Educar adultos para quê?

Em mais um encontro sobre educação e formação de adultos, Rui Canário encerrou o painel naquilo que me pareceu ser um contributo interessante para ajudar a dissipar a névoa que se foi estabelecendo ao longo do dia. Afirmou inicialmente que neste campo se opera actualmente uma "distribuição de ilusões", ou seja, assistimos a um acréscimo nas iniciativas de educação e formação, mas simultaneamente há uma redução real das ofertas de emprego e uma desvalorização das qualificações. Paralelamente, e não obstante uma insistência particular nas questões da cidadania em contexto de formação, também nos deparamos, segundo ele, com uma institucionalização da anomia dos sistemas democráticos (a crise de representação política e de todo o sistema eleitoral, assim como a adesão a projectos bélicos sem legitimação foram dois exemplos avançados). Ao mesmo tempo, Canário alerta para as perversões discursivas e ideológicas que iniciativas como os Cursos EFA (Educação e Formação de Adultos) ou os Centros RVC (Reconhecimento e Validação de COmpetências) poderão transportar; a chamada de atenção aqui vai para a exposição da empregabilidade como um problema centrado no indivíduo e que como tal poderá ser alvo de uma intervenção para combater esse défice, quando na realidade o que se verifica é um real problema de emprego, que se tenta ocultar mistificando a abordagem. Nesta óptica, estas medidas poderão apresentar-se apenas como meramente paleativas, sem enquadramento. Estamos muito distantes da ideia do toque de flauta como gesto revolucionário, imagem simbólica das experiências de auto-gestão da formação de adultos nos anos 70 (foi evocado o caso italiano). VIvemos sob a tutela de instâncias supranacionais (Bruxelas, Microsoft, etc) que ditam as linhas orientadoras neste campo, que parece perder assim a sua autonomia e o seu potencial transformador. Por fim, foram ressalvadas pela positiva alguns dos projectos apresentados ao longo do dia, que colocaram um acento tónico na ideia da simetria entre o educando e o educador e na aproximação ao local, por via da rede associativa e da integração dos projectos de educação e formação no âmago da negociação, colectiva e democrática, do desenvolvimento.

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