquistaram o seu aspecto mais hediondo no sonho totalitário do colonialismo (em todas as suas formas). O narrador é o homem a quem encomendam o resgate de um posto colonial, e é com ele que iniciamos a primeira das duas viagens: pelo grande rio acima, de um mundo para o outro. A segunda das viagens é interior, e acontece ao mesmo tempo, com a aproximação ao destino. Kurtz está no fim da linha. Vive no coração da selva, longe da civilização que o mandatou. Embriagado pelo poder, enlouquece, acabando por morrer como se um cancro o consumisse, esse mesmo horror com que se confronta antes do último estertor. Ao ler o livro, imaginei estas últimas palavras libertadas num grito lancinante, como um aviso à humanidade. Coppola e Brando optaram por um sussurro. O horror... o horror... Como se vencidos pelo medo que esta revelação abrisse uma nova caixa de Pandora, ou simplesmente porque num mundo ruidoso e bélico, o silêncio se tornou ensurdecedor.

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