Ir dizendo


Da indizibilidade do ser até à vontade de dizer algo vai às vezes uma pequena mas eloquente distância. Nestes dias de interregno, aconteceu-me a fase final da malfadada formação para renovação do CAP (essas extraordinárias inutilidades burocráticas que obrigam meia dúzia de tipos a aturarem-se uns aos outros durante 60 horas e no final irem jantar juntos para simular uma cumplicidade inexistente).
Também aconteceram duas belíssimas sessões do Cinanima, esse injustamente olvidado festival de cinema de animação que acontece anualmente na cidade de Espinho, onde se percebe que o cinema precisa urgentemente de novas linguagens, com a furiosa inteligência criativa destas pequenas obras-primas.
Começou a circular um abaixo-assinado para a criação de um movimento pelo sim no referendo sobre o aborto, onde surpreendido encontrei o nome da Agustina Bessa Luís como signatária. Faço correr o dito e abro discussões onde pousa a folha.
O Ministério da Educação decide tornar público e oficial o alargamento do processo de reconhecimento e validação de competências ao secundário. Apreensivo, estudo os documentos e interrogo-me sobre a capacidade dos próprios certificadores mediante os critérios apresentados.
A terminar a semana, uma visita por convite a um dos novos espaços de 'realidade paralela' urbana do século XXI: os grandes ginásios urbanos. Entrei, experimentei uma ou duas dessas modalidades com nomes ingleses, pacotes de exercícios repetidos resultantes do mix de várias modalidades já existentes, patenteados e franchisados às novas catedrais onde se presta culto a corpos já suficientemente tonificados. O espaço é agressivamente concentracionário; todos os movimentos são controlados por cartões, fechaduras, códigos, inscrições em modalidades; somos conduzidos por setas, instruções, circuitos e uma música enjoativa e omnipresente. Nas sessões grupais, um tom de uníssino que me põe desconfortável.
Respiro fundo. Porque hoje é sábado.

1 Comentário:

  1. Rita Oliveira Dias disse...
    sempre achei que me ia sentir mal nesses ginásios, vejo-me mais a receber tratamentos individualizados como massagens ou a pôr-me de molho num jacuzi.

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