Conversas fora do armário
imagem de Pierre e Gilles
É pró menino e prá menina, prá mãezinha e pró paizinho, pró professor e professora... e pra quem mais lá quiser estar. Amanhã, às 16h30, no Auditório da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, tertúlia sobre Educação Sexual e questões LGBT, com a Gabriela Moita e o Júlio Machado Vaz, que este ano recebe o Prémio Arco-Íris da ILGA. A iniciativa é uma cortesia do GRIP.
Um belo exemplar!
As primeiras 50 páginas deste livro são muito positivas, mesmo muito positivas! Já fazia algum tempo que não me sentia tão bem acolhido pelas personagens de um livro. Parabéns Cunningham!
(re)Visto
The Maltese Falcon, do John Huston, que também assina o argumento, e com o Humphrey Bogart, o actor menos sexy mas com mais charme de todo o género do policial negro (chamado assim porque a acção se passava invariavelmente à noite, com um elaborado e quase expressionista jogo de sombras e luzes ténuas, que pareciam esconder mais do enredo do que os próprios protagonistas). Ainda não consigo perceber porque me continuam a fascinar estes filmes. São politicamente incorrectos, toda a gente fuma desalmadamente (é quase uma regra sine qua non do género). Os plots são machistas e misóginos: as mulheres ou são meros títeres, frágeis e submissas, ou então, claro, as más da fita. Nunca, sobretudo com Bogart ou Mitchum à mistura, parecem existir sentimentos genuínos, estes estão sempre subjugados por outros interesses (quase invariavelmente, interesse por dinheiro). E, contudo, dir-se-iam filmes subversivos e livres, sobretudo se pensarmos que aquela era a época da repressão de MacCarthy (contra o qual marcharam Bogart e a mulher, Bacall) e do famoso Código Hays. Talvez nunca mais olhemos para o cinismo da mesma forma, como expressão artística de uma malaise social.
Do bloco - III
Como qualquer adolescente, a incapacidade de traduzir pela linguagem corrente toda a turbulência do crescimento levou-me a ir colecionando pequenos blocos onde tentava agarrar pensamentos de passagem, com imagens ou pequenos textos. Hoje apercebo-me como esses blocos foram importantes na reconstrução e definição de quem sou hoje e são um retrato para mim interessante desse período tão cheio fantasmos e projectos, tão emocionalmente avassalador. Recolho alguns exemplos escritos, avulsos e sem data.
Descendo de mim mesmo
e verto-me no futuro
já não é a esperança o meu alimento
O abismo era o tempo que me separava do amor
Não quero estar no meu corpo, na minha vida.
Visto os dias com a luz do medo.
O mundo é uma viagem que nos percorre
como se fosse escuro lá fora.
Sou um corpo que procura o horizonte onde me deixei ficar.
Na caverna dos segredos
sobrevive uma vontade,
única e silenciosa
Não me chegam os dias para o que preciso de ser
Às vezes penso que só a vertigem é pensamento
temos a verdade nos olhos
e o medo afogado no mar da razão
vagueamos pelas ruas
cobrimos os dias de espanto
e rompemos a lei por um despertar
Brincando ao planeamento
Por muitas vezes que o faça, acaba sempre por ser uma experiência radicalmente diferente. Ocasionalmente, convidam-me para dinamizar sessões sobre sexualidade no local onde trabalho. Os participantes, geralmente mulheres, são convidados antecipadamente a deixarem as suas questões anonimamente num qualquer recipiente, por isso quando vou para a coisa já sei mais ou menos o que me espera. No início todos estão numa pose hirta e desconfortável. A minha tarefa é descongelar o ambiente para que ninguém trema quando disser orgasmo, vagina, masturbação ou lésbica. Pensando bem, essa é a tarefa toda, tendo em conta que a audiência é composta às vezes por mulheres que foram agora à primeira consulta de ginecologia da sua vida (uma até desmaiou quando o médico entrou no consultório onde ela já estava de peito descoberto) ou que pensam que a "monopausa" é uma doença e a homossexualidade uma espécie de maldição repelente. Contas feitas, saímos de lá todos amigos e distribui-se o material que se consegue arranjar, mas fico sempre com a sensação que quando chegarem a casa vão guardar aquela sessão só para si, como se tivessemos partilhado um grande segredo colectivo. Talvez seja já uma conquista.
