Diversidade

Pirilampos à vista!

Pois é, mais de 20 anos depois voltei a ver pirilampos. Fiquei tão contente! Só tinha uma recordação demasiado vaga de ter visto pirilampos quando era miúdo, numa noite de calor. Nunca mais voltei a vê-los até ao sábado passado. Até já pensava que tinham sido extintos!
Foi como regressar à infância. Senti-me um puto! E descobri que até debaixo de água dão luz!
Este fim de semana fora da cidade fez-me mesmo bem! Obrigado Esteva e JMS!
;)

Na conversa com...

A noite quente prometia uma parca afluência, mas quando reparámos, a sala estava bem recheada, a bem dizer por responsabilidade do vocalista dos EZ Special, ex-aluno da escola e ídolo local. A conversa acabou por fluir, entre reticências dos pais e alguns pre-teens, em torno do vago tópico "Estilos de vida saudável". Tentei questionar a ideia algo ingénua de que a saúde se resume a um menu equilibrado na cantina da escola, é antes algo que deve envolver toda a comunidade escolar (o que passa, em primeiro lugar, pelo reconhecimento da sua existência) e por promover a participação dos jovens no próprio projecto educativo. Caso contrário, tudo o que se possa dizer ecoará sempre como uma prescrição moralista, que apetece desafiar. Falou-se muito da influência negativa dos 'amigos' ou grupos de pares. Opinei que sempre me pareceu mais importante para um indivíduo estar efectivamente integrado num qualquer grupo de pertença, independentemente dos eventuais efeitos perniciosos. Não reconheço melhor defesa contra a muito maior violência das dores do crescimento ou dos olhares sociais sobre a diferença.

Do bloco


(banda sonora: "Now I wanna be your dog", Iggy Pop)

Não sou um homem moderno - I

Fazer uma coisa de cada vez, por favor, mesmo que uma delas seja andar ou coçar a cabeça.

Eu, os pais, os jovens e os problemas deles


Era uma vez um convite para participar numa tertúlia organizada por uma associação de pais, na próxima sexta-feira. O tema era "Estilos de vida saudáveis", e por algum motivo que ainda estou para descobrir, achavam que eu teria algo a dizer sobre o assunto. Ponto final, parágrafo. Tenho, mas não muito. A caixa de comentários fica assim aberta a sugestões. A gerência agradece.

Julia B.

Julia B.* chegou aos quarenta. Mulher de beleza ibérica, latina, transbordante: cabelos e olhos negros, sublinhados com várias tintas, lábios delineados e carnudos, brincos largos de argola a reforçar os movimentos da cabeça, vestido ajustado à generosidade das curvas. Nasceu algures na América Latina, mas fez cá o seu sexto ano, que foi o que a vida lhe permitiu (tinha que ajudar em casa porque os homens não servem para essas coisas, disseram-lhe). Dir-se-ia, contudo, uma aluna promissora. Depois de uns anos a aguentar com tudo (a mãe deprimida, o irmão e o pai à sombra da bananeira, porque também eram latinos), começa um trabalho que finalmente lhe dá um vislumbre de uma luz numa vida obscurecida, mas o pai regressa do estrangeiro e entre ameaças termina com a experiência. Finalmente abala para fora, onde tenta singrar, e conhece o segundo homem da sua vida. Este investe no casamento o tempo suficiente para lhe relembrar que este mundo não existe para se ser feliz, mas para comer o pão que o diabo amassou. Sozinha, com uma colecção de depressões e medicamentos, duas filhas, e a vivência humilhada dos DLD e RSI, veio parar hoje à minha beira, onde me tentou explicar que apesar de tudo não consegue desistir, está viciada na esperança e no sonho que a sua beleza prometeu.
*(nome fictício)

"Tão pipi!!"


Por acaso alguém anda à procura de um ilustrador? Ora vejam mais trabalhos desta fantástica moça. Força aí, Rita!

Paris flaneurie

Sábado radical


Há dias que só se aguentam com Sonic Youth nas colunas, mas não é que desde ontem que não me sai da cabeça a última da Nelly Furtado? Adiante, que o assunto era outro: partilhar a receita de uma sábado delicioso. Estão a ver a foto com os bacanos de ar silly e com combinações cromáticas de mau gosto? É assim: pega-se num punhado de curiosos (pelo menos o suficiente para acordar às seis da manhã...), em meia dúzia de barcos de borracha (os rafts), boa disposição e um rio (mais ou menos) amistoso, uma boa dose de inconscência (previamente calculada) e voilá. Mais informações em Melgaço Radical (keyword: raftings). Foi ontem, mas a próxima que não tarde...

