As homofobias de Daniel Borrillo


No meio dos projectos de acabar com o atraso acumulado de leitura de romances, ainda arranjei tempo (é incrível o que se consegue fazer numa ilha onde não se passa nada) para este pequeno mas muito pertinente ensaio. O autor alerta para a necessidade de combater a homofobia, que equipara a outras fobias: xenofobia, racismo ou antisemitismo. O que implica compreendê-la e descobrir as suas raízes, por um lado, e educar para a diversidade como medida de profilaxia. Avança ainda aquilo de que já me havia inteirado: que a tentativa de encontrar as causas da homossexualidade é em si mesmo uma atitude homofóbica. Passar de uma perspectiva para a outra constitui uma mudança epistemológica e política premente. Segundo Borrillo, ainda, a homofobia assume-se também como uma espécie de guardiã das fronteiras sexuais (hetero/homo), produzindo uma 'vigilância de género' (masculino/feminino), e contribuindo para que o desejo (hetero)sexual actue mais como dispositivo de reprodução social do que de reprodução biológica. Estabelece-se ainda uma distinção fundamental entre homofobia irracional, expressão mais emotiva da fobia que se traduz em medo, asco ou repulsa, e homofobia cognitiva ou social, que se articula na perfeição com a ideia liberal da tolerância. Esta última, bem familiar entre nós, resulta no facto de ninguém negar a homossexualidade ou até adoptar um atitude paternalista, sem que contudo se questione o status quo em termos de direitos efectivos. É o típico "não tenho nada contra", expressão eloquente da arrogância dos dominantes.

3 Comentários:

  1. João M disse...
    Muito bem.
    E sejam bem-vindos a Lisboa.
    Anónimo disse...
    Muito interessante!
    Essa perspectiva aproxima-se de alguma forma do denominado direito à indiferença de que tenho ouvido falar?
    Como encaras essa perspectiva que de certa forma descredibiliza a militância?

    c. alçada
    Major Tom disse...
    não tenho a certeza, mas suspeito que te referes à campanha da ILGA sobre "O Direito à Indiferença". se for, não há qualquer contradição com a militância, pelo contrário. talvez seja a necessidade de afirmação identitária que parece tornar como prioritário, numa primeira fase, o direito à diferença. embora possa parecer um paradoxo, em última análise, a meta é a de que a homossexualidade deixe de ser vista ela própria como uma diferença. é como em todos os movimentos sociais: é preciso ser visto primeiro, para depois poder desaparecer no todo (um todo feito de diversidade, claro). esta não é, contudo, uma perspectiva consensual...

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