Ma grande culpabilité
É frequente ver-me a braços com esta sensação peculiar, como se tivesse deixado alguma coisa de muita responsabilidade por fazer, um sentimento vago e injustificado de ansiedade em relação a nada em particular.
A culpa. Diariamente. Há 29 anos. 30*12*29 dias de culpa que transporto neste saquinho de emoções e pensamentos a que chamamos o Eu. De onde vem, porque regressa, sempre, apesar do combate que lhe travo, apesar de tantas batalhas ganhas?
O eco do pensamento responde: do mundo, da televisão, dos jornais, da família, dos amigos, do namorado, dos colegas, dos estranhos. De mim próprio.
Esta noite vou ouvir não sei em que tom bemol a Lhasa dizer:
« Je me sens coupable/parce que j’ai l’habitude/c’est la seule chose/que je peux faire/avec une certaine/certitude/c’est rassurant/de penser/que je suis sûre/de ne pas me tromper/quand il s’agit/de la question/de ma grande culpabilité ».
PS para a 1 de Abril: lembro-me de ficares perplexa com a imagem de um homem crucificado como pilar de uma inteira civilização. Parece que o Ney Matogrosso te ouviu, vê lá o que ele canta no novo álbum: “Dizem que Jesus morreu na cruz/Mas eu tive com ele na Dutra, em Queluz/Levava na cabeça um tabuleiro de cuscuz (…) Nós vamos tirar Jesus da cruz porque o rapaz tá pregado naqueles pedaços de pau há mais de 2000 mil anos, vamos deixar ele com os pés e as mãos livres que ele vai pular, dançar, virar cambalhota e fazer muito melhor…”