Middlesex


Se uma imagem pode valer por mil palavras, ainda assim eram necessárias umas quantas para traduzir as 521 páginas de Middlesex, um daqueles calhamaços que eu só me atrevo a ler nas férias, apenas porque eu sou teimoso e gosto de levar as coisas até ao fim (tenho uma meta pessoal: se leio até à página 70, tenho que ler o livro todo) e porque coisas deste tamanho não se conseguem ler deitados na cama, a não ser que queiramos torcer os pulsos. Para mais, a Dom Quixote preparou uma edição que é um regalo para a vista, e fica sempre bem passeá-la pelas praias das baleares. O que está lá dentro: bem, cada um encontrará coisas diferentes, presumo, porque numa odisseia destas temos espaço para escolher o nosso protagonista e a época que mais nos atrai (a narrativa estende-se quase durante um século e algumas gerações). Para quem, como eu, se interessa pelas complexidades e quebra-cabeças da identidade sexual, é altamente recomendável, embora o livro me pareça quebrar só um bocadinho o interesse no desenlace final, precisamente quando se expõe a ambiguidade do personagem principal, que é também o narrador omnisciente. Nevertheless, Jeffrey Eugenides é para seguir com muita atenção. Pessoalmente, não encontrei um único parágrafo que lido independentemente deixasse de ter interesse literário, o que, tendo em conta a envergadura do que estamos a falar, lhe reconhece mais talento do que algumas gerações de escritores conseguem reunir. Também lhe agradeço ter-me relembrado que, numa fase inicial de gestação, qualquer feto possui gónadas que só mais tarde assumirão caracteres sexuais masculinos ou femininos. Enquanto esse momento não chega, até nesse derradeiro baluarte biológico somos idênticos.

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