Coisas da vida

Uma amiga queixou-se de que lendo a orquídea fica a saber o mesmo sobre as minhas andanças, porque me dá para lançar bitates sobre isto e sobre aquilo e não contar coisas da vida. Ora bem, cá vai um ponto de situação: depois das férias, regressei carregado de energia, mas para fazer tudo o que não tinha a ver com trabalho. A ver se me faço entender. Continuo a adorar a minha profissão, mas é difícil manter a chama da paixão acesa quando ela nos suga quase todas as nossas energias e nos regula autoritariamente o tempo. Nos interstícios, apenas tenho conseguido lamuriar-me sobre os trabalhos que não fiz para a faculdade, actividade em que perco mais tempo e energia do que necessitaria para realmente os produzir. Acabei de saber que consegui ficar com o orientador que tinha escolhido, e vou-me encontrar com ele na próxima segunda não com as mãos a abanar, mas encostadas à cabeça, em expressiva encenação de angústia que tenho ensaiado repetidas vezes ao espelho. O meu professor chama a isto diferir a ansiedade (que em português prosaico quer dizer arranjar desculpas esfarrapadas). Esta semana concretizei uma ideia já muito antiga, a de comprar uma Vespa. Simplesmente ando tão atarantado que ainda nem consegui andar com ela, apenas projectar um magnífico post em que ela vai iria aparecer em todo o seu esplendor. Aqui na Praceta, porque em Portugal o progresso continua a ser igual a vias rápidas, acabaram de abater a árvore mais magnífica de todo o quarteirão, quando no resto do mundo civilizado (expressão etnocêntrica, sem dúvida) não poupariam esforços para a salvaguardar da furiosa presença humana. Também tenho andado algo contemplativo, e talvez seja aqui que me tenha detido mais tempo, a radiografar este Outono. Os meus sogros chegaram. Tá na hora de ir fazer sala. A novela continua depois do intervalo.

1 Comentário:

  1. Anónimo disse...
    eu não me queixei, comentei , pois o tempo não dá para tudo (e a minha casa alugada tb não) e por isso quando cá venho é para saber coisas e como já há muito não sabia essas coisas, referi-o en passant. quando pões aqui uma fota da vespa? para morrermos de inveja? e q árvore é essas que nos cortaram sem ruído? depois do pinheiro manso da avenida, tão criminosamente erradicado, ainda havia árvores em gaia? subscrevo o teu "Continuo a adorar a minha profissão, mas é difícil manter a chama da paixão acesa quando ela nos suga quase todas as nossas energias e nos regula autoritariamente o tempo. " e acrescento , quando a minha se tornou no capacho onde toda a sociedade parece querer limpar os pés. a verdade é que somos uns bons capachos - não tugimos nem mugimos. e a metáfora bovina é bem apropriada... já tou outra vez a pensar mudar de vida, o meu reino não é desta profissão, ao que parece. para quê tanto esforço e sacrofício , se depois me sinto achincalhada e vilipendiada por essa comunicação social e por esse governo torpes e sem tomates para fazerem as coisas que devem fazer como devem fazer? ass: angry-not-so-young-woman
    p.s. beijos, meus amores

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