Greetings from Major Tom
Não é que fosse segredo, mas finalmente decidi revelar a minha verdadeira identidade. A todos os que aqui pararem: que o Natal não seja tão mau como da última vez e que consigam atravessar toda a quadra com alguma réstia de sanidade mental, para nos voltarmos tod@s a encontrar por estas bandas depois da tempestade, são os votos muy sinceros do vosso Major, prestes a embarcar numa nova aventura nas margens do rio Minho (pelo menos até amanhã).
A bientôt!
Votos para 2005
Segundo um artigo recente que saiu na revista "Pública", eis algumas das razões para se praticar sexo:
- É um exercício, logo, bom para a saúde;
- (...) exerce efeito sobre a líbido e leva ao desejo por mais sexo, portanto, à prática de mais exercício;
- Diminui os níveis de stress e ansiedade;
- Gasta calorias (...);
- Contribui para a diminuição de dores de cabeça e dores nas articulações;
- Baixa os níveis de mau colesterol (LDL) e aumenta os níveis de bom colesterol (HDL) (...);
- Aumenta os níveis de oxigénio nas células;
- Ajuda a manter a próstata saudável (...);
- Beneficia o sistema imunitário e cardiovascular feminino (...);
- Fortalece os músculos (...).
Uma vez que vou passar uma semana de férias sem acesso à net, completamente afastado das novas tecnologias, aqui ficam os meus votos para 2005. Espero que sejam todos muito saudáveis e pratiquem muuuuuuiiiiito sexo! ;)
Auto-corte
Foi este o resultado de uma das minhas maiores proezas nos últimos tempos: um auto-corte de cabelo, com a ajuda de uma super-máquina, uma tesoura e dois espelhos.
Proezas a pedido no salão Major Tom só com marcação.
Menina não entra
É a maneira mais apetitosa de ir pondo o inglês em dia, e inclui várias preciosidades, entre as quais textos do Edmund White e do Alan Hollinghurst. Ideal para leitura de cabeceira, de preferência com alguém ao lado com os mesmos gostos... literários ;-)
O exorcismo
E finalmente, depois de algumas semanas a adiar por este ou aquele motivo, lá conseguimos reunir quorum para uma sessão de cinema em casa. A escolha - "O Exorcista", do William Friedkin, a mega-famosa história da rapariguinda possuída pelo demónio. A atmostera de terror não resultou, seguramente por causa das expectativas excessivas, alimentadas com anos consecutivos de mitologias não fundamentadas que sempre rodearam o filme (e também por termos desenvolvido todos, penso eu, alguma imunidade contra todos aqueles fantasmas do catolicismo e da sexualidade...). Para outras leituras mais aprofundadas e imagens verdadeiramente arrepiantes, cá vai uma sugestão ;-)
Purrfect!
Para não dizerem que só posto sobre gajos e com gajos, cá vai uma bela foto daquela que Orson Welles uma vez considerou a mulher mais excitante do planeta (não, não era Ava Gardner, essa era o animal mais desejado...). Ela canta, ela interpreta, ela fala cinco línguas! Não há par para a fabulosa Eartha Kitt! C'est ci bon...
"Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti"
Conversa com Maloof
Amin Maloouf hoje em entrevista no programa Por Outro Lado, segundo canal, pelas 23 horas. A não perder!
"Nasceu em 1949 numa aldeia do Líbano e, tal como o pai, começou muito jovem a exercer a profissão de jornalista. Acabado de chegar de uma reportagem em Saigão e de uma entrevista em Nova Delhi com Indira Gandhi, Amin Maalouf assistiu da janela da sua casa, em Beirute, a 13 de Abril de 1975, ao violento episódio que desencadeou a guerra civil. Decidiu ir viver para Paris onde, anos mais tarde, já depois do êxito de "As Cruzadas Vistas pelos Árabes" e enquanto escrevia "O Leão Africano", sentiu que queria dedicar-se exclusivamente à literatura. Esteve em Lisboa para o lançamento de "Origens", uma pesquisa sobre a vida dos seus familiares desaparecidos na qual revisita os últimos 150 anos de História da região."
Às voltas com este pensamento
Quase todos precisamos de viver perto da água, mas existem pessoas-rio e pessoas-mar. Eu sou das últimas.
