How's the family?


Quem conhecer a discografia do Lou Reed melhor do que eu, há-de saber de que álbum é uma música 'Families' (talvez do 'The Bells'?), em que ele desfia o rosário de emoções e complicações que são os laços familiares. A minha teoria em relação às famílias é a de que as devemos manter o maior tempo possível afastadas das nossas relações amorosas. Talvez isso tenha a ver com a maior ou menor dificuldade que cada um tem em comunicar com o próprio passado e presente desses laços, mas também tem a ver com o receio das rupturas. Romper numa relação em que as famílias já foram chamadas ao barulho não é só romper com o namorado, é quebrar com todo esse mundo afectivo, e isso pode ser muito mais complicado (para todos).
Mas pronto, toda esta elaboração mental não resistiu ao charme imbatível daquele casal, e os pais do Venus entraram na minha vida, pressentindo a minha orfandade emocional. Ainda hoje, passados 5 anos, tenho dificuldade em decifrar aquela tranquilidade, o calor que sinto na sua presença, como se emanasse do próprio ar um abraço reconfortante, daqueles que nos acalmam na infância depois de um choro convulsivo.
Recomendava, se soubesse onde se arranja mais...

2 Comentários:

  1. Anónimo disse...
    Como é bom ouvir essas palavras... nem sempre acreditei ser possível que os meus pais pudessem um dia acolher o meu namoradO com a naturalidade e amor com que acolheriam, se eu fosse heterossexual, a minha namoradA.

    Mas neste momento estou a atravessar outra fase complicada que é o facto de já ter tido três namorados e nenhum deles ter durado muito tempo, sendo que a minha mãe não vê com muito bons olhos esta "instabilidade" afectiva! Eu já desisti até de falar sobre os meus problemas emocionais com a minha mãe... e assim que tiver um namorado só lhe contarei se achar mesmo que deva, de resto vou manter "segredo" para evitar a situação constrangedora de a minha mãe me perguntar pelo "Ricardo" e já não haver "Ricardo" para ninguém... :(
    Venus as a boy disse...
    Nove anos passaram desde aquela tarde em que me sentei à frente da minha mãe e decidi partilhar um segredo que já há algum tempo me perturbava. Isto depois de ter feito vários ensaios e ter decorado todo o discurso, fortemente influênciado por uma série televisiva que estava a dar na altura, onde aparecia um rapaz que revelava a sua homossexualidade à mãe. Durante vários minutos as palavras não me sairam da boca mas já não havia volta a dar. Não consegui articular nada do que eu tinha planeado, apenas disse que era gay. De forma serena e reconfortante, a minha mãe disse-me que era natural os rapazes da minha idade sentirem-se assim confusos, que eu não me tinha de preocupar e que provavelmente era uma fase pela qual eu estava a passar. Estranhamente o tempo foi passando, o assunto nunca mais foi abordado e fui tendo mais certezas daquilo que sentia. Todos os meus medos foram desaparecendo à medida que ia ultrapassando pequenas etapas (todas com grande importância para mim); a primeira revista gay que comprei, o primeiro livro, o primeiro amigo a saber, o primeiro contacto com alguém gay, a primeira ida a um bar gay... Os anos foram passando e fui sentindo menos necessidade em partilhar estas vivências com a minha família.
    Até que surgiu o Major Tom no "pedaço" e deixou de fazer sentido ocultar todo o afecto que sentia por ele (e por consequência, a minha sexualidade). Uma vez mais tentei estudar o discurso e procurei encontrar a melhor oportunidade para conversar com os meus pais. Aconteceu naturalmente durante um jantar num restaurante. Estava mais nervoso que eles. Até brincaram com a situação! A minha mãe já tinha conversado com o meu pai, tinham falado bastante sobre o assunto e aquilo que eles desejavam era que eu fosse feliz. Falei do Major Tom e disseram-me que já sabiam há muito tempo que namoravamos (afinal de contas passavamos todo o tempo juntos!). A partir desse dia sinto que saiu um peso muito grande de cima de mim (o último grande obstáculo no processo de aceitação da minha orientação sexual tinha sido derrubado). Desde então os meus pais apoiaram-nos na decisão de irmos viver juntos, e adoptaram o Major Tom como se fosse filho deles. De facto, tenho consciência que não devem existir muitas histórias assim, mas que lá existem, isso existem!

Deixe um comentário







Recomenda-se


Outras paragens



anodaorquidea[at]gmail.com
 

© O Ano da Orquídea 2004-2007