Os de olhos azuis
Seminário de mestrado. Sumário: visionamento e debate em torno do filme Blue Eyed.
Uma senhora nos seus cinquentas, Jane Elliot, de cabelos brancos e olhos de azul penetrante, ensaia perante um grupo de adultos um jogo sobre discriminação, repetindo uma célebre e polémica experiência feita por si própria com crianças, trinta anos antes, numa outra sala de aula. A premissa: a professora informa que, durante um dia, os meninos de olhos azuis serão tratados na escola como seres inferiores, sofrendo como tal todo o tipo de vexação por parte dos colegas e da própria professora. O objectivo: tomar consciência, na pele, da realidade da descriminação, por forma a induzir um comportamento tolerante no futuro. O pano de fundo ideológico é claro: a crença na sala de aula como laboratório social e, sobretudo, na infância como resultado de um conjunto de interacções que induzem uma socialização direccionada intencional ou acidentalmente (o interaccionismo simbólico de George Herbert Mead anda por aqui). O grupo de adultos lá se foi tentando arranjar como podia, resistindo emotivamente às invectivas da inflexível senhora. Nenhuma vez o autor do documentário se lembrou de lhes perguntar o que sentiram. O ponto de vista era uno: Jane Elliot e a sua demanda anti-racista.
Findo o filme, a discussão entre nós não acendeu, cá para mim porque todos gostaríamos de acreditar que os preconceitos e todas as nossas fobias podem ser abatidas, como se um vírus se tratasse, com uma simples vacina, de forma rápida (ainda que dolorosa), ou assim, em jeito de psicodrama.
Que mundo teríamos agora se assim fosse?