Geração bomboca


Eu era mais bolacha de água e sal. Lá em casa era raro entrar algo mais exótico: no máximo uma bolacha Maria, um biscoito de manteiga ou uma embalagem de sortido, oferecida por uma tia de visita à cidade, tudo muito de quando em quando e bem racionado, para não esbanjar. Era o mundo das sacolas de pano para o pão, com orla bordada pela avó ou da marmelada impreterivelmente caseira, cozinhada com grande pompa no início do Outono, para ainda poder secar na varanda, com um papel vegetal a proteger das abelhas curiosas. Quando penso nisso, percebo melhor os meus ataques de ansiedade perante um corredor de hipermercado, que sintetiza bem o meu pavor pelo capitalismo do novo século. É que eu sou herdeiro do desprezo (hoje em dia problemático) pelo bolycao, pelos enlatados ou refeições pré-confecionadas, e um dos derradeiros nostálgicos da bomboca.

2 Comentários:

  1. João M disse...
    Eu nos sábados invernosos costumo ir ao Modelo e compro montes de porcarias para comer deitado no sofá. Normalmente começo pelos marshmallows e depois não tenho vontade para mais nada. É o que dá fazer compras com fome. Isto para dizer que há guloseimas deliciosas! Mas é claro que é um sábado de tédio. O "capitalismo do novo século", que nos oferece uma vida sem privações, também nos oferece sábados invernosos de tédio.
    Major Tom disse...
    you've gotta a point there, Johnny

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