A terminar, destaco ainda a intervenção final do dia, da autoria de Pedro Vasconcelos, sociólogo da casa que já conhecia de outras andanças do género (chegou a moderar um pequeno painel de que eu próprio fiz parte num encontro de sociologia sobre género e sexualidade). Com um pensamento complexo e evocando um turbilhão de argumentos em catadupa, procurou argumentar que assistimos actualmente a uma desinstitucionalização do casamento (a expressão é dele), através de uma elaborada dinâmica feita de rupturas, algumas mais subtis, outras mais visíveis, mas também composta de continuidades. O resultado é uma transformação desta realidade enquanto prática que se reproduz enquanto instituição, assumindo primazia neste processo a progressiva individualização a que assistimos neste momento da modernidade (tardia, reflexiva ou radical, consoante as perspectivas). Aparentemente, o que presenciamos é antes uma espécie de institucionalização do indivíduo enquanto entidade primordial em detrimento do colectivo, o que se coaduna com a tal concepção do direito moderno do casamento como junção de duas vontades. Tal parece traduzir-se numa mutação essencial de um tipo de casamento institucionalista para um modelo de casamento individualista, que se aproxima, nos seus fundamentos, daquilo que Giddens apelidou de relação pura (o que importa é o que cada um retira da união, e esta é válida enquanto o resultado do jogo quase hedonista entre os dois elementos é positivo e equilibrado, sendo os termos desse jogo permanentemente reavaliados e repropostos).
REF.: Transformações da Intimidade, de Anthony Giddens (1995). Oeiras: Celta.
As conclusões são assumidamente parciais e poderão não corresponder totalmente ao conteúdo das intervenções. Queria só tentar arrumar as minhas próprias ideias e digerir toda a informação, mas parece que o inevitável aconteceu: as ideias ficaram desarrumadas, e agora resta-me seguir o seu rumo. O que é óptimo sinal.
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