Monstrinho e Super Su


Era uma vez um país onde se podia estar sempre a brincar, a tocar, a trocar beijos, abraços e mimos. Agora eu entrava no jogo e ficava viciado na amizade. Cantávamos o tempo todo e criavamos coreografias, falavamos de tudo e ficávamos nús, despidos do mundo. Eu era o Major Tom, descia do meu derretido pedestal glaciar e passava a adorar fazer disparates (obrigado, meninos).

Sarrabiscos


Não parece, mas já foi há doze anos. Nesse tempo, um amigo alugava aqueles espaços a cheirar a mofo no velho casario do Rua Chã ou do Bonjardim, transformando aquele chão de tábuas carcomidas e as paredes de estuque esburacado numa espécie de atelier comunitário, onde desembocávamos quando não tinhamos nada melhor para fazer (ou seja, com frequência). Um com pinturas, outros com artesanato de couro e missangas, outros só de passagem, como a Isabel, por cuja presença eu nutria na altura uma paixão platónica, nunca assumida (hoje em dia é habitante de Roterdam). Um dia alguém trouxe um livro do Almada Negreiros. Pelo efeito causado pelas imagens, é possível que tenha trazido algo mais (para fumar) com ele. Decidi experimentar uns desenhos naquele estilo e descobri que conseguia às vezes encontrar monstrinhos escondidos nas folhas de papel.

Espanto?

"Casamento entre homossexuais? Não tenho nenhuma observação a fazer. Não digo que seja uma grande necessidade, mas sou muito liberal.", José Sócrates. (desculpa Nuno por ter utilizado o teu post...).
Espantava-me era se ele tivesse opiniões concretas e bem fundamentadas sobre este assunto. Vamos todos emigrar para Espanha? ;)

Carências...

Hoje acordei com uma grande carência de miminhos do meu amor e dos meus amigos... Há dias assim...

A igualdade na Lei

Nunca é demais relembrar que:
ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual. (Princípio da igualdade - Artigo 13.º n. 2 da Constituição da República Portuguesa)

Palavras para quê?...

Lembrete

Não voltar a arranjar trabalho num sítio com problemas graves de organização, a recibos verdes e sem garantias de continuidade ao fim de três anos de dedicação, em que sentimos que temos que fazer tudo para o caos não se notar, em plena onda de calor estival, com dois terços da cidade desaparecida em férias, sem tempo para os poucos amigos que ficam, para as sobrinhas que vão crescendo sem sentir a presença do tio desnaturado, para a mana que eu gosto tanto, para o amor, para a praia ou para correr para me esquecer disto tudo...


caio da luz no silêncio da areia
a deslizar pela água quebrada
rarefacção de mim próprio
misturo as cores num voo de borboleta
e engulo a lassidão de um trago
doce e seguro
quero reter o eréctil lugar no pensamento
e ficar gordo na alma
de tanto sorver o que me rodeia
sinto na pele tisnada a promessa de Verão
que comanda o desassossego

Noite quente... a estrada... os amigos... destino: Porto

"A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos

A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "Olá"
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"."

Sérgio Godinho, A Noite Passada

Top divas - hipótese 4


Natasha Kinski, em One from the Heart, de F.F.Coppola (esta é para o Z., que tem andado desaparecido...)

Top divas - hipótese 3


Geena Rowlands, em Opening Night, de John Cassavetes.

Reunião de trabalho

Cenário: café-concerto do Rivoli. Presentes: eu e a equipa de formadores. Objectivo: avaliação e planificação da formação. Resultados: falar de tudo menos da formação.
Na parede, atrás de nós, projectam vídeos dos Massive Attack. Ao meu lado, cúmplice no caos, Planeta Ju. A conversa ecoa fora de mim, que estou mais atento à música de fundo.
Uma sequência fenomenal surge na parede. Um homem é perseguido por um bando de outros homens, de olhar enfurecido. É negro e tem um ar assustado. Percorre velozmente corredores, rampas, escadas, saídas, campos desertos. A certo ponto, exausto, pára. Olha para os seus perseguidores, que pararam também, a alguns metros de distância. Olhos nos olhos, longo período de ansiedade. Aos poucos, as expressões vão perdendo a tensão, como se se estudassem. O homem, agora mais confiante, ensaia um passo na direcção do bando. Ao mesmo tempo, os homens recuam um passo. Esgares perplexos, a sugerirem algum receio. O homem avança, cada vez mais rápido, até iniciar uma corrida. A perseguição inverte-se.
Desconcertante.

