Inquietações culturais

Por muito redundante que me possa parecer a mim próprio escrever sobre as minhas próprias deambulações, mentais e outras, talvez seja engraçado um dia rever tudo isto com o olhar de um outro eu, noutro cruzamento do espaço e tempo. As últimas inquietações mereciam dedicação para me debruçar sobre elas com maior intensidade e sobretudo para delas retirar maior substância.
Primeiro: o livro "Amar não acaba", do Frederico Lourenço conseguiu apagar a impressão negativa de outro livro dele que li, um romance. Aqui é uma pequena mas simpática e pertinente tentativa de auto-biografia. Como todos os auto-retratos, é também um retrato da sociedade durante aquele período, aquele em que o acompanhamos desde a infância ao início da vida adulta.

Inquietação nº 2: "2046", de Wong-Kar-Wai: a valsa lenta continua, realmente desta vez mais fria e calculista, mais congelada nas memórias do personagem do sr. Tony Leung (claro que não é por isso que a presença das mulheres seja menos significativa, todas elas são absolutamente magníficas). Tudo parece caleidoscópico, sentimo-nos imersos num mar de espelhos. Não é de facto a perfeição do anterior, e a melodia a que o realizador nos habituou é quebrada a espaços por harmonias dissonantes, mas... talvez isso seja redundante num universo do qual não temos a certeza de termos saído no final do filme.

Inquietação nº 3: Bertolt Brecht revisto, versão teatro de Barcelona no Rivoli. A peça: Santa Joana dos Matadouros, numa encenação a meu ver não muito feliz, com uma overdose de elementos multimédia a quererem à viva força trazer para o presente um texto que é actual pelo próprio conteúdo das suas palavras. Detesto quando os encenadores nos querem explicar tudo, como se nos achassem já tão anestesiados que fossemos incapazes de pensar sozinhos...

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