Nós e o Universo
Não me conformo. É mesmo muito estranha esta ideia de que olhando para o céu, à noite, aparte a poluição visual, e se as constelações estiverem bastante acima do horizonte, conseguimos ver a luz de estrelas que já morreram há milhares de anos, que viajou até nós a mil vezes zzt por segundo. Dá para duas sensações: ou nos deixamos encher com a incomensurabilidade de tudo isto, ou nos sentimos microscópicos e absoluta e inquestionavelmente insignificantes. Sirvo-me da última sempre que me sinto a sufocar com algum problema me pareça verdadeiramente grave e inultrapassável.
Javier's back
O homem que se revelou neste filme de Bigas Luna, e que já nos presenteou com várias performances de primeira água (incluindo as personagens gay em Segunda Pele e Antes do Anoitecer ou o violento furacão de As idades de Lulu) está de volta, de novo para mexer connosco. Curiosamente, não foi em nenhuma das personagens de filmes que em Espanha já chamam de gayxploitation que o portentoso Javier se foi afirmando. Gosto do epíteto: el feo guapo. Novidades em breve...
As origens de Amin Maloouf
Ainda a propósito das identidades, mas desta feita às voltas com a ideia de nação, lembrei-me de uma muy interessante entrevista do Amin Maalouf, sob pretexto do lançamento da tradução portuguesa do seu novo romance autobiográfico "Origens". Escritor nascido no Líbano e residente em França, já no anterior "Identidades Assassinas" insistia nesta ideia, do quão brutal pode ser esta tentativa omnipresente de encaixar toda a gente numa palavra e numa bandeira, nessa constelação organizada de interesses que dá forma às nações. Citando, do prólogo deste novo livro: "Não gosto de raízes e da imagem ainda menos. As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas, mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: 'Se te libertas, morres!' As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu e quando nos metemos na terra é para apodrecer.(...) A única coisa que nos une uns aos outros, para além das gerações, para além dos mares, para além da Babel das línguas, será o ruído de um nome."
Judith Butler
Assim, por acaso, dou de caras com a tradução do citadíssimo, mas pouco lido, Gender Trouble, desta... professora de Literatura Comparada e Retórica da Universidade da Califórnia (!), que revolucionou a linguagem da identidade e do género com o seu questionamente desarmante, um dos pensamentos que mais substância conferiu à (mais falada do que compreendida) teoria Queer. Neste trabalho em particular (em fase de leitura), ela questiona algumas posturas do feminismo que, segundo ela, poderão ter contribuído para tornar o conceito de género em algo mais essencialista e cristalizado, não tomando em consideração o lado performativo desta e de todas as outras dimensões da nossa identidade. Em última análise, esta pensamento coloca em questão o próprio conceito (estático) de identidade. Não admira que psicólogos (...e outros 'ólogos') no mundo inteiro fiquem automaticamente com os cabelos em pé com a senhora.
Já agora, a tradução é brasileira, e para quem estiver interessado - "Problemas de Gênero - Feminismo e subversão da identidade", a editora é a Civilização Brasileira.
Em Portugal, saiu muito recentemente um livro muito interessante e percursor nesta área (no nosso país): "Indisciplinar a Teoria - Estudos Gays, Lésbicos e Queer", organizado pelo Fernando Cascais e editado pela Fenda. Para quem se interessa por estas coisas, já conhecerão a maior parte dos intervenientes; para estes e para os outros, fica a sugestão de uma bela prenda de Natal. Outras sugestões em breve...
One from the heart
A outra hipótese no meu personal best de divas improváveis, a fabuloso Terri Garr, nesse fabuloso delírio de Francis Ford Coppola, o tal que levou o Zoetrope, esse sonho de regresso a uma comunidade cinematográfica americana, à falência. Os motivos para o flop ainda não são muito claros: o vanguardismo visionário da obra não parecem explicar tudo, e parece plausível a hipótese de boicote por parte da própria máquina hollywoodesca, pouco interressada em assistir ao sucesso deste rebelde com causa.
Não conseguiram. O cinema nunca foi mais o mesmo.
PS: é tudo bonito de chorar - os actores, os cenários, as músicas, a mise en scene...(obrigado pelo DVD, môr!).
