Apologia de um ateu paradoxal


A visão recente de Saraband, o último filme de Bergman, atiçara ainda mais em mim a vontade de ver as famosas “Cenas da Vida Conjugal”, que este filmara para a televisão trinta anos antes com as mesmas personagens. Num desses dias que nos lavam a alma, fizemos uma visita campestre a amigos e resgatei duas cassetes VHS com a série completa. Logo nas imagens iniciais, quando pedem ao protagonista masculino que se descreva em poucas palavras, este não resiste em desfiar um chorrilho de auto-elogios em tom sarcástico, mas acrescenta no final, numa pose contemplativa, que gosta da Paixão de São Mateus, de Johann Sebastian Bach. Lembrei-me daquelas dinâmicas que os psicólogos tornaram populares, seguramente como resultado do clima psicológio vivido durante a chamada guerra fria, em que o risco de uma guerra nuclear estava bem presente: o que levaríamos connosco para o abrigo anti-atómico ou para uma ilha deserta? Eu talvez não hesitasse na mesma predileção musical, e acrescentava-lhe uma outra paixão de pintura: aquela Flagelação recentemente contemplada numa ala deserta de Capodimonte, em Nápoles, e cujo autor respondia pelo nome de Michelangelo Merisi, dito o Caravaggio.

1 Comentário:

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