Top divas - hipótese 2


Isabel Ruth, em Mudar de Vida, do Paulo Rocha.

Top divas - hipótese 1


Cybil Sheppard, em The last picture show, de Peter Bogdanovich.

Desejos de um trabalhador

Eu preciso de estar aqui!

O Sr. Osório

Quando era pirralho, costumava achá-lo o clássico pain in the ass. Só bastante mais tarde é que percebi que era apenas um velho. E os pirralhos querem distância dos velhos, sobretudo quando a vida nos parece chamar lá do fundo da rua. Ficava o dia todo à conversa com o Sr. Soares, da loja dos brinquedos, e gritava o meu nome quando, apesar das minhas tentativas de passar furtivamente, se apercebia da minha passagem. Perguntava pela escola, pelos pais, e despedia-se com uma palmadinha na cabeça: "Então vai lá à tua vida!" E eu, agradecido, fugia. Só bastante mais tarde é que me apercebi também que a ideia que eu tinha de toda a minha vizinhança, e de todo o meu mundo, era muito influenciada pela carranquice do meu pai. Tal como a vizinha de baixo, eterna preguiçosa que se encarcerava em casa sem fazer um cú, sofria provavelmente de depressão crónica.
Quantas destas ideias terei ainda que descobrir e exterminar do meu pensamento?

"Eu, racista?"

"Nove em cada dez britânicos de raça branca não tem amigos negros, asiáticos ou muçulmanos. Num inquérito da Comissão para a Igualdade Racial a divulgar esta semana, a que o jornal The Guardian teve acesso, 94 por cento das pessoas afirma que quase todos os seus amigos são da mesma origem racial e 54 por cento reconhece mesmo não ter nas suas relações uma única pessoa de origem negra ou asiática e que considerem como alguém próximo. Num país de forte imigração indiana, apenas uma em cada dez pessoas de raça branca admite ter um amigo hindu e, apenas dois em cada dez são próximos de um muçulmano.

A comissão chama a atenção para os perigos que este afastamento provoca, já que resulta numa ausência de empatia que só surge com a experiência. Este afastamento é passível de facilitar o desenvolvimento de preconceitos e criar mentalidades receptivas a pensamentos racistas e xenófobos.

Pelo contrário, 47 por cento dos membros de minorias étnicas afirmam que a maior parte dos seus amigos são de raça branca. Mas também esta situação pode estar a mudar: numa perspectiva geracional, para a qual este inquérito não oferece conclusões, há indicação de que as comunidades étnicas se têm progressivamente fechado. Mais de 60 por cento das pessoas com mais de 50 anos tem maioritariamente amigos de raça branca, mas apenas 43 por cento com menos de 30 vive a mesma situação.

Na medida em que quase dois terços da população vive em pleno desconhecimento das minorias étnicas que compõem a sua sociedade, torna-se mais permeável a propaganda racista e a manchetes sensacionalistas. Uma questão analisada também no "The Guardian" a propósito de um título do diário popular "Sun", que alimenta com as suas manchetes muitos preconceitos étnicos mas condenava o Partido Nacionalista Britânico. Recorde-se que este partido viu as suas contas no Barclays Bank serem fechadas, em virtude de um vídeo secreto que expunha membros do partido a incitarem à violência racial." (Fonte: Público 20/07/04)


Fluídos eróticos...

Haverá nome mais erótico para um curso do que este: Mecânica dos Fluídos? ;)

Projecto fantasma

Eis onde a capital supera a invicta.

Nostalgia em Dó Maior


Para mim nostalgia é aquele som da chuva a cair no filme do Tarkovsky. Recorda-me outros sons e a imagem de um velho palacete em plena baixa portuense, que albergou primeiro os meus anos de infantário e, uns dez anos mais tarde, a minha adolescência, para aulas de piano. Que magnífico aquele outro som das notas desafinadas a ecoar pelos salões e corredores vazios, eu, a minha professora e Shubert, sozinhos em três pisos de nostalgia. A minha mãe relembra-me muitas vezes os meus ataques de pânico e ansiedade antes de ir para o infantário. Era comum terem que a chamar a meu (insistente) pedido. Talvez já suspeitasse na altura que aquele casarão ia significar para mim crescer, e se não entrasse, podia ficar para sempre aquele menino melancólico.
"Bisogna fare le cose più grande..."

