Olhar o olhar
Não são poucos os trabalhos que procuram denunciar a linguagem como uma forma de pensar a realidade de uma forma preconcebida. Ao falar, ler ou escrever, eu remeto para um conjunto de símbolos e significados que não são culturalmente neutros, e advém daí a impossibilidade de conceber, por exemplo, uma investigação totalmente objectiva e imparcial. O preconceito, contudo, é também uma questão de olhar, olhar que é também uma construção em que todos mergulhamos e em relação ao qual necessitamos de reflectir de forma permanente (ou seja, não basta constatar que existe um pré-olhar para que ele deixe de existir de modo definitivo). É o que pode acontecer com uma visita ao Centro de Português de Fotografia, onde ainda se pode ver a exposição "África pelos africanos", simplesmente uma colectiva de fotógrafos africanos que nos apresenta uma pequena colecção de olhares do século XX (a provar que os movimentos sociais não só uma questão de voz, mas também de visão). Há uns anos atrás, também um clip de uma banda britânica deu que falar e fez-me pensar, pela eficácia com que conseguiu expor o modo como o nosso 'olhar de género' se apropria da realidade. Para os que não conhecem, um aviso à navegação: não devem ver no local de trabalho.
PS: o "Smack my bitch up" do título e do refrão é uma expressão de palco que quer dizer basicamente: 'vamos a isto!'