(re)Visto


The Maltese Falcon, do John Huston, que também assina o argumento, e com o Humphrey Bogart, o actor menos sexy mas com mais charme de todo o género do policial negro (chamado assim porque a acção se passava invariavelmente à noite, com um elaborado e quase expressionista jogo de sombras e luzes ténuas, que pareciam esconder mais do enredo do que os próprios protagonistas). Ainda não consigo perceber porque me continuam a fascinar estes filmes. São politicamente incorrectos, toda a gente fuma desalmadamente (é quase uma regra sine qua non do género). Os plots são machistas e misóginos: as mulheres ou são meros títeres, frágeis e submissas, ou então, claro, as más da fita. Nunca, sobretudo com Bogart ou Mitchum à mistura, parecem existir sentimentos genuínos, estes estão sempre subjugados por outros interesses (quase invariavelmente, interesse por dinheiro). E, contudo, dir-se-iam filmes subversivos e livres, sobretudo se pensarmos que aquela era a época da repressão de MacCarthy (contra o qual marcharam Bogart e a mulher, Bacall) e do famoso Código Hays. Talvez nunca mais olhemos para o cinismo da mesma forma, como expressão artística de uma malaise social.

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