Sentado na berma do tempo
atravessado pela luz do olhar
um abismo incerto revela-se nas tuas mãos.
Ressoa deste fim de tarde um sonho incompleto
que desliza para o interior.
É como se nas pedras folhas cores horizonte
estivesse o teu corpo
transparente e generoso
amarrado ao meu desejo.

Patriotismos à portuguesa...

"Nestas coisas do amor à pátria tenho uma noção um bocado antiquada e simplista: acho que o amor à pátria consiste em estar disposto a servi-la em caso de necessidade sem perguntar primeiro "quanto?", em declarar tudo o que se ganha ao fisco, em votar nas eleições, nem que seja em branco, em defender, por palavras e actos concretos, o seu património histórico, natural e cultural. A onda de histeria patriótica que invadiu o país a propósito do Euro deixou-me meio perplexo, como no dia 26 de Abril de 1974, ao descobrir, igualmente nas ruas, que, afinal, todo o país era composto de resistentes à ditadura. O patriotismo das emoções e das multidões é certamente mais fácil do que o patriotismo dos deveres serenamente cumpridos. Até porque o primeiro dura o espaço de um acontecimento e o segundo a vida toda. (...)" - Miguel Sousa Tavares, Público (16/07/2004)

Geringonça sentimental II


Olho a tua nudez sem sentir o mundo poisar ao meu lado.
Criei o estranho vício de habitar o teu corpo. Sou o teu fantasma. És a minha encarnação. Dois espelhos em contemplação, eufóricos, e que se descobrem um no outro, cada um pedaço de terra breve que se verte no solo da eternidade humana. Dispo-te, e procuro dias nos teus braços, noites no teu cheiro e tréguas na tua pele. Substraio-me aos dias que viajam dentro da minha retina, sem nunca chegar a um porto. É no silêncio e no escuro que voo como um peso a rasgar o espaço e os muros do medo. Adormecido sobre o mundo, espalhas-te em mim para eu te beijar, inocente de quem bebo a vertigem dos sentidos.
Por isso te peço que me arranques ao sossego só mais um bocado, apenas o tempo de eu enfiar o universo inteiro dentro da cabeça, abrir os olhos e iluminar o que vejo. Quando o fizer, ainda seremos dois corpos, mas cada um dentro do seu, a trocar amor como quem oferece uma razão para chegar a outros dias, talvez grávidos de sorrisos.


Never ending story...

Circuito da roupa: enfiar no cesto, pôr a lavar, pôr a secar, passar a ferro, arrumar, usar, enfiar no cesto, pôr a lavar...
Lembrei-me daquela música do Limahl: "Never Ending Storyiii, aaaã, aaaã, aaaã..."

Ba Ba Ti Ki Di Do

Ora vejam (ou melhor, ouçam) o que eu recebi hoje no meu e-mail :)

Geringonça sentimental


Dois traços projectados num azul oceânico, com sabor a infância, unidos num olhar. É assim que a memória vai impor este tempo, uma tela de emoções, um cinema privado com o som de aventuras ausentes a ecoar nas suas paredes. Os dias, assim como que tingidos de erotismo, são já uma nostalgia que a rotina tornará vaga e onírica. Mas as sombras que escurecem o caminho amanhã serão ainda os corpos ausentes do presente, a filtrar a luz que os penetra.
Talvez não saibas, mas o que encontro nos teus recantos sou eu. Porque sou eu que te sonho, sou eu que te invento, és o eco do meu pensamento. Nos teus lábios gerei um outro eu, em que depositei o carinho que apenas eles me souberam devolver. Mais tarde não passaremos de palavras, até os nossos sexos, mas o que me espanta agora é que teimo em ficar indiferente à cidade que mora dentro da minha janela.

O Sol é...

