Parar, por fim
As orquídeas vão de férias, finalmente, para que mais tarde possam florescer, tal como o amarelado de algumas folhas de árvore é já a promessa antecipada de um húmus que se transformará numa nova Primavera (ok, já é o delírio da partida a falar por nós...). Se realmente cumprirmos o nosso objectivo (que é ficar lá o tempo suficiente para ter vontade de voltar), daqui a quinze dias cá estaremos, a relatar de novo a fotossíntese do pensamento (pronto, foi a última bio-metáfora). Até ao nosso regresso, com a promessa de relatos de Formentera até à nausea!
Ass: Venus as a Boy e Major Tom
5 Comentários:
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je_bois
Ai, ai... Já me sentei no dofá estou à espera do jantar. Apetece-me mandar uns bitates mas nem me ocorre nada...
Vou deixar aqui, para começar uma parte de um texto de Primavera, agora que já é Outono e já não tenho trinta e dois mas trinta e três anos:
“A tua amiga”. Com que então eu sou a tua amiga… “Eu sei que vou-te amar por toda a minha vida” Eu sei. Senti-me lisonjeada. Um traste como eu… Que carrega pelas ruas uma torrente de palavras sem nunca as passar ao papel. A censura do papel. Que bom é o pensamento ser livre. Como me fecho dentro do meu cérebro com os meus pensamentos e me sinto orgulhosa de aqui ninguém poder entrar! Agora entro no metro. Hesitei toda a tarde sobre o que me apetecia fazer. Beber uma cerveja com tremoços, ler um livro na Ribeira… Fugir para casa, deitar-me e fechar as portadas. Fechar assim o quarto dentro do meu crâneo para aumentar o espaço da minha liberdade de pensamento. Jantar com amigos, muita gente. Ou só com o César e o Telmo. Jantar com o Elói e assistir ao ensaio.. Ir ver os Naifa com a Susana…
Apetece-me fazer tudo e tudo me aborrece. Tudo menos trabalhar. De repente de uma funcionária zelosa, cumpridora e eficiente transformo-me numa grande mandriona sem a mínima vocação para mexer no teclado. Penso na cerveja, nos tremoços, nos amigos… Revejo os meus amigos mentalmente. Dedico uma longa homenagem, mental a cada um deles.
Não gosto de escrever no Metro, abri um livro para parecer que tiro apontamentos. Vão pensar que me armo em intelectual. Ainda por cima ando de boina.
Passei hoje por uma prova de força. Cruzei-me com trinta trolhas e vinha de boina com um ramo de flores na mão. Apanhei frésias e reinucos (reinuculos? rainuculos?) para pôr numa replica de jarra romana que tenho a humanizar o meu canto no gabinete. Quero levar a vida e o mundo lá para dentro. Quero levar vida para a minha existência. Mudar de vida. De repente questiono tudo. Se me fosse dado observar numa bola de cristal aos vinte anos, uma breve síntese do que seria a minha existência agora aos trinta e dois anos, pensaria: Que feliz que vou ser! Ali está ela, a imagem: uma casa antiga para restaurar e viver, um homem bonito, sexy, bem humorado e calmo. Uma cadela e um gato. Flores. Um trabalho que não me enerva. Que feliz que eu vou ser, diria eu. E, no entanto, vejo-me apunhalada por este insulto à infelicidade. “Muda de vida se não te sentes satisfeito”. Eu não me sinto satisfeita.
E agora, que é Outono, já não sinto a vitalidade da primavera que me dava essa insatisfação. Agora que é Outono, sinto o murchar das folhas e por isso também não me sinto satisfeita.
Té (estendida no vosso sofá da sala à espera do vosso regresso nessas obscenas férias...)
olha, já nem me lembrava que escrevias tão bem. e nem imaginei que assinarias com um pseudónimo destes.
acho que tens direito a um blogue ou a que te dêem guarida num (este era óptimo). era só pa te dizer que sinto ultimamnte falta do teu ombro para secar o meu desespero. é nestas alturas que se vê que "mudar de vida" às vezes tem o seu preço:como o de precisar de chorar e gritar , mesmo que não tenhamos razão e sabermos que se ligarmos à Té ela nos vai fazer rir ou que se ela nos ligar somos nós que a vamos fazer rir. e quando pouco podemos fazer a não ser esperar o desígnio dos deuses e as ofensas de quem não nos conhece, mas devia, alguém fazer-nos rir é tão bom. parece que afinal nada é assim tão mau,que nós ainda não nos desintegramos e, quando a tempestade passar, vamos voltar a ser nós próprios.
1deabril