Autofotopost


Composição: Major Tom sobre declive vermelho.

"O quereres"

Nisto dos quereres há muito que se lhe diga, e é daqueles dizeres que eu gosto de partilhar com o meu camarada virtual alentejano. O mano Caetano também já deve ter traquejo no assunto, a avaliar pela complexa situação cantada nesta música:

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão
Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco,garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês
Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói
Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és
Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inceticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim


Cetano Veloso

Te quiero!

oh run run run run

Digam o que disserem, conheço poucos prazeres melhores do que correr num fim de tarde de Outono pelo Parque da Cidade, sobretudo quando atravessamos um pequeno corredor já atapetado com folhas secas caídas e de repente o Sol nos ofusca por entre alguns ramos semi-despidos. No regresso a casa, é só pôr um k7 com Bach no leitor do carro e dar por concluído o terapêutico encontro com a natureza e o corpo, que fica assim restaurado para outros massacres.

Depois do show de Ney


Possível slogan para marketing MPB:
Reality is an ilusion created by the absense of Ney Matogrosso

2046 a caminho!

O poster a perseguir...

Bruce La Bruce meets Berlin


Detesto reconhecer que perdi oportunidades únicas. Há cerca de 3 anos, por ocasião da única extensão do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa no Porto, era colaborador da Associação Nós, um pequeno grupo que chegou a dinamizar algumas actividades bastante interessantes na Invicta. Fomos contactados pelo Celso Júnior no sentido de acompanhar um certo senhor Bruce La Bruce numa visita guiada à cidade antes da apresentação de um mini ciclo dedicado ao seu trabalho. Por um motivo ou outro, ninguém se mostrou disponível. Obviamente que hoje em dia não concebo o que pudesse ser mais interessante do que conhecer este artista (realizador e fotógrafo) absolutamente peculiar. Veio-me isto à cabeça a propósito do OVNI que aterrou na sala 3 do cinema Quarteto no passado sábado, à laia de encerramento da edição deste ano do referido festival. Raspberry Reich deixou-me completamente KO. Trata-se de um manifesto libertário (deverei dizer um agit-porn?) filmado em Berlin, cruzando referências que vão desde Wilhem Reich, Karl Marx, Godard, pornografia e iconografia de esquerda (que heresia, a masturbação sobre a cara do Che Guevara!). O filme caiu como uma bomba na pequena sala. Se conseguisse um cartaz do filme,ia direitinho para a parede que vejo à minha frente, carinhosamente colocado ao lado de uma imagem do Pasolini nú e de punho erguido.
"JOIN THE HOMOSSEXUAL INTIFADA!"

a b c d e f g h i j k...

Um certo Elfo galego falou-me de um tal Edward Gorey (parece que os trabalhos do Tim Burton foram inspirados neste senhor...). Fui ao Google e vejam onde fui parar! :)

Vai um cházinho?

Soube tão bem ontem ter saído do trabalho e ido até à casa de chá do Artes em Partes, na Miguel Bombarda! E soube ainda melhor estando na companhia da boa amiga Teresa! Como se chamava aquele fantástico chá gelado?... Ai, a minha memória...

The man is back



A ave canora de Matogrosso regressou. Fiquem com a Madonna; se eu quero show, sempre soube qual o bilhete a comprar!

Férias da vida

"(...) certa vez conheci um homem que afirmava que de vez em quando, só para tirar férias da vida, escolhia alguém numa multidão - qualquer pessoa, um homem de fato azul, por exemplo - e seguia-o durante horas, sempre atrás dele nos comboios, nas lojas, nos elevadores, nos parques... e que felicidade insustentável aquilo lhe proporcionava (...)"

Cartas de Veneza - Robert Dessaix

Banda sonora

Sem nenhuma razão em especial estas músicas têm-me acompanhado nos últimos meses. Lá vou trauteando interiormente quando estou na paragem do autocarro, quando estou a trabalhar ou quando estou a apanhar sol numa esplanada. E quando ligo o auto-rádio ou a aparelhagem de cá de casa delicio-me a sentir os seus ritmos e mensagens.

Con toda a palavra - Lhasa de Sela
Tomorrow - Durutti Column
Making plans for Nigel - XTC
Strict machine - Goldfrapp
In a manner of speaking - Tuxedomoon
What your soul sings - Massive Attack
Alone in Kioto - Air
Just like honey - Jesus & Mary Chain
Caro Diaro - Nicola Piovani
Au jardin métallique - Katerine
Vökuró - Björk

;)

Monstrinho and Super Sue got married

Sim, é verdade, mais um casal amigo deu o nó (esperemos que não muito apertado). Eles sabem a minha opinião sobre o casamento, e partilham eles próprios uma noção peculiar da instituição. Talvez por isso tenham achado sensato convidar-me para uma reportagem fotográfica da festa. Ainda não vi os resultados, mas sinto-me ansioso e céptico com os resultados (acontece sempre assim com as encomendas; já em pequenino derrapava quando me pediam um desenho...).
Não tive coragem de admitir que me senti comovido (va savoir...) quando decidiram trocar uma noite no Hotel Solverde de Espinho pela apertada suite do nosso quarto amarelo para visitas. Viva o Monstrinho! Viva a Super Sue! Hip hip! Hurrah!
PS: ao nosso lado, uma conviva de última hora encaixou-se na nossa mesa e ficamos mais aconchegados com a sua presença - Foxy Mary J., aquele jantar tem que ficar para breve!