A vítima do medo


Se há filmes capazes de sustentar durante quarenta e cinco anos um carácter de vanguarda, Peeping Tom, (re)visto há dias, do britânico Michael Powell, é seguramente um deles. Com um enredo sofisticado e uma ambientação demencial muito conseguida, podemos lê-lo de diferentes ângulos e de acordo com camadas distintas: a simples trama de suspense, a releitura dos cânones cinematográficos, a tese sobre a psique humana ou a subversão de papeis (de vítima a agressor, passando por uma masculinidade truncada e um complexo de electra). Com tanta transgressão, não admira que tenha sido enxovalhado na sua estreia, mas ainda vamos a tempo de nos redimir.

Língua de sobrinha


- Pépé! Toma, é para ti!
- Para mim, Mimi? Obrigado! Vou pôr lá na galeria dos desenhos. O que é que está aqui?
- Aqui é um balãaaaooooo (tom das últimas vogais sempre a subir) que está a subiiiiiir, aqui é a árvoreeeeeeeee, aqui uma pareeeedeeeeee... e aqui um balão que explodiu.

Night walkers

Não sei na vossa terra, mas aqui no burgo assiste-se à expansão assinalável de uma nova tribo urbana: mulheres de meia-idade, de sapatilha, fato de treino e fita na cabeça, em vigorosas caminhadas nocturnas. A diferença em relação a outro fenómeno bem conhecido - o sonambolismo - é que as senhoras parecem bem despertas, e quase apostaria que o tema das animadas conversas gira em torno de dois tópicos que assim simultaneamente se vão queimando: as gorduras e o stress doméstico.

Gainsbourg revisited


Se servir para dar a conhecer as músicas a mais pessoas, a homenagem já fez sentido. De resto, acho muito recomendáveis as (per)versões dos Portishead, Cat Power ou a estranhíssima variação de Marianne Faithfull. Na foto, o improvável e icónico par da revolução erótico-musical: Gainsbourg e Jane Birkin.

O novo mundo


Era uma vez um mundo novo, onde tudo era descoberta e sentimentos como a perfídia ou a inveja ainda não existiam. Depois chegaram os homens do velho mundo e tudo mudou. Terrence Malick ajuda-nos a acreditar que existiu um frágil e impossível momento em que tudo foi feito com uma candura pungente, antes da destruição massiva. E fá-lo com um texto muito seu, que deslumbra e se plasma na retina e nos ouvidos. Porque hoje em dia já não acreditamos na poesia, já está a passar ao lado de muita gente.

Grande Raul!

Eu devia estar contente porque tenho um emprego
Sou o dito cidadão respeitável e ganho 4.000 por mês
Eu devia agradecer ao senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz porque consegui comprar um Corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por 2 anos
Aqui na Cidade Maravilhosa
Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente por ter
Conseguido tudo que eu quis
Mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí ?
Eu tenho uma porção de coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado
Eu devia estar feliz pelo senhor ter me
Concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim Zoológico
Dar pipocas aos macacos
Ah, mas que sujeito chato sou eu que não
Acho nada engraçado
Macaco, praia, carro, jornal, tobogã, eu
Acho tudo isso um saco
É você se olhar no espelho - se achar um
Grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
E que só usa 10 % de sua cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
E que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social

Eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes,
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um Disco Voador
Ah! Eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes,
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um Disco Voador


Ouro de tolo, Raul Seixas

Perdeu-se

Quando um esquecido perde algo importante, apenas confirma a sua identidade. Todos os dias a minha memória se diverte a torturar-me com a lembrança de outro documento que desapareceu de vez numa pen vermelha, marca Verbatim, última vez vista junto do seu dono dentro de uma sacola preta. Existirá uma quinta dimensão para onde migram todas as ideias extraviadas?

Matinal eu fico

As manhãs de sábado sinto-as como uma espécie de refluxo, uma respiração da maré que nos afoga durante cinco dias de enchente. Sabe bem voltar a dominar o tempo, fazer torradas, espremer a laranja, beber um café a seguir a outro. Separo as sapatilhas e os calções. A manhã manda-me correr para o parque.

Covilha-Serra


Por algum motivo continuamos a adiar o fecho do blog. Aproveite-se ainda o espaço online para dizer apenas: ainda estamos por cá ;-)

Sintomas de verão

Já não durmo de pijama e as minhas sardas regressaram ao meu rosto em força!





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