Planeta Ju


De todas as grandes conquistas (e não foram poucas) que associo ao início da vida activa, ela foi a maior. Primeiro simplesmente boa colega de trabalho, camarada, profissional e simpática, a metamorfose deu-se numa tarde escaldante do Verão de 2001.
"Preciso urgentemente de falar contigo, não aguento mais", disse eu.
"O que foi, lindo?"
"Porra, tou com a vida toda emaranhada, como um nó de marinheiro feito por uma criança traquina. Conheci este tipo que me trocou as voltas e agora tenho o casamento em perigo."
Pacientemente, vi-a iniciar a sua serena rotação e digerir, imperturbável, os factos: que eu gostava de meninos, que até namorava com um, e que era capaz daqueles arrebates de ansiedade e pânico. Doce como um véu, lá foi desatando aquele nó, e mostrou-se. Desde essa tarde, passei a ser um satélite, girando incessantemente na órbita do planeta Ju.

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