Como ela se afogou


Edward Hopper. Summer Interior, 1909

E pronto. Noutra sessão de insónia, a madrugada encarregou-se de dar conta do que faltava do último livro (traduzido) de Jim Grimsley, autor caro cá em casa por "Um rapaz de sonho", "Consolo e alegria" ou "Boulevard". Desta vez, em "Como me afoguei", regressa ao universo da memória, que para ele parece ser sempre uma espécie de manifestação fantasmagórica que assombra os personagens, como um ectoplasma onde eles respiram com dificuldade. Não há nada de agradável nesta narrativa (demasiado prolongada, na minha opinião bastava um conto ou uma canção gótica para arrumar o assunto de forma mais económica), onde se fala da miséria e a ignorância da ruralidade americana dos anos quarenta, com todas as suas manifestações, descritas de forma eloquente, num estilo sonâmbulo, na primeira pessoa do feminino: a fome, a violência doméstica, a promiscuidade, a pedofilia, a exploração do trabalho infantil, ou a implacável ausência de luz num mundo sujo e visitado por monstros. Ou foi tudo impressão causada pela visita de Ellen, a pequena protagonista, ao limbo do meu próprio sono?

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