Jornadas Rennie
Dias repletos são dias sem qualidade de digestão. Então hoje foi acordar, o que já é nos tempos que correm uma tarefa esgotante, preparar as trouxas, dar duas de letras à D. Fátima, a super-mulher a dias que opera o verdadeiro milagre da transformação, ir a correr para o trabalho, hoje sim, com a estreia internacional da Vespinha, mas ainda nem mal tinha assentado o pequeno-almoço no estômago quando o telemóvel desata a tocar desenfreadamente, parecia que a ICAR tinha feito das suas e a RTP queria a opinião de uma associação LGBT, o que me fez voar para os estúdios onde, com a tensão, nem percebi como correu a entrevista, contudo, de regresso almoço no trabalho e quando apareço no pequeno ecrã é tal a festa que ninguém quer saber qual é o assunto, aproveito para uma escapadela a casa, mas sou atropelado por uma condómina que me quer falar da torneira de não sei onde e pagar as contribuições de não sei quem e que me obriga a ser indelicado e passar o compromisso para outro dia, uma vez que tinha que regressar ao trabalho e adiantar mais processos, esses que se acumulam nas prateleiras e não nos deixam continuar a fazer a digestão em condições, mesmo sabendo que no final tinha que sair para ir preparar uma sessão sobre sexualidade antes de ir buscar as sobrinhas à ginástica e ir jantar com a família, adeus até à proxima semana, para depois regressar ao lar e finalmente rever os mails e adormecer em cima de um calhamaço sobre o poder da identidade na era da informação, porque assim como assim o mestrado não pode ficar de lado, mas faz-me ficar furioso porque no dia seguinte apercebo-me que não tenho tido nem dado mimo que chegue, esse que me recarrega as baterias para outra jornada Rennie.
A trágica epistemologia do homem-urso
Um homem isola-se durante 13 períodos estivais no coração de uma paisagem selvagem e inóspita, a que chama o santuário dos ursos, apenas com uma tenda de campismo e os recursos básicos necessários. Mas não são uns ursos quaisquer. Trata-te dos grizzly, conhecidos pela sua agressividade e natureza indómita. Ainda assim, decide desafiar todas as convenções e aventura-se num minúsculo acampamento sem armas, munido apenas de uma câmara de filmar, com a qual vai encetando monólogos no mínimo heterodoxos sobre o que observa mas também considerações mais pessoais. Werner Herzog, o fascinante cineasta que na sua extensa filmografia já nos presenteou com "Fitzcarraldo" ou "The dar glow of the mountains", conhecedor dos abismos e limites da alma humana e da sua nem sempre pacífica convivência com a natureza, apropria-se do material filmado por Timothy Treadwell, o homem que acabaria por perder a vida, juntamente com a namorada, devorado por um dos ursos que tanto idolatrava (existe um registo áudio da tragédia, que funciona como elemento narrativo de suspense mas ao qual somos felizmente poupados) e cria The Grizzly Man. De uma forma inteligente, Herzog vai dissecando o acontecimento, analisando documentos, datas, factos e entrevistando pessoas que conviveram com o malogrado explorador. Conclui que, muito para além do que um manifesto de defesa pelos ursos (que, como atesta um especialista da área, até possuem uma população estabilizada naquela zona e para mais habitam numa área protegida), contestado pelos próprios nativos, que sempre respeitaram a distância entre ursos e humanos, o projecto não era mais do que a desesperada luta de um homem à procura de sentidos na sua própria vida (conhecemos ao longo do filme o seu percurso prévio de expectativas não cumpridas, empregos desqualificados, frustrações e alcoolismo, sem uma única referência a estudos de biologia). O final parece sugerir uma espécie de imolação, como se o homem, no limite de uma ecologia pessoal, delirante e ingénua, se tivesse entregue finalmente não à sua desintegração, mas à sua mutação identitária: já não era um homem, mas um homem-urso, apenas mais um elemento natural daquela paisagem, a única a que chamava casa. Apesar das divergências com a missão de Treadwell (Herzog nunca acreditou num fundo 'humano', alla Disney, no reino animal) este belíssimo documentário resgata-o e devolve-lhe a possibilidade de um sentido.
