Aurora
Do mal o menos. Percebeu-se pela afluência de público que o pequeno mas simpático auditório do Teatro do Campo Alegre se veio substituir à ausência do Nun'Álvares como sala de cinema. Sobretudo quando o filme em questão já tem quase oitenta anos, e, mais do que isso, trata o amor de uma forma tão despudoradamente cândida que não conseguimos evitar, neste início de novo século, um sorriso nos lábios: Aurora, de F. Murnau, o tal que Truffaut, outro incorrigível romântico, considerou o filme mais belo de sempre. O título original do primeiro filme americano do cineasta alemão diz muito das suas intenções: Sunrise, A Song of Two Humans (como um tal Nosferatu, Uma Sinfonia de Terror). Tudo se passa como numa partitura musical, com ritmos variados, andamentos cruzados, passagens oníricas e piruetas virtuosas. O cinema revelava, com imagens que dificilmente esquecemos e de uma forma que faz tanto sentido hoje como na altura (ou mais, se pensarmos que o filme foi um flop comercial aquando do seu lançamento), como a vida podia ser tão absurdamente trágica como cheia de esperança.
(Por acaso já não o vejo há um par de anos, ainda bem que me lembras dele, já está na altura de o comprar em DVD para ver em noites em que me apeteça limpar a alma.)