Provocações
Finalmente calhou-me na rifa um professor destemido, que não se ensaia nada para acender polémicas na sala de aula. A última foi a afirmação de que a democracia é um regime muito caro, e daí a sua inexistência nos países pobres. A anteceder a afirmação, a cristalina explicação: a percentagem de pessoas às quais era conferido o direito de voto foi, no nosso país, ao contrário de toda a Europa Central e do Norte, diminuindo entre as décadas de 1870 e 1930, estabilizando até aos anos 60. Por sua vez, a evolução do Produto Nacional Bruto caminhou no mesmo sentido, o que explica que, se em 1870 tínhamos duas vezes mais (!) rendimento per capita que a Dinamarca, 50 anos depois apenas atingíamos 35%. Contudo, a esperança não morreu. Os últimos 30 a 40 anos tornaram Portugal num case study de sucesso na tentativa de recuperar o tempo perdido (e aqui cabe obviamente o salto enorme em termos de escolarização, que podemos constatar simplesmente comparando as nossas habilitações com as dos nossos pais e as destes com as dos nossos avós). Daí também a gravidade extrema da queda dos últimos 4 anos. É como se o TGV de repente decidisse parar num apeadeiro de província. O problema é que todos as outras linhas continuaram activas...
PS: engraçado, as Renas têm andado às voltas com as mesmas interrogações...
Anti-natal
Tenho uma série de prendas para comprar (incluindo a que os meus pais me querem oferecer!) e só me apetece fugir das lojas apinhadas de produtos e pessoas, das ruas iluminadas, das músicas insuportáveis, da cara do Pai Natal que já não se aguenta, da chuva, dos encontrões...
Para além do bacalhau da noite de natal (eu detesto bacalhau cozido!!!!), e daquelas horas todas de reunião familiar forçada...
Eu até que nunca acreditei no Pai Natal...
Estou ansioso para que esta época passe rápido! Só penso na semana de férias que vou tirar a seguir. Só me apetece ouvir o som do vento, da água e dos pássaros. E estar na companhia dos meus amigos, dos seus abraços e risos.
Espinho at sunset
Ir a Espinho agora é mesmo ir num pulinho, com a novíssima auto-estrada. Confesso que sempre tive uma relação ambivalente com a cidade: bela, por um lado - quando me recordo das idas à enorme piscina (na altura para mim o trampolim mais alto tocava o céu), dos passeios com o meu pai, quando íamos lanchar camarão (era a minha ideia de uma refeição sofisticada) ou das sessões animadas do Cinanima; feia e desconfortável, por outro lado, quando olho para o seu urbanismo irresponsável ou quando toda ela se dá ares de snobismo burguês.
À beira-mar, é bom cruzar as pernas em cima da amurada e contemplar os surfistas do pôr-do-Sol, nessa dança ao mesmo tempo suave e feroz que os coloca em diálogo com as ondas, como corvos negros que de repente se descobrem crianças. Deve ser bom...
Dilema interior
Posta a questão desta maneira, como é possível alguém não gostar do branco na roupa interior? Quando muito a questão pode ser redireccionada para a dualidade "slip ou boxer". Eu confesso que ainda não consegui tomar posição... sobre o assunto.
O amigo ibérico
Acho que já foi há quatro ou cinco anitos. Sei que aconteceu no Inverno das cheias e das trevas das chuvas infindáveis (não sei porquê, recordo-me que tinham começado no dia exacto em que a PJ Harvey vinha dar um concerto ao ar livre em plena Rua de Santa Catarina, por ocasião da inauguração da Fnac; a coisa acabou por ser transferida para o Rivoli, para gáudio de um grupo de ferrenhos mais combativos). Fomos para Ponte de Lima, e lá foi ter o Fidel, a transbordar de um humor cínico que me cativou pela liberdade que parecia transportar. De visita ao Porto, foi com ele que entrei pela última vez no Boys'R'Us, e foi na mouche a mímica que fizeram da Isabel Pantoja. Mais tarde visitámo-lo em Madrid, e revelou-nos uma cidade supreendente e mais viva do que eu podia imaginar.
