Marie Antoinette
Uma prisioneira num palácio. Um trabalho notável de reconstituição, de elaboração barroca, com imagens deslumbrantes (algumas mesmo sublimes) e enquadramentos que reconstituem na perfeição o imaginário pictórico da época. Todo o cenário, apesar de real, funciona como uma abstração: mil olhares vigiam os mínimos movimentos da rainha adolescente, joguete maior da encenação decadente do fim da velha ordem. As crianças são pequenos adultos, como muito bem observara Phillipe Ariès. A música, entre as composições de época para orquestras de câmara, e os sons urbano-depressivos dos New Order ou dos The Cure, insere-se no cenário e comenta a narrativa. Um filme arriscado (em todos os sentidos, sendo a ausência de 'comentário político' o mais evidente), mas quanto a mim conseguido, desse valor seguro que começa a ser a assinatura da Sofia Coppola.
M.João