A não-escola
No décimo ano, ainda mal sabia eu o que era a vida, fui convidado por dois colegas de turma para participar num projecto que eles tinham planeado para a semana cultural do liceu. Deram-nos uma sala e carta branca. O resultado foi algo próximo de um motim escolar. Vedamos o acesso à sala, forrámos todas as entradas de luz, e criámos uma espécie de labirinto de mesas e cadeiras empilhadas, por onde o visitante tinha que circular, espreitando aqui uns poemas urbano-depressivos, aqui umas críticas anti-capitalistas, acolá uma instalação feita com um televisor estragado, uma torneira e muitos sapatos colados ao longo do quadro e pelo tecto fora. Na altura apenas um de nós tinha uma aparelhagem, mas só tínhamos dois CD’s, que serviram de banda sonora à coisa: as alternativas eram Dead Can Dance ou Ella Fitzgerald com Louis Armstrong, cuja música ecoava em todo o pavilhão leste. À entrada, era oferecido aos visitante um pedaço de giz e um convite para escrever um comentário pessoal num local qualquer da sala. Foi um sucesso estrondoso, tanto entre alunos como entre os (poucos) corajosos professores que decidiram entrar. O evento marcou também o início de uma longa e visceral amizade, que resultou mais tarde em duas paixões platónicas que me deixaram esgotado. Lembrei-me de tudo isto ao visitar a panfletária intervenção de Thomas Hirschhorn no Museu de Serralves. Com todo o seu apelo tão cândido como pretensioso à revolução do papel da arte e da educação, a Anschool (‘não-escola’, o nome da exposição) chamou por mim de volta a esse lugar despudorado para onde viajei naquele pavilhão do liceu. É estranho ver agora esse lugar assim tão cristalizado e monitorizado, tão feito peça do regime.
Planeta Sigur Rós
Tenho que fazer isto mais vezes. Cedi ao impulso, e sem grande expectativa enfiei-me no Coliseu para aquele que viria a ser um concerto desconcertante (soa-me bem). Já ouvia Sigur Rós, mas em doses muito moderadas, por um lado porque me parecia que a casa se enchia de uma melancolia que se agarrava às paredes, mas também porque algum daquele som me parecia forçado e enjoativo. Ontem não senti nada disso, apenas o deslumbramento perante um verdadeiro OVNI auditivo, mas também visual (é inolvidável aquela figura esguia e curvada do vocalista, a esgrimir um arco contra uma grande guitarra). Ao entrar, ouvia-se já o som de um grupo de meninas no palco, que nos transportaram directamente para a oficina do Pai Natal com todos aqueles cabelos, saias sem cós e instrumentos de brincar. As fadas vieram depois ajudar na secção de cordas aos seus conterrâneos durante uma grande parte do show. E eu não conseguia deixar de olhar para o tecto da sala e imaginar que aqueles grandes círculos eram a parte de baixo de uma nave espacial que levantaria voo assim que terminasse o espectáculo, transportando aquela gente de volta para o planeta de onde vieram. Islândia? Takk.
Coisas da vida
Uma amiga queixou-se de que lendo a orquídea fica a saber o mesmo sobre as minhas andanças, porque me dá para lançar bitates sobre isto e sobre aquilo e não contar coisas da vida. Ora bem, cá vai um ponto de situação: depois das férias, regressei carregado de energia, mas para fazer tudo o que não tinha a ver com trabalho. A ver se me faço entender. Continuo a adorar a minha profissão, mas é difícil manter a chama da paixão acesa quando ela nos suga quase todas as nossas energias e nos regula autoritariamente o tempo. Nos interstícios, apenas tenho conseguido lamuriar-me sobre os trabalhos que não fiz para a faculdade, actividade em que perco mais tempo e energia do que necessitaria para realmente os produzir. Acabei de saber que consegui ficar com o orientador que tinha escolhido, e vou-me encontrar com ele na próxima segunda não com as mãos a abanar, mas encostadas à cabeça, em expressiva encenação de angústia que tenho ensaiado repetidas vezes ao espelho. O meu professor chama a isto diferir a ansiedade (que em português prosaico quer dizer arranjar desculpas esfarrapadas). Esta semana concretizei uma ideia já muito antiga, a de comprar uma Vespa. Simplesmente ando tão atarantado que ainda nem consegui andar com ela, apenas projectar um magnífico post em que ela vai iria aparecer em todo o seu esplendor. Aqui na Praceta, porque em Portugal o progresso continua a ser igual a vias rápidas, acabaram de abater a árvore mais magnífica de todo o quarteirão, quando no resto do mundo civilizado (expressão etnocêntrica, sem dúvida) não poupariam esforços para a salvaguardar da furiosa presença humana. Também tenho andado algo contemplativo, e talvez seja aqui que me tenha detido mais tempo, a radiografar este Outono. Os meus sogros chegaram. Tá na hora de ir fazer sala. A novela continua depois do intervalo.
