Brincando ao planeamento
Por muitas vezes que o faça, acaba sempre por ser uma experiência radicalmente diferente. Ocasionalmente, convidam-me para dinamizar sessões sobre sexualidade no local onde trabalho. Os participantes, geralmente mulheres, são convidados antecipadamente a deixarem as suas questões anonimamente num qualquer recipiente, por isso quando vou para a coisa já sei mais ou menos o que me espera. No início todos estão numa pose hirta e desconfortável. A minha tarefa é descongelar o ambiente para que ninguém trema quando disser orgasmo, vagina, masturbação ou lésbica. Pensando bem, essa é a tarefa toda, tendo em conta que a audiência é composta às vezes por mulheres que foram agora à primeira consulta de ginecologia da sua vida (uma até desmaiou quando o médico entrou no consultório onde ela já estava de peito descoberto) ou que pensam que a "monopausa" é uma doença e a homossexualidade uma espécie de maldição repelente. Contas feitas, saímos de lá todos amigos e distribui-se o material que se consegue arranjar, mas fico sempre com a sensação que quando chegarem a casa vão guardar aquela sessão só para si, como se tivessemos partilhado um grande segredo colectivo. Talvez seja já uma conquista.