Nunca mais nos vimos. As amizades têm destas irresponsabilidades. Mas segundo ele, consegui captar o seu sentido de humor neste desenho, enquanto conversávamos sobre o quão rídiculo era ser patriótico.
visão
o da serra é um rumor que esmaga
a corrente não reflecte o céu
como se ele morasse no fundo do rio
e nós no meio
a tentar respirar este Inverno húmido e melancólico
Teenage wonder
Das coisas que mais sinto falta é da capacidade para me maravilhar, aquela sensação intensa de estar a presenciar algo de único, fabricado propositadamente para mim. Era essa a experiência de ver Bergman ou Fellini, de ver o Indiana Jones no maior ecrã do país, no Coliseu do Porto, de ler Oscar Wilde ou ouvir David Bowie. Depois o prazer deu lugar à racionalidade, e já não conseguia atravessar as vivências sem me distanciar e procurar os limites do cenário, encontrar os bastidadores, e expôr aos olhos de todos o mundo real onde tudo era inventado. Desse mergulho na razão apenas retenho uma vontade muito grande de não me assustar com sensações que não me cabiam no peito. Talvez a adolescência seja isso, essa megalomania emocional. É preciso tempo (e vontade) para regressar sem vergonha ao maravilhamento, a essa capacidade de nos rendermos ao imprevisto.
Autografia de um homem II
Magnífico, comovente e inquietante, o documentário que o Miguel Gonçalves Mendes construiu à volta da presença do Mário Cesariny. O poeta/pintor/agitador relembrou-me uma infância de sonhos em pleno voo.
Pontos altos (citando de memória):
"- Eu fui grande numa altura em que o tecto era muito pequeno."
"-Neste país, aplaudem-nos em apoteose num palanque e dão-nos prémios. Depois deixam-nos ir sozinhos para casa."
"-Não me deixaram ter aquele amor. Então passei ir para a cama com toda a marinha portuguesa!"
"- Quem é que o Mário mais amou na sua vida?
(pausa)- Infelizmente, acho que fui eu próprio..."
Já ninguém responde à vida com esta franqueza combativa.
Autografia de um homem
Sou um homem
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo uma pedra
uma pedra configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra (...)
Autografia, um poema de Mário Cesariny e título do documentário de Miguel Gonçalves Mendes. Vi ontem à noite no cine-estúdio do Teatro Campo Alegre. Ri, chorei, arrepiei-me e saí da sala com um enorme sorriso.
Queixume
... e estou farto de trabalhar num sítio onde não se sabe trabalhar, de ter compromissos sem me querer comprometer, de estar preso pelas horas e pelos cabelos, de não me convencer a fazer o que quero, de perceber diariamente a ignorância do mundo...
Oh well, that's life...
Auto-teste (parte 2)
E a mim deu-me o seguinte resultado:
Esquerda/Direita: -5.25
Autoritarismo/Libertarismo: -7.18
Auto-teste
A mim deu-me este resultado:
Esquerda / Direita: -8.62
Autoritarismo / Libertarianismo: -7.90
Bambu science
Fiquei a saber algumas curiosidades sobre bambus. Primeiro, e esta é universal: assim que dá flor, o bambu morre (uma espécie de canto do cisne aplicado ao reino vegetal). Segundo: alguns bambus podem durar várias centenas de anos (nada bate a clorofila!). Terceiro: há uma espécie de bambus que tem uma morte colectiva, ou seja, independentemente do ponto do mundo em que estejam localizados, todos os indivíduos pertencentes a essa estirpe desaparecem, numa espécie de demonstração universal de solidariedade de classe.
A tentação das metáforas é grande. E se estivessemos a falar da da espécie humana?
Anyway, são factos belos per se.
Tecnomundo
Assumo. Sou tecno-handicapado. Meia hora para cada post, um template que já enjoa e no qual não sei mexer, e agora nem imagens consigo adicionar.
Ajuda precisa-se...
"Eu digo não ao não!"
Por vezes, viciados no nosso próprio ponto de vista, deparamo-nos com a realidade e ficamos incrédulos. Tenho consciência de que vivo num meio privilegiado, onde as questões da homofobia já não me afectam directamente há bastante tempo, pelas circunstâncias em que circulo e pela própria postura que fui assumindo em diferentes contextos: pessoal, familiar, laboral, afectivo, etc. Contudo, reconhecer que existem outras realidades não me tem bastado (deve ser lá por aquele bichinho que o José Mário Branco tão bem definiu na música “Inquietação”). Por essas e por outras, e agora que voltei à escolinha, decidi orientar o meu trabalho de investigação para esta área, procurando perceber qual a dimensão do fenómeno da homofobia nas escolas, sobretudo junto do corpo docente. É também este bichinho que poderá ter sido espicaçado com um telefonema a meio da semana a convidar para uma reunião de trabalho para reflectir sobre a possibilidade de formar um grupo de trabalho LGBT na invicta, que procurasse continuar um trabalho já iniciado mas interrompido. Espero ter lido no sorriso esperançoso da Gabriela Moita um doce prenúncio de um projecto a acarinhar.