... um buraco no céu. Do outro lado há luz. À noite o manto é negro e todo esburacado de estrelas.
(delírio ocorrido ontem numa marcha a três, sob o calor impiedoso de uma tarde de Julho, de mochila às costas e desesperadamente à procura de Drave, a aldeia perdida na Serra da Freita, calcorreando caminhos de cabras, pisando bostas de várias espécies autóctones e refrescando o corpo num pequeno paraíso fluvial)

Ma grande culpabilité


É frequente ver-me a braços com esta sensação peculiar, como se tivesse deixado alguma coisa de muita responsabilidade por fazer, um sentimento vago e injustificado de ansiedade em relação a nada em particular.
A culpa. Diariamente. Há 29 anos. 30*12*29 dias de culpa que transporto neste saquinho de emoções e pensamentos a que chamamos o Eu. De onde vem, porque regressa, sempre, apesar do combate que lhe travo, apesar de tantas batalhas ganhas?
O eco do pensamento responde: do mundo, da televisão, dos jornais, da família, dos amigos, do namorado, dos colegas, dos estranhos. De mim próprio.
Esta noite vou ouvir não sei em que tom bemol a Lhasa dizer:
« Je me sens coupable/parce que j’ai l’habitude/c’est la seule chose/que je peux faire/avec une certaine/certitude/c’est rassurant/de penser/que je suis sûre/de ne pas me tromper/quand il s’agit/de la question/de ma grande culpabilité ».

PS para a 1 de Abril: lembro-me de ficares perplexa com a imagem de um homem crucificado como pilar de uma inteira civilização. Parece que o Ney Matogrosso te ouviu, vê lá o que ele canta no novo álbum: “Dizem que Jesus morreu na cruz/Mas eu tive com ele na Dutra, em Queluz/Levava na cabeça um tabuleiro de cuscuz (…) Nós vamos tirar Jesus da cruz porque o rapaz tá pregado naqueles pedaços de pau há mais de 2000 mil anos, vamos deixar ele com os pés e as mãos livres que ele vai pular, dançar, virar cambalhota e fazer muito melhor…”

"Dá-me um beijo!!"

"De mãos dadas ou abraçados, vários casais de namorados passearam ontem, ao fim da tarde, pelos jardins do Parque Eduardo VII, em Lisboa. Um cenário comum ao de tantos outros dias, não fosse este um «namoro de protesto» contra a discriminação de que são alvo os casais homossexuais nos parques públicos da cidade. Um beijo simbólico, pela liberdade de expressão. (...)
«Ilegalidade» ou «atentado à moral pública» são apenas algumas das expressões utilizadas normalmente pelos agentes da autoridade para impedir casais de lésbicas ou gays de namorarem em espaços públicos. Ou seja, de exercerem um direito que é tanto seu como de qualquer casal heterossexual.
Além do Parque Eduardo VII, onde há pouco mais de uma semana um menor diz ter sido ameaçado fisicamente por um polícia - por se ter recusado a afastar do namorado -, as queixas da comunidade lgbt (lésbica, gay, bissexual e transexual) estendem-se ainda aos seguranças privados dos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian. (...)
Porque «a discriminação é um problema de todos nós» e «a liberdade de expressão um direito de todos os cidadãos», vários casais heterossexuais integraram o protesto, por «solidariedade». (...)" (Fonte - DN 09/07/04)

Infelizmente são precisas iniciativas destas para ver se se acaba com estas situações discriminatórias... Se tivesse sido no Porto tinha lá estado na "primeira fila"! :)

A nómada no Porto


Iupi!! A Lhasa vai estar nos Jardins do Palácio de Cristal no próximo sábado!! Atenção fãs, preparem-se! O quê? Ainda não conheces? :)

Robots e gigantones


Lembro-me perfeitamente, como se fosse hoje. Não sei que idade tinha mas sei que durou alguns anos. o delírio era este: olhava para todo o lado e em todas as pessoas imaginava autómatos, seres fabricados numa espécie de grande fábrica vinda do fundo dos tempos. Esses robots humanos existiam, naturalmente, apenas para manter à minha volta um gigantesco mundo de aparências.
Não sei em que categoria psico-cognitiva ou psicanalítica integrariam os especialistas esta experiência, mas lembro-me perfeitamente de, a momentos, chegar a acreditar nesta fantasia. E também me recordo de pensar que precisava de reter com todas as minhas forças esta ideia, para que quando chegasse basicamente à idade que tenho hoje, continuasse ainda aquele que eu era, escapando ileso à invisível conspiração das máquinas.
Às vezes interrogo-me se no olhar das novas crianças não se esconderão outros delírios deste género, talves visões mais contemporâneas ligadas ao mundo das consolas. Ou se os nossos pais-crianças percorriam com o olhar os seus adultos, imaginando gigantones e cabeçudos disfarçados.
Pirralho sofre...

