"O senhor é que é o especialista em homossexualidade?"
Mais do que determinado a fazer desta a última vez, acabo por me render à evidência de que é mesmo isto que eu gosto de fazer. Explico-me: referido por uma amiga, sou contactado por uma professora de inglês para ir fazer uma sessão sobre descriminação sexual para um grupo de jovens num curso de aprendizagem. Mal chegado ao local do crime, sou avisado sottovoce: "são alunos complicados, não se integraram na escola, de bairros sociais, irrequietos". Nada de extraordinário, pensei, é o meu público, embora aqui um pouco mais jovem. Entrei na sala munido de uns tópicos que já me haviam servido noutros festivais, mas rapidamente me apercebi que iria ter que encontrar o tom certo desde o primeiro segundo, tal o cenário de desafio que me esperava. Não tive que esperar pelas intervenções. Houve bastante participação e acabou por correr bastante bem. Em questão de sexualidade e questões de género, os miúdos estão sempre receptivos, e apercebo-me sempre que as mensagens chegam a todos de maneira diferente, para aqueles que se sentam com um ar muito indiferente e silencioso ou para aqueles que tagarelam colocando em causa tudo o que se diz.
Mais uma etapa ultrapassada na assustadora agenda da semana, outra daquelas em que me apetecia esconder debaixo dos lençois sem dar cavaco ao mundo, mas em que o próprio mundo bate à porta do quarto para me chamar.
Randomsailor