Infelizmente nestas coisas só consigo ser como o São Tomé...
Trabalho social superstar
Mais uma deslocação a Lisboa, desta vez para mais um encontro transnacional sobre economia social. O meu descrédito e a minha incapacidade para acreditar neste tipo de trabalho aumentam a olhos vistos, de encontro para encontro. É como se os técnicos dos projectos vivessem numa espécie de circuito de auto-celebração, a louvar com pancadinhas nas costas (e aprovação de mais projectos) os seus próprios "sucessos". Bem sei que é uma batalha dura e que o adversário é descomunal, que lutar dentro da sociedade civil por soluções alternativas à economia global é algo que devo sempre defender... mas não a todo o custo. Parecemos incapazes de reconhecer os insucessos, e a própria fadiga das dinâmicas nos tolhe a criatividade para procurar alternativas. Como alguém dizia neste seminário, onde foi apresentada a criação de mais um observatório social, desta feita virtual: "qualquer dia temos mais observatórios do que observados"! A verdade é que já dispomos de estruturas, públicas e civis, que pura e simplesmente não são utilizadas. Há aqui também uma espécie de cegueira tecnicista, um tanto ou quanto arrogante, que me faz sempre suspeitar que o discurso do empowerment das populações-alvo das intervenções sociais não passa de um adorno linguístico. Nunca me conseguiram provar que as soluções já estão todas pré-definidas, e ninguém resiste à tentação de pensar que descobriu a panaceia para todos os males. E mais, ninguém refere sequer o próprio interesse dos sujeitos deste trabalho. Ou seja, se existem respostas disponíveis e se as pessoas não aderem... o problema está nas pessoas?
Inquietações culturais
Por muito redundante que me possa parecer a mim próprio escrever sobre as minhas próprias deambulações, mentais e outras, talvez seja engraçado um dia rever tudo isto com o olhar de um outro eu, noutro cruzamento do espaço e tempo. As últimas inquietações mereciam dedicação para me debruçar sobre elas com maior intensidade e sobretudo para delas retirar maior substância.
Primeiro: o livro "Amar não acaba", do Frederico Lourenço conseguiu apagar a impressão negativa de outro livro dele que li, um romance. Aqui é uma pequena mas simpática e pertinente tentativa de auto-biografia. Como todos os auto-retratos, é também um retrato da sociedade durante aquele período, aquele em que o acompanhamos desde a infância ao início da vida adulta.
Inquietação nº 2: "2046", de Wong-Kar-Wai: a valsa lenta continua, realmente desta vez mais fria e calculista, mais congelada nas memórias do personagem do sr. Tony Leung (claro que não é por isso que a presença das mulheres seja menos significativa, todas elas são absolutamente magníficas). Tudo parece caleidoscópico, sentimo-nos imersos num mar de espelhos. Não é de facto a perfeição do anterior, e a melodia a que o realizador nos habituou é quebrada a espaços por harmonias dissonantes, mas... talvez isso seja redundante num universo do qual não temos a certeza de termos saído no final do filme.
Inquietação nº 3: Bertolt Brecht revisto, versão teatro de Barcelona no Rivoli. A peça: Santa Joana dos Matadouros, numa encenação a meu ver não muito feliz, com uma overdose de elementos multimédia a quererem à viva força trazer para o presente um texto que é actual pelo próprio conteúdo das suas palavras. Detesto quando os encenadores nos querem explicar tudo, como se nos achassem já tão anestesiados que fossemos incapazes de pensar sozinhos...
O declínio do império
Nestes tempos em que os afazeres nos engolem os gestos, em que uma fantasia de delírio pós-modernista chamada Natal toma conta do país e em que um governo faz-de-conta finalmente é desmascarado, estar com os amigos, em diferentes ritmos e quantidades parece ser a melhor prescrição para uma vida mais protegida desta promessa de apocalipse.