Filosofia de piscina
Entro no átrio da recepção. Apresento o meu atestado de robustez física, que agora pedem a cada visita. Nos balneários dois tipos com fato de executivo, possivelmente na minha faixa etária, encetam uma conversa pouco animada. Parecem ter-se reencontrado após vários anos, talvez já tenham sido grandes amigos. Agora, sobrava embaraço, e faziam um esforço por esconder o corpo o melhor que podiam. Conversavam sobre as campanhas eleitorais, pareciam ter experiência de vida política.
- Então, ainda não tens filhos?
- Ainda não.
- Ainda não? Mas já casaste há quanto tempo?
- Há dois anos e meio.
- Pois, nós também esperámos bastante tempo.
Mergulho na água. Os gestos repetem-se. O braço prolonga e antecipa o movimento do corpo, as pernas quase pendentes, cedem o esforço à parte dianteira. Debaixo de mim, os ladrilhos sucedem-se, glaucos. Lembro-me dos pequenos atletas de competição treinados pela minha irmã. O que para mim é uma invasão de paz, para eles era um pesadelo que lhes roubaria a infância para sempre. Quão perversa pode ser a vida?
2 Comentários:
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- Daniel J. Skråmestø disse...
12:49 da tardeA vida só se torna perversa quando é vivida segundo o guião de "O que deve ser".- Major Tom disse...
10:30 da tardea única esperança é pensar que esse guião pode passar por várias versões...