Profissão: Repórter


Há um momento decisivo no filme Profissão: Repórter (o filme fantasma de Antonioni, três décadas fora de circulação - esta semana em exibição no Teatro do Campo Alegre): é aquele em que a personagem de Maria Schneider se dirige ao homem com quem decidiu escapar, sem saber muito bem de quê, e lhe pergunta precisamente isso - "de que é que tu foges?". O homem, ao volante de um descapotável algures no Sul ibérico, pede-lhe para se virar de costas no banco de trás, e nesse belíssimo plano de uma mulher suspensa a olhar para a estrada que fica para trás, com os cabelos a esvoaçar e os braços abertos, percebemos que é do passado que se fala, esse que o homem já tentara literalmente destruir, fazendo-se passar por morto e assumindo uma nova identidade, esse mesmo passado que nos torna prisioneiros dos papeis (de marido, de pai, de uma profissão, etc) e que arrastamos como um navio arrasta a sua âncora. A Jack Nicholson ficou a tarefa de encarnar o paradoxo da fuga e da incapacidade de fugir, e fá-lo lindamente.

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