Memórias de Celuloide: A Companhia dos Lobos


Poderão estar datados os efeitos especiais, e nem é propriamente uma inovação a ideia de tudo se passar durante um sonho de uma criança. Acontece que essa criança era já um ser sexuado e o desejo começava a despertar na metáfora do lobo mau. Acontece também que na altura em que o vi pela primeira vez nada me parecia tão interessante como o cinema de terror, e era nele que mergulhava ao fim do dia, procurando aquele torpor de que dificilmente me libertava.
Para mim são inolvidáveis as sequências dos encontros de terror erótico com os homens-lobo; os sermões da avozinha (Angela Lansbury, a detective de idade proveta de "Crime, Disse Ela") para a neta tomar cuidado com os homens peludos e com as sobrancelhas unidas (porque alguns são também peludos por dentro); a reencenação do mito do lobisomem, que tanto me fascinava e atemorizava; as pequenas histórias dentro da história, especialmente a famosa sequência do banquete dos aristocratas transformados em lobos e porcos por uma feiticeira proscrita. O filme foi um sucesso num Fantasporto de antanho, e daí para a frente era obrigatório seguir a carreira de Neil Jordan, pontuada com mais algumas pérolas: "O jogo de lágrimas" ou "O Fim do Romance" são bons exemplos. Um tema comum (com excepção do dengoso "Michael Collins"): a recriação da paixão à luz de aparentes 'desvios' à norma (a lista é longa: a carnalidade, as lolitas, a transexualidade, o homoerotismo, o incesto, o adultério...).

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