A semântica do casal


"Cenas da vida conjugal". O filme que todos os pais deveriam mostrar aos filhos (ou deverei dizer antes as mães às filhas) antes de estes se porem com ideias matrimoniais. Nos idos de setenta e tal do século XX, dois actores no seu apogeu - a extraordinária Liv Ullman e o excelente Erland Josephson - dirigidos pelo seu mestre habitual, Ingmar Bergman, dissecavam até à medula a dolorosa experiência da vida em comum. Composto por vários capítulos - Inocência e pânico; A arte de fazer como a avestruz; Paula; O Vale de lágrimas; Os analfabetos; e No meio da noite numa casa às escuras algures no mundo - retrata o processo de dissolução de um casal após dez anos de casamento, através de diálogos estarrecedores e envolventes grandes planos, que procuram fazer o espectador mergulhar naquela intimidade emocional. Parece impossível voltar a assistir à mesma capacidade de enfrentar a crueza das verdades escondidas pelo quotidiano da vida a dois, seguramente não com esta intensidade e respiração, que atribui um significado a todos os silêncios e inflexões de voz. Não é extraordinário realizar quantos significados podem ter pequenas expressõs diárias como "então que fizeste durante o dia?".
Trinta anos depois reencontramos Marianne e Johan, o casal de protagonistas, em "Saraband", mas os propósitos são outros. Da ilha de Farö, na Suécia, para o resto do planeta.

2 Comentários:

  1. Rita Oliveira Dias disse...
    Lembro-me de ver na televisão e gravar nas velhas vhs, já conhecia o realizador mas nunca o vira tão "palavroso". Aqueles dialogos encheram-me de temor não sei bem a quem ou a quê. Aquela escrita/imagens doiam e nunca me esqueci de uma cena em que depois do casal fazer amor, ela corria para o bide para se lavar e ele lhe dizia que ela sentia nojo dele.
    Major Tom disse...
    Bem, é verdade que o retrato é negro, mas não será a adversidade muitas vezes o que torna as coisas mais desafiantes e compensadoras? O mais difícil talvez seja afinal realizar que cada casal é um universo distinto.

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