A terminar, destaco ainda a intervenção final do dia, da autoria de Pedro Vasconcelos, sociólogo da casa que já conhecia de outras andanças do género (chegou a moderar um pequeno painel de que eu próprio fiz parte num encontro de sociologia sobre género e sexualidade). Com um pensamento complexo e evocando um turbilhão de argumentos em catadupa, procurou argumentar que assistimos actualmente a uma desinstitucionalização do casamento (a expressão é dele), através de uma elaborada dinâmica feita de rupturas, algumas mais subtis, outras mais visíveis, mas também composta de continuidades. O resultado é uma transformação desta realidade enquanto prática que se reproduz enquanto instituição, assumindo primazia neste processo a progressiva individualização a que assistimos neste momento da modernidade (tardia, reflexiva ou radical, consoante as perspectivas). Aparentemente, o que presenciamos é antes uma espécie de institucionalização do indivíduo enquanto entidade primordial em detrimento do colectivo, o que se coaduna com a tal concepção do direito moderno do casamento como junção de duas vontades. Tal parece traduzir-se numa mutação essencial de um tipo de casamento institucionalista para um modelo de casamento individualista, que se aproxima, nos seus fundamentos, daquilo que Giddens apelidou de relação pura (o que importa é o que cada um retira da união, e esta é válida enquanto o resultado do jogo quase hedonista entre os dois elementos é positivo e equilibrado, sendo os termos desse jogo permanentemente reavaliados e repropostos).
REF.: Transformações da Intimidade, de Anthony Giddens (1995). Oeiras: Celta.
As conclusões são assumidamente parciais e poderão não corresponder totalmente ao conteúdo das intervenções. Queria só tentar arrumar as minhas próprias ideias e digerir toda a informação, mas parece que o inevitável aconteceu: as ideias ficaram desarrumadas, e agora resta-me seguir o seu rumo. O que é óptimo sinal.
Seguiu-se Miguel Vale de Almeida, actualmente a desenvolver um trabalho de pesquisa comparativa precisamente sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, com trabalho de campo já desenvolvido na Catalunha. Começou por destacar a especificidade deste tipo de reivindicação, que parece assumir, aos olhos de muitos, um carácter não revolucionário, mas sim integracionista. Viajou então entre o conjunto de discursos pró e contra, agrupando alguns como conservadores, outros como progressistas e ainda como radicais, vincando que os mesmos podem emergir de contextos socialmente heterogéneos. Ressalvou também que o próprio discurso antropológico se encontra atravessado por formas de reprodução simbólica da matriz heterossexual e como tal deve ser ele próprio analisado criticamente. Finalizou com excertos deliciosos e eloquentes de testemunhos de casais entrevistados, recolhidos pouco antes de sair no país vizinho a lei que alargava o direito do casamento civil a toda a população. Este era de resto um autor que já adoptara um posicionamento sui generis no mapa das ciências sociais em Portugal, ao estudar práticas de sociabilidade masculina no Alentejo e ao envolver-se activa e publicamente na causa LGBT e noutras demandas da modernidade radical...
Ref.: poderão espreitar alguns textos em http://valedealmeida.no.sapo.pt/off.pdf
Após um almoço bem servido na cantina de Matemática, na companhia dos camaradas da ILGA e do próprio Borrillo, disponível e simpático para todos, regressamos à complicada arquitectura do ISCTE. Lígia Amâncio, autora com um longo percurso na área do género, relembra a contradição presente dentro da própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento aparentemente assexuado, no registo do ser humano como entidade individual, com a excepção importantíssima e sintomática do artigo 16º, onde se fala do direito à união de um casal, aqui necessária e especificadamente um homem e uma mulher. Para Lígia, este exemplo constitui uma demonstração eloquente de como o casamento se apresenta ainda como o núcleo duro da ordem de género.
