Imitação da vida


De volta às lições de cinema. É como me sinto ao ver a série que o Martin Scorsese tem dedicado ao cinema italiano (às terças, por volta das 22h30, na 2). Sinto-me especialmente identificado com as projecções que ele elabora entre os filmes e o seu próprio crescimento enquanto cineasta ou produtor de imagens, mas sobretudo como pessoa e como cinéfilo, misturando sem pejo referências consensuais com outras que fariam corar até um crítico de cinema mais heterodoxo. Há dias assisti, na TV, ao empolgante 'Imitation of Life', um clássico do muito imitado Douglas Sirk (pense-se em Almodovar, que sempre assumiu a sua influência). O filme conta com a drama queen Lana Turner (na imagem), mergulhada numa intriga de amor e ambição, e com um ingrediente assaz picante para a época: o racismo. O título cai como uma luva na trama, sobretudo em duas personagens: a diva, atriz dentro e fora dos palcos, e a filha mestiça da criada negra, que tenta a todo o custo esconder a sua origem. Sempre me fascinaram estas metáforas teatrais, com o dilema ficção/realidade a (des)nortear a trama. Por coincidência (ou talvez não) estava a ler mais um romance do Sommerset Maugham, 'As paixões de Júlia' (Theater, no original), recentemente feito filme com a admirável Annette Benning. Não assisti à versão cinematográfica, por isso não posso dizer se também nela o palco se sobrepunha à realidade na vida dos personagens.
Engraçado como também a mim me invade frequentemente esta sensação de estar a imitar a vida, como se ainda não me tivesse habituado totalmente à ideia de ter crescido, e continuasse a brincar aos adultos. O que me assusta nessas alturas é pensar que nem sempre é a energia e a criatividade da nossa criança que permanece, mas antes o medo do escuro.

2 Comentários:

  1. João M disse...
    O Douglas Sirk e o technicolor é uma grande falha minha. O facto de gostar muito do François Ozon e o Almodovar faz-me pensar que é uma falha grave.

    Gostei muito do vosso blog.

    Abraços.
    Major Tom disse...
    bem, claro que isto são considerações de quem está de fora, mas parece-me são dois cineastas que respeitam e recriam uma genealogia cinematográfica que começa nos filmes do Capra, passa pelos do Billy Wilder e, claro, pelo George Cukor, o cineasta predilecto das mulheres

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