How's the family?


Quem conhecer a discografia do Lou Reed melhor do que eu, há-de saber de que álbum é uma música 'Families' (talvez do 'The Bells'?), em que ele desfia o rosário de emoções e complicações que são os laços familiares. A minha teoria em relação às famílias é a de que as devemos manter o maior tempo possível afastadas das nossas relações amorosas. Talvez isso tenha a ver com a maior ou menor dificuldade que cada um tem em comunicar com o próprio passado e presente desses laços, mas também tem a ver com o receio das rupturas. Romper numa relação em que as famílias já foram chamadas ao barulho não é só romper com o namorado, é quebrar com todo esse mundo afectivo, e isso pode ser muito mais complicado (para todos).
Mas pronto, toda esta elaboração mental não resistiu ao charme imbatível daquele casal, e os pais do Venus entraram na minha vida, pressentindo a minha orfandade emocional. Ainda hoje, passados 5 anos, tenho dificuldade em decifrar aquela tranquilidade, o calor que sinto na sua presença, como se emanasse do próprio ar um abraço reconfortante, daqueles que nos acalmam na infância depois de um choro convulsivo.
Recomendava, se soubesse onde se arranja mais...

Paradoxo erótico

Por muito doce que seja, um homem sabe sempre a sal.

Sophia (1919-2004)


Naquele Tempo

Sob o caramachão de glicínia lilaz
As abelhas e eu
Tontas de perfume

Lá no alto as abelhas
Doiradas e pequenas
Não se ocupavam de mim
Iam de flor em flor
E cá em baixo eu
Sentada no banco de azulejos
Entre penumbra e luz
Flor e perfume
Tão ávida como as abelhas

Abril de 98



Sophia de Mello Breyner Andresen

Planeta Ju


De todas as grandes conquistas (e não foram poucas) que associo ao início da vida activa, ela foi a maior. Primeiro simplesmente boa colega de trabalho, camarada, profissional e simpática, a metamorfose deu-se numa tarde escaldante do Verão de 2001.
"Preciso urgentemente de falar contigo, não aguento mais", disse eu.
"O que foi, lindo?"
"Porra, tou com a vida toda emaranhada, como um nó de marinheiro feito por uma criança traquina. Conheci este tipo que me trocou as voltas e agora tenho o casamento em perigo."
Pacientemente, vi-a iniciar a sua serena rotação e digerir, imperturbável, os factos: que eu gostava de meninos, que até namorava com um, e que era capaz daqueles arrebates de ansiedade e pânico. Doce como um véu, lá foi desatando aquele nó, e mostrou-se. Desde essa tarde, passei a ser um satélite, girando incessantemente na órbita do planeta Ju.

Working boy

De volta ao trabalho a tempo inteiro, não sei por quanto tempo.
Ao fim do primeiro dia, para esquecer, fui correr na praia deserta (semi-final República Checa-Grécia), contra um vendaval dantesco.
A tentação da metáfora é grande.
Deverei mudar de ramo?

O Corpo do David


Enquanto passeava ontem à hora de almoço pela FNAC fui surpreendido por mais um livro do David Leavitt, publicado na nossa língua. Como assíduo leitor que sou dos livros dele não hesitei em comprá-lo. Chama-se "O Corpo de Jonah Boyd" e uma vez mais é publicado pela Teorema (ao olharmos para a nossa prateleira de livros de temática LGBT, o Major Tom comentou que deve haver alguém muito "gayfriendly" nesta editora...). Já li as primeiras páginas e como habitualmente fiquei logo preso à história. Vamos a ver se o David é capaz de me surpreender como fez com "A Linguagem Perdida dos Guindastes" ou com "Enquanto a Inglaterra Dorme".

Manjares saudáveis...


Numas das minhas últimas passeatas pela web, dei de caras com um blog interessante para todos os adeptos de comida saudável e vegetariana, mesmo que não o sejam a tempo inteiro (tal como eu). Receitas que abrem o apetite e informações úteis sobre os alimentos, fazem com que percamos algum tempo neste blog e voltemos mais vezes ;)





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