Logo depois, um empolgado e empolgante João de Pina Cabral, antropólogo de quem me lembro de ter lido uns textos, dissertou acerca da forma como o próprio discurso dos antropólogos contribuiu para uma leitura naturalizante do casamento, classificando os modelos não normativos (leia-se não ocidentais) como desvios ou desafios à funcionalidade social. No pós-guerra, inúmeros trabalhos de campo contribuem para um novo confronto com a alteridade, tal como no Renascimento, despoletando um processo de desnaturalização desta instituição, em paralelo com um processo concomitante de ‘estranhamento’ das culturas cujo regime de género e matrimonial se apresentava como distinto do quadro de referência europeu e norte-americano dos investigadores (a inflamada intervenção, enquadrável numa espécie de sociologia da antropologia, pareceu deixar o orador fisicamente esgotado).
Ref.: Aprender a ser Homem, de Lígia Amâncio (org.)(2004). Lisboa: Livros Horizonte
Amealhando algumas horas de trabalho extra e adiantando serviço de final da semana, consegui reunir condições para me deslocar a Lisboa, para aquele que prometia ser um momento importante de encontro de reflexão e de visibilidade sobre a reivindicação do casamento civil para pessoas do mesmo sexo. Num primeiro painel, a que já cheguei atrasado, tive o privilégio de assistir a uma desconcertante e desafiante apresentação de Daniel Borrillo sobre aquilo que entende ser uma “nova etapa da modernidade política e jurídica”. Com uma linguagem para mim nem sempre acessível (sempre tive dificuldade em penetrar no idioma jurídico) fez uma pequena resenha histórica acerca questões legais em torno do matrimónio, destacando a sua concepção perante o direito moderno como uma comunhão de vontades, passando então para a sua reivindicação por parte do movimento gay e lésbico. Destacou aqui a questão da SIDA enquanto fenómeno que despoletou a necessidade de um alargamento da protecção legal, em relação a questões como a propriedade comum ou mesmo a assistência ao parceiro enfermo. Para Borrillo, o que temos vindo a assistir em termos de descriminalização e de concessão de direitos para casais de pessoas do mesmo sexo é algo que se situa ainda no registo da tolerância, ao passo que o casamento se inscreve já no plano do reconhecimento pleno da igualdade e da legitimação da sexualidade, constituindo, como tal, uma radicalização da modernidade e despoletando muito maiores resistências. Tal como o movimento feminista, que provocou uma ruptura entre a sexualidade e a reprodução, o movimento gay e lésbico poderá implicar, no âmbito da homoparentalidade, uma nova ruptura, desta feita entre reprodução e filiação (existe a necessidade de reconhecimento de estatuto de filhos biológicos que não pode passar apenas pelo regime de adopção).
Ref.: Homofobia, de Daniel Borrillo (2001). Barcelona: Edicions Bellaterra
Homem ou mulher, eu amo quem quiser!
"O namoro entre duas alunas da Escola Secundária de António Sérgio, em Gaia, foi proibido por uma funcionária e abriu um conflito entre estudantes e docentes responsáveis. O caso até poderia passar despercebido se não fosse denunciado durante um debate, sobre homofobia, realizado, há dias, dentro da própria escola. (...)
Nunca se questionaram os namoros dentro da escola até agora. Os beijos e abraços não são proibidos no Regulamento Interno e trocar carinho não é faltar ao respeito". A frase, dita por Rita, membro da Associação de Estudantes, merece assentimento dos oito estudantes que foram formando uma roda à porta da escola. "Respeito é aceitar as opções sexuais de cada um", acrescenta Guilherme, líder do grupo por eleição.(...)
Nos rostos dos adolescentes nota-se desconforto, mal-estar. Mas a atitude é de coragem. Na hora de dizer os nomes, eles soltam-se das bocas sem receio. Rita, Guilherme, Alexandre, Luísa, Ana, Tiago, Jorge e Ana Luísa querem constar como na reportagem porque "defensores da liberdade de convicções".
