China Boom


A minha patroa (a do trabalho, que cá em casa não usamos dessas coisas) foi à China. Não é daquelas expressões que usamos quando queremos exprimir um exagero ou desconhecimento, tipo: 'isso para mim é chinês' ou 'isso fica praí na China!'. Não, a senhora foi mesmo à China, e relatou-me em primeira mão as suas impressões. Impressão número um: muita miséria, muita probreza (não é de admirar, a minha boss é assistente social, o olhar está viciado à partida); impressão número dois: há milhões de pessoas por todo o lado, mesmo que te garantam a pés juntos que estás numa cidade pequenina. Ela acabou por trazer no avião a vontade de se isolar numa encosta deserta em Trás-os-Montes. Interessante a coincidência: no mesmo dia (8 de Abril)tinha lido o editorial do José Manuel Fernandes no Público, em que debatia sobre a necessidade da Europa não se fechar enquanto mercado aos produtos chineses, mesmo reconhecendo o seu impacto nos sistemas produtivos do velho continente (basta pensar na agonia dos têxteis portugueses e nas senhoras que todos os dias me vêm parar às mãos à procura de emprego e de esperança). Sugeria JMF como moeda de troca a democratização do colosso chinês e sublinhava algo que raramente nos ocorre: o boom económico pode tirar muita gente da miséria. Porque é que isso parece tão invisível quando ocorre no outro lado do planeta? Por outro lado, isto não soa um pouco àquela ideologia liberal do mercado como mola de libertação?

2 Comentários:

  1. Rita Maria disse...
    Acho que parece invisível por duas razões: a primeira, porque a miséria e o fosso económico estão realmente a crescer na China, especialmente no interior rural cada vez mais desertificado.O crescimento económico da China, a cerca de 10% ao ano, é aliás ainda privilegiado pela falta de democracia, já que por exemplo greves e protestos de trabalhadores bem como sindicatos livres são proibidos, oque na realidade não é assim tão desconfortável aos capitalistas liberais.
    Por outro lado, não há como negar que o Partido Comunista Chinês vai, devido a ter de se sujeitar à sua decisão de introduzir o mercado livre, sendo obrigado a concessões que parecem prometer uma democratização. Mas fá-lo em nome da sua própria sobrevivência política por sua própria iniciativa, e vai-se aguentando neste sistema híbrido...
    A questão real é:transformar-se-ão algumas destas concessões, como a permissão de um papel e liberdade crescente dos media virar-se contra o feiticeiro?
    Major Tom disse...
    bem, este feiticeiro parece-me sabidolas e a prova é que foi colorindo a yellow brick road para a tornar mais apetecível. todos pressentimos, porém, que o que os espera no final do caminho não é uma welcome party...

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