Robots e gigantones
Lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje. Não sei que idade tinha mas sei que durou alguns anos. o delírio era este: olhava para todo o lado e em todas as pessoas imaginava autómatos, seres fabricados numa espécie de grande fábrica vinda do fundo dos tempos. Esses robots humanos existiam, naturalmente, apenas para manter à minha volta um gigantesco mundo de aparências.
Não sei em que categoria psico-cognitiva ou psicanalítica integrariam os especialistas esta experiência, mas lembro-me perfeitamente de, a momentos, chegar a acreditar nesta fantasia. E também me recordo de pensar que precisava de reter com todas as minhas forças esta ideia, para que quando chegasse basicamente à idade que tenho hoje, continuasse ainda aquele que eu era, escapando ileso à invisível conspiração das máquinas.
Às vezes interrogo-me se no olhar das novas crianças não se esconderão outros delírios deste género, talves visões mais contemporâneas ligadas ao mundo das consolas. Ou se os nossos pais-crianças percorriam com o olhar os seus adultos, imaginando gigantones e cabeçudos disfarçados.
Pirralho sofre...