Mudança

Talvez seja do calor, mas tenho respirado um clima de mudança, não propriamente em mim, ou antes, não apenas em mim mas um pouco por todo o ambiente humano em que me relaciono. Talvez seja esta expectativa um pouco insensata de mudança de trabalho (que me empurra a responder a anúncios semana após semana) ou tão simplesmente a mudança de estação, que transforma as ruas em campos de batalha por um estacionamento. Talvez seja a ansiedade e esporádico desespero da minha irmã à espera de colocação, a palavra-chave para uma mãe de duas criaturas a precisar de sustento. Talvez seja a raiva, que transforma o Major Tom num guerrilheiro prestes a deixar o código de guerra na gaveta, com toda a miséria com que diariamente convive...

Em 2046 terei 68 anos...

Espero ansiosamente a chegada do novo filme do fantástico realizador Wong Kar-Wai. Alguém sabe quando estreia em Portugal? Já passou tanto tempo desde o In the Mood For Love... :(

Papá

Todos os anos a mesma coisa. Nunca sei o que oferecer ao meu pai como prenda de aniversário. Tem que ser algo que algo que não ponha a claro a necessidade que sinto de manter distância, sem que sugira que me sinto magoado ou zangado; algo suficientemente ligado às suas raríssimas manifestações de interesse pelo mundo para permitir que consigamos estar sentados à mesma mesa, sem que dê indicações que compactuo com a sua forma de estar; algo diplomático e que não estrague o clima do jantar de família sem parecer demasiado impessoal...
Help!

Vidas de adulto


Continuando sem saber muito bem o que me volta a empurrar de novo para este ecrã, o teclado vai deslizando com um ritmo desigual debaixo dos meus dedos, sobretudo neste horário em que tento escapar dos meus compromissos - o intervalo para almoço. A manhã foi de arrasar, com sessões individuais a adultos exigentes e verborreicos. Pode parecer simples mas, depois de uma noite de insónia, até o burburinho da cidade me faz confusão, e esta é uma situação em que tenho que estar (ou parecer) hiper concentrado: tratam-se de histórias de vida que tentamos reconstituir para balanço de competências. O inevitável: adoramos que alguns adultos nos chateiem durante horas; outros, contudo, aborrecem-nos até ao desespero ao fim de dois minutos...

"O senhor é que é o especialista em homossexualidade?"

Mais do que determinado a fazer desta a última vez, acabo por me render à evidência de que é mesmo isto que eu gosto de fazer. Explico-me: referido por uma amiga, sou contactado por uma professora de inglês para ir fazer uma sessão sobre descriminação sexual para um grupo de jovens num curso de aprendizagem. Mal chegado ao local do crime, sou avisado sottovoce: "são alunos complicados, não se integraram na escola, de bairros sociais, irrequietos". Nada de extraordinário, pensei, é o meu público, embora aqui um pouco mais jovem. Entrei na sala munido de uns tópicos que já me haviam servido noutros festivais, mas rapidamente me apercebi que iria ter que encontrar o tom certo desde o primeiro segundo, tal o cenário de desafio que me esperava. Não tive que esperar pelas intervenções. Houve bastante participação e acabou por correr bastante bem. Em questão de sexualidade e questões de género, os miúdos estão sempre receptivos, e apercebo-me sempre que as mensagens chegam a todos de maneira diferente, para aqueles que se sentam com um ar muito indiferente e silencioso ou para aqueles que tagarelam colocando em causa tudo o que se diz.
Mais uma etapa ultrapassada na assustadora agenda da semana, outra daquelas em que me apetecia esconder debaixo dos lençois sem dar cavaco ao mundo, mas em que o próprio mundo bate à porta do quarto para me chamar.

Nice Sisters


De vez em quando lá damos de caras com estas relíquias da net. :) Deliciem-se!

Arrepio na pele!

Ontem senti um arrepio na pele ao ouvir esta música, como já há muito tempo não sentia! Guardo estes momentos num lugar bem especial dentro de mim...

Carinhoso
(Pixinguinha / João de Barro)

Meu coração, não sei porque
Bate feliz, quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim, foges de mim

Ah! Se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E muito e muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor
Dos lábios meus
À procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz, bem feliz

Homo-abraço


Fico contente cada vez que vejo um destes cartazes da Abraço...

Sabadices...

