Mina de ilusões

Algumas pessoas chamaram-me a atenção para esta notícia. Não era novidade porque os repórteres tinham andado por lá a rondar nas instalações. Estive envolvido na fase inicial da criação desse projecto de apoio ao empreendedorismo, uma medida financiada por um programa europeu de promoção da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Baptizámo-lo de MINA (sigla de Mulheres e Ideias, Negócios em Acção, por ser um nome feminino, mas também por evocar um espaço onde se podiam descobrir e trabalhar ideias com valor). Pessoalmente, sempre considerei a minha vinculação um grande erro de casting, dado que me solicitavam um optimismo e um sentido de visão das oportunidades de negócio que o meu cepticismo e pessimismo endémico me tolhia à partida. Claro que adoro ser contrariado pelas evidências, e nada disto impede que eu tire o meu chapéu às novas empresárias e à sua capacidade de iniciativa (apesar de tudo estas eram licenciadas e dispõem de vários tipos de retaguardas, ressalve-se). Mas que no mundo da intervenção comunitária e do desenvolvimento local (esse universo de boas intenções mas também de arrogâncias etnocêntricas e de cultosinhos de personalidade) anda muita gente sem os pés assentes na terra, lá isso anda. Não me parece que encher o mundo de mais ilusões, ainda que reluzentes e com bom ar, vá resolver a situação.

4 Comentários:

  1. Rita Oliveira Dias disse...
    Como se fossem soluções um pouco mágicas e pudessemos resolver todos problemas caminhando individualmente. Uma espêcie de sucesso individual e individualista, um sonho americano para todos. Não sei se te percebi.
    Major Tom disse...
    É verdade que uma parte das mulheres que se lançam fazem-no porque não encontram alternativas de emprego. Essas são as que no final geralmente também não reunem condições para arrancar (ou por falta de capital, ou por falta de consistência do projecto). As que finalmente conseguem avançar vão muitas vezes motivadas simplesmente pelo desejo de não terem que cumprir ordens de ninguém (o que também pode ser legítimo), mas possuem estruturas (financeiras, familiares, qualificações) para a aventura. Mais a mais, aquilo a que estamos a chamar oportunidades de negócio (em boa parte serviços de apoio à comunidade: para idosos ou crianças) são na verdade, na perspectiva do homem de esquerda que me considero, espaços indevidamente deixados em branco pelo Estado. Finalmente, existe uma representação acerca deste tipo de programas como panaceias, coisa que realmente não têm o alcance para ser. Não quero com isto dizer que o trabalho na comunidade, pelo contacto mais próximo com as 'outras' realidades, não seja válido e imprescindível. Com o tempo, tenho aprendido a ver a esperança como uma arma fundamental.
    Rita Oliveira Dias disse...
    Entendido.
    Anónimo disse...
    Keep up the good work » »

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