"Ninguém gosta de ferir susceptibilidades. O que nos fere é saber que o amor entre duas alunas trouxe homofobia à escola. E ninguém pode dizer que o assunto era desconhecido. Antes da Associação de Estudantes saber, pelas próprias visadas, o que passava, o Conselho Executivo tinha falado sobre o caso, com as alunas, se bem que usando faltas como disfarce", diz Rita. (...)
"A nossa consciência ditou que não nos calássemos. A melhor forma de tratar o problema foi fazendo um debate. Houve autoritarismo da parte da funcionária que alega ter ficado chocada por ver as duas alunas aos beijos. Há, agora, autoritarismo ao proibir namoros dentro da escola e ao pôr professores a vigiar os alunos nos intervalos", afirma Guilherme. (...)"
JN, 08 de Outubro de 2005
Coisas que se explicam a si próprias
Uma idosa morreu em pleno lanche colectivo no centro de convívio, e no seu funeral apareceram os dez filhos que a abandonaram à sua sorte. Eu estava lá e vi.
Uma mulher desata a chorar desesperadamente numa entrevista, afirmando viver há cinco anos o pesadelo de um homem que a persegue a ela e ao marido, e que tem fama "desculpe lá, senhor doutor, de ser paneleiro". Eu estava lá e ouvi.
Num espaço novo mesmo em frente ao Douro e ao lado da Igreja de São Francisco, chamado Clube Literário do Porto, um jovem pianista de nome russo entrega-se a dois andamentos arrebatadores de Rachmaninov no piano-bar, em frente a meia dúzia de previlegiados que apenas se lembraram de lá aparecer para beber um copo e vasculhar as prateleiras. Eu estava lá e vivi.
Podem duas almas distintas partilhar casa e cama?
Cá vão os meus resultados, que nestes testes valem sempre o que valem. Admito que fiquei supreendido por me rever em boa medida nos resultados, mas sinto que isto é pouco distinto de que me leiam o horóscopo e acertem no que eu acabei de dizer por outras palavras.
trait snapshot:
clean, organized, regular, self reliant, tough, positive, high self control, very good at saving money, dislikes chaos, resolute, realist, trusting, hard working, dislikes unpredictability, prefers a technical specialized career, not worrying, respects authority, enjoys leadership, finisher, normal, optimistic, controlling, prudent, modest, adventurous, does not like to be alone, intellectual, likes the unknown, very practical, high self esteem, assertive, perfectionist, busy, altruistic
Advanced Global Personality Test Results
|
personality tests by similarminds.com
PS: a resposta à pergunta para já parece ser: sim!
A falta de sono dá-nos para isto...
trait snapshot:
clean, secretive, does not make friends easily, observer, hates large parties, risk averse, perfectionist, reclusive, solitude loving, more practical than abstract, does not like to stand out, high self control, intellectual, mind over heart, very cautious, takes precautions, respects authority, irritable, emotionally sensitive
Advanced Global Personality Test Results
|
personality tests by similarminds.com
(via Single White Male)
É claro que os resultados sairam deturpados porque não percebi algumas das afirmações do questionário... O meu inglês não é lá muito famoso...
Todos à Collectus!
Hoje abre a Collectus, na Travessa de Cedofeita. Vamos lá fazer as compras de Natal?!
Apontamentos da mente
Há duas coisas com as quais nunca soube lidar muito bem. Uma é o facto de ter de comprar ou receber alguma coisa nova: fico sempre com um sentimento de culpa porque visualizo logo um planeta engolido por uma camada de lixo cada vez maior de dia para dia. Também me cruza o pensamento aquela visão budista de que nunca chegamos na realidade a possuir nada, e que somos apenas uma entidade de passagem a arrendar um corpo que não nos pertence. Ou então aquela música do Gilberto Gil, que diz que "as coisas não tem paz". Por outro lado, também nunca me consegui integrar em equipas: ser português, ser jovem, ser tripeiro, ser sociólogo, ser homossexual, ser homem... nunca foi para mim. E fico pasmado cada vez que realizo a facilidade com que se acredita nestas ficções.