Balanço de um dia inacabado: depois da belíssima festa de inauguração de um novo ninho, acordo com a sensação de atordoamento. O despertador empurra-me para a rua, e sinto que só dentro do carro é que despertei para o objectivo desta manhã de Sábado: comecei mais uma formação, desta vez do lado dos formandos; o tema, sugestivo, é Saúde Sexual e Reprodutiva, e respiro de alívio ao saber que a formadora é médica - finalmente alguém com quem esclarecer dúvidas mais terra a terra! Tento entender isto como o trampolim necessário para avançar com um projecto há demasiado tempo na gaveta: Educação Sexual para professores. No final, rendez vous no Parque da Cidade com o Monstrinho e o Lawyer, para uma corrida ao som do início de Outono. A tarde foi obviamente um reencontro do corpo com o seu equilíbrio: desmaio na cama e arranco dela uma soneca merecida até à hora de jantar. A noite é uma criança, e eu quero brincar com ela...

Normalidade

Continuando na senda dos posts improvisados, eis-me de novo na orquídea. Em pleno intervalo de almoço, com compromissos à espreita no início da tarde, aproveito para vasculhar o jornal e decidir que tenho que espreitar no novo filme do Spielberg. Nada de novo no gaydar, envio uns piropos virtuais, pequenas injecções de ego para quem aprouver... Ok, concentro-me na festa de hoje à noite: inauguração da casa do Monstrinho e da Super Su. Ofereci-me para DJ e já preparei um set suficientemente eclético para agradar a gregos, troianos e outras etnias suburbanas (espero que a ligação eléctrica improvisada resulte). Ouvimos dizer que o DJ Pascoale Ferrara mudou para o Swing, temos que o procurar; que vontade de desopilar numa pista de dança (é pena, nos Maus Hábitos sempre se conseguia respirar...).
É sexta-feira, a vida regressa à normalidade...

Post de desculpas

Sinto que devo, por algum motivo, um pedido de desculpa àqueles que, por motivos para mim insondáveis, continuam a visitar o nosso blog com alguma frequência e descobrem que os posts não têm sido actualizados. Claro que tudo se explica com a falta de tempo, ou melhor, com uma nova organização do tempo, que se tornou mais egoísta e me tem usado para outras coisas, entre as quais o trabalho, as candidaturas a outros trabalhos, formações e mestrados, os amigos, os passeios, as leituras, as corridas, a casa, etc. Agora, neste pequenino intervalo de almoço, retardado por uma corrida no parque da cidade (sim, hoje tive o previlégio de poder organizar eu o meu tempo), apeteceu-me deixar aqui este post espontâneo sobre a ausência de posts e também para me ajudar a pensar sobre a pertinência ou perfil deste espaço. Afinal, qual o sentido de fazer um blog pessoal e narcisista, se ao mesmo tempo tentamos combater a tendência para fazer um blog pessoal e narcisista? Sinto que algo mais me tem refreado, e já tinha anunciado a morte ao Major Tom para muito breve. Contudo, algum me impediu de o fazer. Ainda falta descobrir se é mais do que um pressentimento. Todos os dias o mundo me diz coisas, distintas e muitas vezes incompreensíveis. Esta máquina a que chamamos cérebro tem tido alguma dificuldade em processar todas elas...

Estate (parte 3)

Estate (parte 2)


Férias, Sul, Algarve, Aljustrel, 38ºC, Tavira, Mar, Sol, Corpos nus, Sal, Conchas, "Corfu", Dunas, Areia, Luar, Sexo, Praia das Furnas, Vento, Lagos, Paladares indianos, Cigarras, Searas, Porto Côvo, Despedida, Saudade, Alentejo, Marvão, Castelo de Vide, Portalegre, Campo Maior, Elvas, Olivenza, Alqueva, Évora, Café do Alentejo, Fotos, Caminhadas, Castelos, "O beijo da mulher aranha", Beirã, Alpendre, Estrada, Lhasa, Crato, Alter do Chão, Bach, Avis, Arraiolos, Escoural, Alcochete, Tejo, Relâmpagos, Jó, Lisboa, Pizza indiana, Beijo, Abraço, Taborda, IKEA, Jantar, Glória, Coleus Hybridus Labiatae, Jheronymus Bosch, Caixa vermelha, Verão 2004.

Gula livresca


É um dos pecados dos sociólogos nas suas investidas intelectuais. Nestas mini-férias meridionais, devorei: como aperitivo, "Contragofos 2", do Pierre Bourdieu, sob o mote de contributos para um novo movimento social, que imponha a mobilização à escala europeia e mundial de forças que contrariem a queda da dimensão social das políticas internacionais, começando pelos sindicatos, essa instituição ancilosada nas paredes dos Estados nacionais. Seguiu-se outro prato, um magnífico David Leavitt, "O Corpo de Jonah Boyd"(anagrama de body, note-se), de volta ao seu universo, a família e as suas batalhas. De enfiada, porque estes dias servem para devorar ao Sol, "A Estepe", uma novela do russo Theckov, relato da viagem iniciática de um jovem pela Rússia novecentista, que me fez recordar recorrentemente do "Verão de Kikugiro", o meu filme preferido do Takeshi Kitano. Comprado à pressa em Lagos, ainda inicio a sobremesa: um intrigante romance da Simone de Beauvoir, "O Sangue dos Outros".





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